17 de abril de 2024

O jornalismo em Portugal até ao 25 de Abril de 1974

 


Desde a fundação da nacionalidade que houve dispositivos pré-jornalísticos em Portugal, como as crónicas e as cartas. Na segunda metade do século XVI começaram a ser editadas folhas noticiosas ocasionais de temas variados. O século XVII trouxe a Portugal a novidade do jornalismo periódico. Em 1641, graças à necessidade de propagandear a Restauração da Independência, começou a circular no país o primeiro jornal periódico português: a Gazeta.

Entre 1760 e 1762, a Gazeta de Lisboa passou a seguir uma orientação ainda mais administrativa, fornecendo a primeira matriz em que se viria a fundar, futuramente, o diário oficial português, atualmente designado Diário da República.

O início do século XIX foi também o período em que a Europa mergulhou na aventura napoleónica. O Rio de Janeiro tornou-se a capital do Reino de Portugal, do Brasil e dos Algarves.  

A maioria dos periódicos que apareceu em Portugal durante as invasões francesas era de natureza estritamente noticiosa, publicando notícias sobre a guerra peninsular traduzidas de periódicos espanhóis e ingleses.

Durante o período de instabilidade política e de rebeliões que agitou Portugal após 1822, tornou-se inconstante a velocidade a que apareciam, anualmente, novos periódicos.

As eleições de 1848 reconduziram Costa Cabral ao poder. O governo cabralista apresentou, logo nesse ano, um projeto de lei que restringiu a liberdade de imprensa. Embora duramente criticada por cidadãos-jornalistas como Alexandre Herculano e Almeida Garrett, a nova legislação foi promulgada a 3 de agosto de 1850, tendo ficado popular e simbolicamente reconhecida por Lei das Rolha.

Começaram, então, a reaparecer em Portugal jornais populares noticiosos, direcionados para toda a sociedade, com meios técnicos e financeiros que propiciavam grandes tiragens. Inaugura-se, em Portugal, a fase de jornalismo industrial que dará a matriz para os tempos vindouros.

O primeiro número do Diário de Notícias surgiu a 29 de dezembro de 1864.

O sucesso dos jornais noticiosos generalistas “industriais” obrigou alguma imprensa a adaptar-se à nova situação reorientando a sua linha editorial.

No final do século XIX (e até final da Monarquia), a liberdade de imprensa foi, novamente, cerceada em Portugal, passo a passo, pelos últimos governos monárquicos. O humilhante Ultimato inglês de 1890 contra as pretensões portuguesas de unir os territórios coloniais de Angola e Moçambique contribuiu para acirrar os ânimos contra a Monarquia.

A legislação da imprensa aprovada na fase final do período monárquico instituiu, de facto, um regime severamente repressivo da liberdade de imprensa.

Em junho de 1926 a Ditadura Militar entregou a pasta das Finanças a um jovem professor de economia política na Universidade de Coimbra, António de Oliveira Salazar. Este conseguiu equilibrar as contas públicas, em 1929, e acabou por tomar totalmente as rédeas do poder. Para assegurar definitivamente o novo regime, Salazar procurou dar-lhe uma base constitucional. Assim, em 1933, fez plesbicitar uma nova Constituição que pôs fim à Ditadura Militar e deu início ao Estado Novo.

A Constituição de 1933 dotou, assim, o Estado Novo de um instrumento jurídico que lhe permitiu a institucionalização da censura prévia.

 A censura à imprensa (que nunca tinha deixado de existir) continuou desta vez alicerçada na Lei Fundamental.

Os jornais enviavam três provas à Comissão de Censura da sua área, que devolvia uma delas com os carimbos “visado”, “autorizado”, “autorizado com cortes” (assinalados a lápis azul, competindo ao jornal decidir sobre a publicação das notícias parcialmente cortadas), “suspenso” (conteúdos a aguardar decisão superior), “retirado” ou “cortado” (proibição absoluta de referência ao assunto em causa). Os jornais, porém, não podiam deixar espaços em branco ou outros indícios de censura, embora pudessem colocar o aviso “visado pela Comissão de Censura”, na primeira página. Em algumas ocasiões, os Serviços de Censura davam instruções informais aos jornais. Na Guerra Colonial, as vítimas dos combates eram frequentemente referidas como tendo sido vítimas de acidentes de viação. As tentativas de insurreição também eram ou silenciadas ou enquadradas noticiosamente de maneira a favorecer o regime.

Com a morte de Salazar e a sua substituição por Marcelo Caetano, a censura amenizou-se. Porém, a intensificação da Guerra Colonial e dos protestos estudantis levaram o regime a suspender a política de abertura, o que conduziu ao endurecimento da censura.

As dificuldades para o jornalismo durante o Estado Novo não se limitavam à censura e a medidas repressivas como a suspensão da publicação por um determinado período, apreensão de exemplares, multas e mesmo a prisão para jornalistas, editores e vendedores.

