5 de julho de 2007

O MANETA

Após uma adicional carga de trabalho em que me envolvi – porque quis – volto às crónicas.
Acabo de ler alguns comentários ao livro “Revolucionários!” lançado pelo movimento Compromisso Portugal, que inclui ensaios inéditos sobre o liberalismo político e económico em Portugal.
Na recordação das invasões francesas, Vasco Pulido Valente refere que “a mudança veio de fora. A invasão de Junot (a mais durável), a invasão de Soult (a de menos consequência), a invasão de Massena (a mais destrutiva) e até a tardia invasão de Marmont desfizeram o antigo regime”.
Foi o invasor que separou o Portugal velho do novo Portugal. Depois dele, as coisas não podiam tornar a ser o que tinham sido.
Falando de invasões, fala-se de guerras. Dezoito exércitos ocuparam, atravessaram e combateram em Portugal, vivendo, na generalidade, do terreno, para alimentar a tropa, os cavalos e as centenas de animais de tracção, de que dependiam os transportes.
Já na antiga 4.ª classe eu aprendi, há mais de meio século, da qual ainda guardo os livros desse tempo, que atrás dos invasores franceses nada ficava porque nada deixavam. Por isso, as campanhas começavam preferencialmente no Verão, a seguir às colheitas. Milhares de pessoas morriam de fome, tendo o país ficado arruinado e exausto. As pilhagens abundavam, chegando-se ao ponto de um camponês que escondesse um ovo, uma galinha ou um saco de milho, correr o grande risco de ser executado.
Rapidamente a tortura entrou nos costumes. Para sobreviver, a população começou a esconder géneros e gado, pelo que surgiu a intenção, dos invasores, de liquidar esta resistência.
“Mas quando o país se levantou contra o invasor, a violência tomou um carácter diferente. Um general de Junot, numa longa incursão pela Beira Litoral, pela Beira Alta e pelo Alentejo, inaugurou o contra-terrorismo. Esse general, Loison, o Maneta, porque não tinha um braço, acabou por inspirar a expressão “ir para o Maneta”, que permanece na língua”. Loison incendiou todas as aldeias por onde passava, saqueou Évora a matou toda a população dum pequeno lugar daquela região.
Mas Napoleão, embora perdendo, revolucionou o país, como revolucionara a Europa. A invasão e a guerra “provocaram” o “liberalismo” em Portugal.
Sempre fomos um país de dificuldades, de cobiças, e com a população sacrificada, e muitas vezes a mesma “foi para o Maneta”.
Depois duma grande esperança, com a Revolução dos Cravos há 33 anos, voltamos a impregnar-nos da sina do Maneta.
Até as nossas “esperanças”, em futebol, e o hóquei em patins – Santo Deus! – entraram numa crise e foram para o Maneta.
Não obstante muitos exemplos, a memória curta de muitos indígenas deste rincão à beira-mar plantado não deixa de nos preocupar, face a um egoísmo latente, na não colaboração no bem da comunidade onde se encontram inseridos.
E só quando há trovoada se lembram de Santa Bárbara!
Se muita coisa tivesse sido feita com reflexão, sem olharmos só para o nosso umbigo, neste país, de que muito continuamos a gostar, suportaríamos melhor as crises mundiais, e envolvíamo-nos com menos sobressaltados neste mundo globalizado.
Assim, cada um a puxar para seu lado, continuamos a ver a banda passar, e, na cauda da mesma vamos seguindo atrás dos nossos parceiros europeus. E, assim, continuamos a ir para o Maneta.

(In Notícias da Covilhã e Kaminhos de 05/07/2007)