8 de abril de 2005

SUMOS PONTÍFICES

Quando esta crónica sair já se terá realizado o funeral do grande Papa João Paulo II. Todo o mundo reconheceu as excelsas qualidades deste Homem, que deixou a terra que pisou bem lavrada com a sua acção, numa grande sementeira direccionada para a paz, defesa dos mais pobres e aproximação de todas as religiões.
O Sumo Pontífice, controverso, paradoxal, que combateu tanto o nazismo como o comunismo; de teimosia contra o cansaço; sem medo, duma humildade extrema ao pedir perdão pelos erros da Igreja, e a perdoar a quem o pretendeu assassinar; deixou no mundo cristão e não cristão, e de outras religiões, crentes e agnósticos, o sentimento profundo de um grande Homem de bem, onde no seu íntimo apenas existiu a palavra amor.
Foi grande no seu pontificado, foi grande na sua evangelização, foi grande no seu humanismo, foi grande na sua bênção, foi grande na defesa dos mais pobres, foi grande no seu perdão, foi grande no seu sofrimento.
Foi o Papa mais poliglota de sempre, o que fez mais canonizações, o que ordenou mais bispos, o que correu mais mundo.
Muito já se disse de João Paulo II, desta figura ímpar que o mundo perdeu, na opinião de muitos governantes deste planeta Terra. E muitas páginas ainda se continuaram a escrever, pelo que me dispenso do repisar de acontecimentos, sobejamente conhecidos de todos.
Recordo-me do primeiro falecimento de um Papa, o que conheci na minha infância e adolescência – Pio XII – há quase 47 anos. Aquilo que João Paulo II previamente definiu “não ser lícito a ninguém fotografar nem captar imagens, seja pelo meio que for, do Sumo Pontífice, quer doente na cama, quer já defunto”, surgiram na imprensa de então – Diário de Notícias, Diário Popular, revista Flama, entre outros – com imagens do Papa defunto, na cama, “no seu leito de morte”, como então se referiam.
Depois, nos números seguintes, fotografias de muitos cardeais, e a sua origem, como os principais elegíveis. Lá figuravam também os cardeais Roncalli e Montini, que, por sinal, viriam a ser os Papas seguintes: João XXIII e Paulo VI; além do cardeal de barbas compridas, Tisserand.
Divergem os números que se referem ao total de Papas, até este último, mesmo eliminando os anti-Papas, face aos Cismas havidos. O Diário de Notícias refere-se a 246, mas outros mencionam 264.
João Paulo II viveu o terceiro Pontificado mais longo, sendo que o maior foi o de Pio IX, com 32 anos.
Também o DN refere que o mais curto pontificado foi de Urbano VII, em 1590, com 12 dias por ter morrido de malária; mas outra fonte diz que foi o de Estêvão II, no ano 752, de um só dia.
S. Pedro foi o primeiro Papa, nascido em Batbsaida, na Galileia. Morreu crucificado, com a cabeça para baixo, em 29 de Junho do ano 67. Seguiu-se-lhe S. Lino, natural de Volterra, que morreu em 23 de Setembro do ano 76. Foi ele que criou os primeiros 15 bispos e ordenou que as mulheres só pudessem entrar na Igreja com as cabeças cobertas, uso que se verificava até há uns anos atrás, com os véus na cabeça. Durante o pontificado deste segundo Papa foram martirizados os evangelistas Marcos e Lucas. O terceiro Papa foi Santo Anacleto ou Cleto que morreu no ano 88, como mártir. Definiu os hábitos eclesiásticos. O quarto Papa foi S. Clemente, também mártir, que morreu no ano 97. Exilado pelo imperador Trajano foi lançado ao mar com uma âncora atada ao corpo. Empregou o uso nas cerimónias religiosas da palavra “Amén”. O quinto Papa foi S. Evaristo, grego, que morreu no ano 105. Dado que os cristãos aumentavam, dividiu as cidades em paróquias e instituiu as primeiras dioceses. O sexto Papa foi Santo Alexandre I que morreu no ano 115. A este Papa se deve a instituição da água benzida nas igrejas. O sétimo Papa foi S. Sisto I, romano, que viria a falecer no ano 125. Ordenou que o retazo do cálice fosse de linho e que o mesmo e os paramentos fossem tocados solenemente pelos sacerdotes. Estabeleceu que se cantasse o Trisagio antes da Missa. O oitavo Papa foi S. Telésforo, mártir, que faleceu no ano 136. Compôs o hino “Glória in Excelsis Deo”. Ordenou que na noite de Natal cada sacerdote pudesse celebrar três Missas e introduziu na missa novas orações. O nono Papa foi Santo Higino, ateniense e mártir, que faleceu no ano 140. Determinou várias atribuições ao clero e definiu os graus da hierarquia eclesiástica. Instituiu o padrinho e a madrinha no baptismo dos recém nascidos. O décimo Papa foi S. Pio I, nascido em Aquiles e que também foi mártir, tendo morrido no ano 155. A ele se atribui a celebração da Páscoa, depois do primeiro domingo de Março, e importantes normas para a conversão dos judeus.
Como principais Papas, citam-se S. Pedro, um dos discípulos de Jesus Cristo, o primeiro bispo de Roma e uma das figuras fundamentais do cristianismo; Adriano I (772-795) que iniciou a ligação política com Carlos Magno, dando de facto início ao Sacro Império Romano; Inocêncio III (1198-1216) que foi um dos Papas mais poderosos da História, tendo influenciado toda a política europeia do seu tempo, incluindo em Portugal. Interveio em numerosos conflitos e abençoou uma das cruzadas mais violentas; Clemente XIV (1769-1774) foi incapaz de resistir à pressão das principais monarquias europeias e foi obrigado a dissolver a Companhia de Jesus; Pio VII (1800-1823) restaurou a Sociedade de Jesus mas sofreu uma forte pressão dos poderes europeus. Os franceses ocuparam os Estados papais (1809) e Pio VII ficou prisioneiro de Napoleão. Apesar desta humilhação, viria a proteger a família Bonaparte, após a queda do imperador.
O único Papa português foi João XXI, de curto reinado (1276-1277), chamava-se Pedro Hispanp. Era um intelectual do seu tempo, tendo deixado forte marca.
Como se chamará o próximo Papa? O que é certo é que no maior número de nomes consta: João, 23 vezes; Gregório, 16 vezes; e Benedito, 15 vezes.
A esperança vai para que surja um Papa que siga os passos do já saudoso João Paulo II.


(In “Notícias da Covilhã”, de 08/04/2005)