Nos anos Sessenta alguma coisa mudou no panorama jornalístico português. Num mundo em mudança, O Primeiro de Janeiro, jornal de referência do Porto, bem como o Diário de Lisboa, o República e o Diário Popular, jornais da capital, conseguiram ser, de algum modo, vozes da oposição democrática ao regime, apesar de serem ultrapassados, em tiragens e circulação, pelo Século e pelo Diário de Notícias, formalmente independentes mas situacionistas,

O lançamento do semanário Expresso, em 1973, por setores da Ala Liberal (que mais tarde, após a Revolução de 1974, se aglutinaram no Partido Social Democrata), encabeçados por Francisco Pinto Balsemão, deu mais uma machadada no autoritarismo do regime sobre a imprensa, já minado por várias publicações clandestinas, como o jornal Avante, do Partido Comunista Português. O jornal oficioso do regime, subvencionado pelo Ministério do Interior, o Diário da Manhã, não tinha circulação significativa.

O triunfo da Revolução desencadeada pelo Movimento das Forças Armadas, no dia 25 de Abril de 1974, permitiu o restabelecimento da liberdade de imprensa em Portugal. Nesse mesmo dia, vários jornais já não foram à censura. Porém, a instabilidade política e o anarquismo social que se viveram no período pós-revolucionário não só colocaram o país perante o cenário catastrófico de uma guerra civil como também contribuíram para o desaparecimento de jornais históricos como o República e para a quase falência de outros, como O Primeiro de Janeiro.

A reconquista da liberdade, em abril de 1974, permitiu também que o telejornalismo se libertasse da censura institucionalizada e se aproximasse da realidade quotidiana das populações.

Até quase aos finais do século XIX, os jornalistas em Portugal, eram, essencialmente, cidadãos que escreviam para os jornais.

 Porém, no século XIX, em especial a partir de 1834, a situação modifica-se, passando os jornais a integrar mais colaboradores, surgindo as funções de editor e de chefe de redação. Para além disso, a qualidade do jornalismo nacional elevou-se devido à colaboração com a imprensa de intelectuais e escritores como Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Aquilino Ribeiro e Ferreira de Castro. No entanto, foi lenta e gradual a transformação profissionalizante dos “cidadãos jornalistas” e “escritores de jornal” em jornalistas profissionais.

Em 1974, a Revolução de Abril trouxe com ela a liberdade de expressão e de imprensa e colocou Portugal na lista dos Estados de Direito que têm uma conceção liberal do jornalismo.

Fonte: “Uma história do jornalismo em Portugal até ao 25 de Abril de 1974”, Jorge Pedro Sousa (Universidade Fernando Pessoa e Centro de Investigação Media & Jornalismo).

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 15-04-2024)

 


10 de abril de 2024

SEM O 25 DE ABRIL MUITOS NÃO SALTAVAM PARA A RIBALTA POLÍTICA


Muito já escrevi sobre esta memorável data para várias publicações. Por vezes torna-se difícil encontrar tema com desenvolvimento daquilo que vai no meu âmago, evitando repetições. Vou procurando no baú das memórias. Há dez anos, mais precisamente em 8 de abril de 2014, para este mesmo Semanário, lá ia mais um artigo alusivo sob o título “Do 25 de Abril desfigurado à prescrição”.

Vivi um ciclo de vida de 28 anos em ditadura. Como muitos. Outros ainda em períodos mais dilatados. Fazia pela vida. Tempo de penúria para alguns. E até de dificuldades de ter de comer o pão que o diabo amassou para outros, que não eram poucos.  Optei por continuar os estudos em conjunto com uma profissão. Aos 17 anos iniciava funções ao serviço da edilidade covilhanense. Progredi na carreira possível da altura até que me chamaram para o serviço militar obrigatório. 42 meses. Terminado este, dou o fora para o privado. Neste período ditatorial, os funcionários municipais não tinham direito a assistência médica. Nem a minha Família que, entretanto, constituíra. O sistema de saúde designado ADSE, criado em 1963, não funcionava. Só no papel. Hoje é uma benesse para muitos em desfavor de outros, considerados portugueses de segunda. Muito haveria que falar sobre os sistemas de saúde na portugalidade.

A trabalhar no privado, casado e com dois filhos, e necessitando dos normais cuidados de saúde, toca de desembolsar das algibeiras, sem retorno. Era necessário agora a inscrição no regime geral da Segurança Social. Mas havia um mas…  Tal como na edilidade covilhanense não tinha direito a assistência médica, também agora, no início do trabalho no privado, em terras do Côa, para lá do Sabugal, só funcionavam os direitos após um ano de contribuições para o Estado Novo.  Continuava a ser um português de segunda, embora já anteriormente tivesse sido um português de terceira.

Eram então os meus 26 anos, com um vencimento que dobrava o que usufruía na Câmara Municipal. Mas não estava habituava a viver numa aldeia, fora da família. Começam então os efeitos psicológicos.  Depois de provas escritas anteriormente efetuadas no BNU, em Lisboa, chamam-me para me apresentar em Setúbal. Desisti. Valeu a pena porquanto em 01 de junho de 1973 assumia as funções de gestor comercial com escritórios na Covilhã, duma seguradora multinacional, passando posteriormente a exercê-la duma forma empresarial. Foi o volte-face da minha vida, até aos dias de hoje.

Nos meus 28 anos, apanha-me o 25 de Abril a trabalhar com grande fulgor. Surgem períodos conturbados, outros de oportunistas, outros de não olharem a meios para atingir os seus fins. Mantive a minha linha de conduta, que me deu prestígio. A vida profissional, em duas multinacionais, fez-me ganhar resmas de amigos, de tal forma que saí sempre pela porta maior.

A minha falta de recursos enquanto criança e adolescente, sem jamais passar férias fora da Terra onde nasci, nesta altura, levou-me ao gosto pela cultura, com a maior parte do tempo na passagem pela antiga Biblioteca Municipal, ao Jardim. Vim a escrever livros e centenas de notícias e crónicas, das quais mereci referência nalguns periódicos. Algumas, em tempo de ditadura, remetiam-me para um certo receio da censura quando via alguns conhecidos a serem alvo da perseguição pidesca a caminho da cadeia. Retirei-me da Oposição Democrática (CDE) quando vim a saber que o indivíduo que secretariava era informador da PIDE/DGS. Numa passagem de há sete anos pela Torre do Tombo, consultada a minha documentação, apenas constavam carimbos da PIDE, com a informação: “Nada consta”.

Com o 25 de Abril de 1974 vem surgir uma geração que não soube o que era passar pelos sacrifícios emanados dos períodos salazarista e marcelista, no atraso onde quase tudo faltava.

Só muito lentamente se consegue ir fazendo abortar oportunistas e desorganizações do PREC, o dissipar do medo dos fugidos para o Brasil e outras paragens, a habituação a uma outra forma de viver chamada DEMOCRACIA. Mesmo assim jamais deixou de haver ventos e marés.

E enquanto muitos que enfileiraram na década de 60 a caminho da emigração, famintos, mas que depois vieram tentando a garbosidade falante dum francês que jamais seria vernáculo, contruíram cá as suas casas, trouxeram dinheiro para o empobrecido País à beira-mar plantado.

Mas!... Cá estou eu com a mania das conjunções. Repito o que escrevi há 10 anos neste Semanário: “E, neste período, alguns petizes que mal palmilhavam os caminhos desta Terra de Santa Maria, iam crescendo, crescendo, e viriam a saltar para a ribalta da política, entre jotas, boys e girls para hoje nos (des)governarem, com beijos e abraços na ‘catedral’ de S. Bento e suas traseiras”.

Pois é, quando há 50 anos vivi a Revolução dos Cravos, como tantos Covilhanenses e Portugueses, acordados por um sonho lindo, nem sequer passava pela minha cabeça que a nova vida nos haveria de mostrar uma face de grandes dificuldades, que, no entanto, também foi contrastando com outras de grande júbilo e esperança dum Portugal melhor. É nesta última vertente paradoxal, para qual todos devemos estar virados.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 10-04-2024)

 

5 de abril de 2024

VAMOS COMEMORAR O INEQUIVOCÁVEL DIA DA LIBERDADE

 


Esta é uma efeméride memorável para os portugueses, causa que corresponde a meio século de democracia.

Só quem passou pelos negros tempos da ditadura, sabe avaliar o quão importante é esta data.

Foram longos períodos de sofrimento, anos, que muitos dos que hoje se aproveitam dos momentos que correm de liberdade, esta que eles jamais souberam apreciar, comparativamente com guerras fratricidas entre portugueses, sem distinguir cores, não sabem, ou não querem saber do que falam da intimidade daqueles tempos vividos na miséria em vários quadrantes.

Há dois anos, mais precisamente no dia 23 de março de 2022, foi o dia em que o tempo vivido em democracia se equiparou ao tempo em que os portugueses viveram em ditadura, ou seja: 17.499 dias. Penso já ter falado deste assunto.

Naquela data, a jornalista do Público, Leonete Botelho, titulava o seu artigo: “50 anos do 25 de Abril: uma cápsula do tempo que se fecha e outra que se abre”. “Hoje é o dia em que vivemos tanto tempo de democracia como Portugal viveu em ditadura durante o Estado Novo. E o dia em que começam as comemorações oficiais dos 50 anos da Revolução do Cravos, com um programa em construção e os olhos postos no futuro”.

Os 60 anos da crise académica de 1962, quando o Estado Novo proibiu as Comemorações do Dia do Estudante, comemoraram-se também há dois anos, no dia 24 de março. Aquele que chegara a ser um dos Presidentes da República em Portugal, em democracia, Jorge Sampaio, que já não se encontra entre nós, e fora então líder estudantil à data, afirmara: “o 25 de abril começou a 24 de março”. Foi por isso que nesta data (24 de março de 2022) arrancaram as comemorações oficiais dos 50 anos do 25 de Abril e “será fechada uma cápsula do tempo com memórias de hoje, que só deverá ser aberta a 25 de abril de 2074, no centenário da Revolução dos Cravos. Mas se uma cápsula se fecha, outra se abre, a das memórias”.

Foi em 2022 que houve a oportunidade de se comemorar uma caterva  de eventos gerados em tempos da ditadura: os 50 anos da publicação de Novas Cartas Portuguesas, das “três Marias”, assim como do Portugal Amordaçado, de Mário Soares, e ainda Dinossauro Excelentíssimo, de José Cardoso Pires. Mas foi também o cinquentenário da Vigília da Capela do Rato e do massacre de Wiriamo, no qual tropas portuguesas, a mando do Estado português, mataram pelo menos 385 pessoas daquela aldeia moçambicana.

No dia 3 de abril de 2024, uns dias antes do grande acontecimento em que Salgueiro Maia – o capitão que comandou a coluna de blindados que desceu de Santarém para vir cercar os ministérios no Terreiro do Paço, que fez o ultimato a Marcelo Caetano e o levou à rendição perante o general Spínola, e depois escoltou o então presidente do Conselho até ao aeroporto de onde partiu para o exílio, tudo sem disparar um tiro, tendo assim  o seu forte contributo para acabar com a ditadura em Portugal, passarão 32 anos da sua morte.

Esperemos que estas Comemorações, com os programas há muito delineados, sejam revestidas não só do brilhantismo que merecem mas principalmente de verdadeiros momentos de patriotismo, agora que já se realizaram as novas eleições antecipadas para a Assembleia da República, em que vai haver momentos nada fáceis para levar o navio a navegar por águas tranquilas. Mas, entre ventos e marés, tenhamos fé.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

  • (In “O Olhanense”, de 01-04-2024)

18 de março de 2024

JOÃO DE DEUS (1830-1896)

 


Dou hoje por findos alguns textos sobre a vida de vários dos nossos principais escritores, baseando-me na História da Literatura Portuguesa – Século XIX – XX.

Escrevo esta crónica no dia seguinte à realização das eleições legislativas para a composição da Assembleia da República. Chegará a altura em que o novo governo saído destes eleições fará o seu juramento da praxe, na sua tomada de posse: “juro, por minha honra, que cumprirei com lealdade as funções que me são confiadas”. Também eu o fiz, noutras ocasiões, mas por escrito, que era mais uma declaração que um juramento, na qualidade de funcionário duma Câmara Municipal, mas em tempos de ditadura (anos 60 do século XX), se é que queria emprego ou então levava um pontapé no rabo. Deduz-se que os investidos, sejam eles o cantoneiro, o diretor-geral ou o ministro são pessoas de bem. Todos optam por servir-se do Estado.  Ao longo da estrada, quando o pó começa a tirar a graxa aos sapatos, por vezes surgem os imponderáveis. Esperemos que os exemplos que pesaram agora nas decisões desta votação, contrariamente ao esperado, possam avivar a memória do que é honrar a Pátria e ser um exemplo clarificador da inexistência de contradições, oportunismos e mal-entendidos.  

Mas vamos então falar de João de Deus. Nasceu em S. Bartolomeu de Messines, no Algarve. Primeiros estudos na sua terra natal, em 1849, para depois se matricular na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Por ali andou dez anos a tirar um curso que normalmente se tira em cinco. Formou-se em 1849, ficando em Coimbra mais três anos. Foi nessa altura que se relacionou com moços que depressa viriam a ser glórias das letras nacionais: Antero, Eça de Queirós, Teófilo Braga, Alberto Sampaio. De 1862 a 1864 entregou-se ao jornalismo em Beja. Passados quatro anos, foi eleito deputado pelo círculo de Silves. Entretanto, foi-se tornando popularíssimo e a sua poesia era considerada como um soluçar de alma da Nação. Em 8 de março de 1895, a mocidade académica de Lisboa envolveu-o numa carinhosa e significativa homenagem, que teve foros de consagração nacional. Morreu em 11 de janeiro de 1896.

João de Deus deixou-nos estas duas obras: Cartilha Maternal (1876), e Campo de Flores (1893).

João de Deus escreveu esta obrazinha – “Cartilha Maternal” – para as crianças aprenderam a ler. As Cortes declararam-na método nacional em 1888. Foi o livrinho acarinhado por muitas pessoas, entre as quais D. Carolina Micaelis; mas também alvo de ataques verrinosos, que, em prosa e verso, o autor pretendeu neutralizar.

Com a ajuda de Teófilo Braga, compilou João de Deus todas as suas poesias, em parte já publicadas, e reuniu-as juntamente com uma peçazinha de teatro numa obra a que deu o romântico título de Campo de Flores.

João de Deus só cantou o que sentia na alma como autenticamente seu. É natural que ficasse impressionado com leituras da Bíblia, de Dante e de Petrarca, de Camões e de Tomás António Gonzaga, até mesmo de Vítor Hugo. Mas estes poetas não exerceram no seu estro outro influxo que não fosse o tornar conscientes as preocupações do seu mundo íntimo, talvez pouco variado e pouco complicado, mas precioso e delicadíssimo: o amor, a religião, a afetividade e a concórdia.

Confessa o poeta que tinha pelo tema do amor uma inclinação quase doentia, que o amor era para ele uma espécie de ideia fixa. E ninguém como ele, depois de Camões, fez vibrar o encantamento do amor em melodias tão suaves e tão espirituais.

Todavia, o amor em João de Deus não é uma pura abstração. Quase todos os seus poemas eróticos se exprimem na segunda pessoa. Quer dizer que são diálogos com supostas amadas. Mas o poeta ignora o amor sensual; não desfere tons de carnalidade como José Anastácio da Cunha e Garrett. A mulher que canta é a mulher-anjo; e o amor de que ela é objeto é o amor-adoração.

A mulher surge na poesia de João de Deus retratada sobretudo através das qualidades morais: “graça aérea, pureza, ingenuidade, timidez, candura, quanto há de frágil e delicado”

João de Deus não se notabilizou pelo arrojo das imagens, como Herculano e Soares de Passos, por exemplo. A sua natural simplicidade satisfez-se com figuras vulgarmente poéticas. As metáforas que usa, se bem que delicadas, são muito repetidas. Carrega-as, porém, de expressividade, uma vez enfiando-as em ladainha, outras vezes colocando-lhes ainda por cima atributos.

Repare-se na enumeração anafórica das metáforas com que nos dá a ideia da fugacidade da vida – dia, ai, sombra, nuvem, sonho, fumo, flor, sopro, estrela cadente, pena caída:

A vida é o dia de hoje, /a vida é ai que mal soa, /a vida é sombra que foge, /

a vida é nuvem que voa;/a vida é sonho tão leve/que se desfaz como a neve/

e como o fumo se esvai:/a vida dura um momento, /mais leve que o pensamento, /

a vida leva-o o vento, /a vida é folha que cai! / A vida é flor na corrente, /

a vida é sopro suave, /a vida é estrela cadente, /voa mais leve que a ave. /

Nuvem que o vento nos ares, / onda que o vento nos mares/uma após outra lançou:

a vida, pena caída/ da asa de ave ferida, / de vale em vale impelida,

        a vida o vento a levou!  (A Vida)   

Se bem notámos, o dia é de hoje, o ai mal soa, a sombra foge, a nuvem voa, etc., o que torna a ideia de brevidade, inerente às imagens, de uma expressividade ímpar.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 15-03-2024)

 

 

 


13 de março de 2024

A EXCELÊNCIA DA AMIZADE NA MARCA DA PERENIDADE

 

Muitos dos meus sonhos se realizaram, no caminhar dos anos que vão remanescendo da minha vida. Alguns pularam e avançaram no tempo. Dou graças a Deus por isso. Com assustadora frequência, vou tendo notícias de antigos colegas e amigos, com quem partilhámos convívios, estudos, trabalhos e amizades, que vão partindo. Por isso, dos ventos e marés que também aconteceram nos nossos caminhos, não me interessa recordar as partes intempestivas, que pretendo sejam esgotadas no véu do esquecimento.

Foi no êxtase da minha vida profissional, em Lisboa, ano da graça de 2003, já com três décadas de profissão do mesmo âmbito, num tempo em que estávamos a passar com os meus companheiros de jornada as “passas do Algarve”, numa multinacional dum grupo suíço que já foi à vida, hiperbolicamente falando, e uns quantos oportunistas de má memória, que encontrámos uma Figura portuguesa desconhecida, mas, paradoxalmente, de relevo mundial, simpática, que nos vinha liderar sob a batuta duma multinacional americana.

Como os meus Colegas não avançavam expondo as preocupações do momento, sou eu próprio que assumo a responsabilidade de me dirigir a essa Figura incontornável, e de a ter interpelado sobre “as novas” para a novel empresa que se apresentava revestida de enorme fulgor. Encontrávamo-nos no salão nobre do hotel em Lisboa, de pé, apinhado de gentes da nossa gente – centenas de antigos Colegas do País, ávidos de saber algo do destino que nos cabia duma atividade dinâmica e altamente concorrencial. Daí que, o grande líder da multinacional que passaria a ser o CEO e Presidente da Liberty Seguros em Portugal – Dr. José António de Sousa, sentiu, na atitude por mim tomada, que vínhamos dum ceticismo latente da empresa anterior, e que, por isso, as promessas que faria naquele momento seriam de enorme responsabilidade. Passada a ocasião e formulada a promessa para a data anunciada, logo de vários pontos do País, nessa mesmíssima data, alguns Colegas me telefonaram para saberem se o cumprimento da palavra da dita pessoa, ainda   quase um desconhecido, se confirmara, visitando-me na Covilhã, e, desta forma, poderem ainda “tirar nabos da púcara”. Na confirmação daquele escrupuloso cumprimento, foi um volte-face nos descontentes. Considerou o Dr. José António de Sousa que aquele 13 de junho de 2003, na sua visita às instalações da Covilhã, então sob a minha responsabilidade, seria traduzido num ato histórico para a Seguradora em Portugal.

Ficou o compromisso verbal de todos os anos ser celebrado entre nós, e o grupo de trabalho direto, um almoço comemorativo neste dia e mês.

Então várias ações se desenvolveram em prol da Covilhã e da Região, sem esquecer o patrocínio das três empresas tecnológicas em 2008, na criação do programa CRIAR 08.

Conhecedor da minha veia na escrita, não deixou de colaborar no patrocínio de todas as minhas obras, com saliência para a História dos Bombeiros da Covilhã e História do Sporting da Covilhã, entre outras. Mas o seu desafio neste domínio foi solicitar-me para escrever a História dos Seguros em Portugal, a qual já consta de muitos autores consagrados. Foi um aturado trabalho, incutindo-lhe um cunho inédito, para além de lhe inserir a história desde a sua génese no mundo a.C e d.C., saindo um ensaio sob o título “O Documento Antigo – Uma outra forma de ver os Seguros”. Pouco depois, ainda viria a lume “Da Montanha ao Vale”.

Mas, afinal, quem é José António de Sousa, com quem convivo mais um grupo de entusiastas da profissão, geralmente ainda no ativo, no periódico “Almoço dos Amigos”?

Da Revista Executiva, de 3 de janeiro de 2023, onde colabora, extraio alguns dados onde se vê a parte humana e íntegra deste Homem fantástico.

O gestor que liderou várias multinacionais na área dos seguros homenageia as mulheres que mais marcaram (e marcam) a sua existência. “Fizeram de mim o que sou. Um homem agradecido, de bem com a vida, e profundamente feliz”, afirma.

José António de Sousa acumula 42 anos de experiência de gestão de topo e de liderança (Geschäftsführer, Country Manager, Regional Manager, CEO, Presidente) em 3 multinacionais seguradoras e resseguradoras (Gerling-Konzern, Zurich Financial Services, Liberty Mutual) de relevo mundial (Fortune 100 companies). Depois de 15 anos como presidente e CEO da Liberty Seguros em Portugal, hoje é consultor independente de empresas e colunista da Executiva.

“Falar sobre as mulheres da minha vida é falar sobre a essência própria profunda, e a coluna vertebral de sustentação da minha vida, desde a sua ‘fundação’ até aos dias de hoje. Sem elas não estaria a escrever estas linhas em homenagem às mulheres que marcaram e fizeram aquilo que, para o bem e para o mal, sou e represento neste mundo. Desde a minha mãe Fernanda, falecida aos 97 anos, de uma vida feliz, bem vivida, em que repartiu amor e sorrisos por onde passava. Depois a Conceição, a mulher que me enche as medidas há 47 anos, pela qual continuo apaixonado como no primeiro dia da nossa jornada em comum, a companheira de uma vida, que me apoiou e acompanhou com carinho, amor e dedicação enquanto eu fiz carreira internacional no setor segurador para três multinacionais de relevo e muito exigente. A Conceição deu-me duas filhas maravilhosas, a Cristina e a Inês. Impossível fazer distinção entre qualquer uma delas em termos de amor irrestrito, e de paixão. Agora que a vida corporativa é já uma memória remota, e em que procuro partilhar conhecimento e ser útil à sociedade de forma interventiva e construtiva, como Consultor Independente, Mentor e Colunista, a chegada da minha neta Sofia em outubro de 2022, filha da minha filha Cristina, que teve aos 40 anos de idade, abanou de forma telúrica os meus alicerces de vida atual. Era a peça que faltava para completar o puzzle da minha vida.

As mulheres da minha vida determinaram (e continuam a determinar) a minha vida, e fizeram de mim o que sou. Um homem agradecido, de bem com a vida, e profundamente feliz”

Nos tempos que correm, que belíssima lição de vida deste Homem que é um génio, com o qual partilho o orgulho de sermos indelevelmente amigos e termos contribuído com coisas boas para a sociedade.

Contamos, certamente, encontrarmo-nos no próximo convívio de amigos, no reforço dessa amizade que há muito está no nosso âmago.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 13-03-2024)


8 de março de 2024

HOJE VAMOS FALAR DE JÚLIO DINIS

 


Neste terceiro mês do ano 2024, que agora se inicia, após o términus do ano bissexto, quis dar continuidade aos traços bibliográficos de alguns escritores portugueses de nomeada.

Assim, trago hoje para o Jornal O Olhanense:

JÚLIO DINIS(1839 – 1871)

Joaquim Guilherme Gomes Coelho era o seu nome. Júlio Dinis é pseudónimo. Passou quase toda a sua vida no Porto donde era natural. Ao mesmo tempo que fazia um curso brilhante na Escola Médica dessa cidade, entretinha-se a compor poesias e contos, que ia publicando n’A Grinalda e n’O Jornal do Comércio.

A mãe e dois dos seus irmãos morreram tuberculosos. Era um jovem médico. Sentiu também em si os sintomas desta terrível doença, e decidiu ir passar uma temporada de cura a Ovar, terra do seu pai, também médico. Foi aí que, pela primeira vez, Júlio Dinis pôde examinar o viver simples da gente provinciana. Concebeu então o plano d’As Pupilas do Senhor Reitor.

Voltou ao Porto, em 1865, publicou, entretanto, As Pupilas do Senhor Reitor (1867), Uma Família Inglesa (1868) e A Morgadinha dos Canaviais (1868).

Em 1869 fez uma cura de ares na Madeira. Experimentando algumas melhoras, retomou o trabalho na Escola Médica, mas em outubro do mesmo ano viu-se constrangido a regressar ao Funchal. Começou então a escrever Os Fidalgos da Casa Mourisca (1871), que não chegaria a ver em público. No ano anterior havia escrito Serões da Província (1870).

Cada vez pior, resolveu abandonar a ilha em maio de 1871 e veio para a Cidade da Virgem, onde faleceu, em 12 de setembro.

Os romances do infortunado médico supõem a política nacional assente numa certa estabilidade. Consideram arrumadas de vez na sombra de um passado longínquo as insurreições de descontentes ou de bandos armados e as revoluções contínuas das décadas de 1820 e 1840. É que, de facto, nos anos que vão de 1858 a 1870, dois partidos se revezavam pacificamente no poder: o regenerador e o progressista.

Nos romances de Júlio Dinis está patente ainda outra face da transformação económica de Portugal. Com a extinção dos direitos senhoriais e morgadios por Mouzinho da Silveira, muitos começaram a decair, enquanto os seus antigos feitores e caseiros, mercê de um trabalho duro e honrado, lhes iam comprando as terras. Foi o que aconteceu com Tomé da Póvoa, d’Os Fidalgos da Casa Mourisca.

Este nivelamento de fortunas deu automaticamente princípio a um nivelamento de classes, resultante de uniões matrimoniais entre fidalgos decadentes ou formados e plebeias ricas e bondosas e vice-versa. A Morgadinha casa com o Augusto, professor primário; Jorge, fidalgo da Casa Mourisca, une-se a Berta, filha de um antigo trabalhador do solar; a humilde pastora transforma-se em mulher do médico; a filha do guarda-livros desposa o filho do patrão.

Não se olvida também de assinalar a ascensão dos filhos do povo a lugares destacados na média burguesia. Lavradores ricos, como o José das Dornas d’As Pupilas do Senhor Reitor, enchem-se de esfusiante vaidade, quando um filho volta à aldeia formado em Medicina. Tomé da Póvoa tem legítimo orgulho da filha educada na cidade.

E no meio desta sociedade rural, em contínuo progresso, destacam-se o padre, o médico, o professor, individualidades que Júlio Dinis considera imprescindíveis pelo menos nos jantares das boas famílias da terra.

Pela Lei da Saúde, de 26 de novembro de 1845, foram proibidos em Portugal os enterramentos nas igrejas. O povo, porém, fez a princípio obstrução à aplicação da lei, visto não achar respeitosa a inumação dos mortos nos cemitérios.

N’A Morgadinha dos Canaviais, a propósito do enterro da pequena Ermelinda, podemos ver como os ânimos estavam exaltados por causa da quebra dessa tradição secular. Não fora a intervenção do velho e simpático cura e o cemitério ter-se-ia transformado num campo de batalha, após a invasão enfurecida dos frequentadores da taberna do Canada.

Sob outro aspeto muito diferente, é cómica e elucidativa uma conversa que o José das Dornas travou com o tasqueiro João da Esquina, a propósito da tese apresentada por Daniel na Universidade. Ali encontramos alusões ao transformismo e a outras “opiniões e teorias filosóficas mais ou menos em moda” no tempo do autor d’As Pupilas do Senhor Reitor. O diálogo entre os dois aldeões é de uma comicidade rara; mas com ele conseguiu Júlio Dinis dar ao romance um verniz de atualidade científica.

Se excetuarmos Uma Família Inglesa, que tem por ambiente a cidade do Porto, Júlio Dinis situou a ação das suas obras no meio rural de Entre Douro e Minho.

Porque melhor do que todos soube explorar o campo e os seus feitiços. Descreve com primor a paisagem e nela põe a vibrar toda a vida da aldeia, quer a vida de trabalho, quer a vida em família.

Mas há nisto um pouco de idealização. Júlio Dinis quis demonstrar que o campo é um manancial de saúde para o corpo e para o espírito.

Voltarei ao assunto com outros escritores.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 01-03-2024)


21 de fevereiro de 2024

UM TEMA PARA O MÊS DE FEVEREIRO

 

Não encontrei. Assoberbado com a arrumação do meu escritório, na base da eliminação de milhares de documentos que reputo já desnecessários, são dezenas de quilos de papel para o   Banco Alimentar. Aguardo também um novo PC já que não gosto de portátil. Esse encarrega-se de ser utilizado pela minha Mulher.

Felizmente que ainda vivo no tracinho com uma só data – a do nascimento. É trave-mestra onde a vida assenta, palco de alegrias e tristezas. Por isso, enquanto a outra data que se une ao tracinho não surgir, cá irei empenhar-me naquilo que eu mais gosto – a escrita.

Desta vez não desejo falar das reivindicações dos professores, dos médicos, das forças de segurança, dos agricultores, dos bombeiros, e de outros et ceteras. Muito embora me preocupe e revolte no sentido dos prós e dos contras. Nem mesmo das eleições antecipadas neste Portugal Continental e dos Arquipélagos dos Açores e da Madeira.  

Diz com profundidade José Paulo Fafe, in Tal & Qual de 8 de março de 2023: “Basta olhar para o plenário para perceber que o mesmo, salvo poucas e honrosas exceções, não passa de um ‘espelho’ de uma sociedade que insiste em nivelar-se por baixo, e premiar os que se dispõem a aceitar as regras de um jogo viciado, em busca de uns efémeros dois ou três minutos de fama.  Onde há 30 ou 40 anos tinha assento muito do melhor que existia na nossa sociedade. Hoje o Parlamento reúne o refugo e as sobras de um país que teima promover no seu seio não os melhores, mas apenas os que, à falta de outra coisa, encontram no exercício da política a sua ocupação principal, usando-a como trampolim e porta giratória para lugares que, de outra forma, não estariam ao seu alcance.”

Desbarata-se muito dinheiro neste Portugal de todos nós. Se há problemas com um Banco a caminho duma possível falência, logo se arranjam formas de encontrar o antídoto para o problema.  Se há despedimentos por incapacidades gestoras, ou chico-espertismo de indemnizações indevidas, abafa-se com apoios milionários. Descoberta a careca, surgem os problemas adicionais, com recursos tribunais, e por aí fora.

O depauperado povo português continua a não ser ouvido, ou só quando há eleições, para resolver a eliminação de fatores adversos ao que havia sido combinado, como o exemplo das SCUTS nas A23 e A25. E lá estou eu a entrar naquilo que acima prometi: não meter hoje o bedelho em determinados assuntos. Enfim, defeitos da peça.

Revolta-me o conhecimento que nos chega, quase no segredo dos deuses, dos milhões que António Costa doou às antigas Colónias, que brada aos céus. E até milhões para um museu de Angola, salvo erro. Bolas! Assim não! Esse dinheiro faz falta ao povo português.

Fica, para terminar numa parte humorística, um interessante acontecimento que o meu Amigo João Brás teve, indiretamente, com o seu vizinho de então, arquiteto José Guerra Tavares, na casa onde viviam perto do Campo das Festas (o João ainda lá vive).

Corria o ano de 1980. À porta do Senhor Arquiteto, certamente por ausência temporária do mesmo, alguém interessado nos seus serviços lhe deixou um galo, com as patas atadas, dentro dum saco de serapilheira, juntamente com outras coisas. Tudo bem, os vizinhos não se incomodaram com a encomenda que ficara ali durante a noite. Só que o galo, de madrugada, começou a cantar e não parava. Foi quando os vizinhos foram alertados para resolver a situação.

E, por hoje, bonda, como dizia a minha Avó, que ainda vinha da Pousadinha para pagar a décima nas Finanças da Covilhã. Até à próxima!

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 21-02-2024)