18 de junho de 2010

EXEMPLARIDADE

Na catadupa de temas que gostaria de apresentar neste espaço, por vezes o mais difícil é saber como começar. Lançando um olhar para as resmas de recortes de jornais, revistas e apontamentos, num amontoado mais ou menos cronológico, faz luz uma ideia, depois de banir outras que ficarão a aguardar oportunidade.

É que também no quotidiano nos surgem panóplias de assuntos que já nos entram por um ouvido e saem pelo outro, tal o descrédito por que vai o trabalho dos nossos políticos.

E, mesmo de alguns em quem pensávamos acreditar, ocupem eles os lugares com mais ou menos degraus na vida da Nação, já não nos dão espaço possível no pensamento para neles confiarmos, como povo pacífico e farto de esperar por uma vida que se projectara na esperança dum 25 de Abril.

A “exemplaridade” de atitudes, desde homens dos Partidos Políticos, Governo ou mesmo pelos “habitantes” da Assembleia da República, e seus periódicos “visitantes” ou “convidados” sob pressão, na defesa deste povo tão bem personificado nos Lusíadas, de Camões, traduz-se naquela frase proverbial de “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”.

Exemplos? Milhentos! Desde os que vão às televisões, com semblante de defensores dos mais necessitados, e, depois, por detrás da sua cortina de falsidade na argumentação, aí estão as reformas luxuosas, que, só de cada um, davam para dezenas de salários mínimos nacionais; dos subsídios e prémios atentatórios da dignidade do pobre povo, que os vê por um canudo, e que tão acarinhado e apregoado é nas épocas de eleições.

Daquelas “migalhas douradas”, na maioria dos casos, muitos dos cidadãos têm uma sombra em salários anuais de um décimo das suas reformas ou vencimentos mensais.

Eles são um formigueiro de apaniguados, desde a direita à esquerda e ao centro. Eles são reformados, na política, com reformas de pasmar, algumas por invalidez, e, depois, surgem novamente em cargos políticos, com novos luxuosos salários, como se o Zé Povo se esquecesse.

Eles são familiares dos Srs. Presidentes da República, dos Srs. Primeiros-Ministros, dos Srs. Secretários de Estado, dos motoristas, dos assessores dos Srs. Ministros, dos Srs. Louçãs, que tiveram a dita de pertencerem a esses ditos cujos e “não têm culpa” que lhes arranjassem um tachinho tão a calhar, nos tempos que correm, que, isso da vozearia dos colegas, amigos ou vizinhos, é tão só aquela inveja habitual, pelo que o conselho para os afortunados é deixar passar a caravana.

Por isso, é preciso que o Zé-povinho volte a pronunciar-se e…”Toma! Que levas com o manguito!”

As utopias e os sonhos continuam por ser realizados.

Ainda sou, aquando da escolaridade, dos tempos dos “Quadros de Honra”, sem saudosismo dos mesmos tempos, mas, com saudade, sim, dos tempos em que os homens gostavam de mulheres, e estas gostavam dos homens.

E, nesta época de festa dos Santos Populares, cá vamos cantando e rindo, como outrora, e esperançados que os futebóis nos tragam alegria, com a nossa Selecção Portuguesa em terras sul-africanas – altura para o Governo das nossas desesperanças folgar um pouco – sem os energúmenos a chateá-lo.

Como é natural que eu esteja equivocado com tudo o que passei à pena, dita agora computador, vou ficar por aqui, e vou apoiar a Selecção. Viva a Selecção de Portugal!

 
(In Notícias da Covilhã, de 17/06/2010, Notícias de Gouveia, de 18/06/2010  e a sair também no Jornal “O Olhanense”)

3 de junho de 2010

“NÃO HÁ MACHADO QUE CORTE A RAÍZ AO PENSAMENTO”

Foi num clima de transbordante entusiasmo que no passado dia 27 de Maio se reuniu num jantar, no Centro Cultural e Social da Covilhã, um grupo de 34 antigos jocistas (movimento da Juventude Operária Católica), de várias gerações, organizado por actuais elementos da LOC/MTC (Liga Operária Católica/Movimento dos Trabalhadores Cristãos), para “interpretar o sentimento de amizade e reconhecimento”.

Este sentimento teve como único alvo a pessoa de um grande Covilhanense pelo coração – o Padre Fernando Brito dos Santos – que durante mais de três décadas foi assistente diocesano destes movimentos, em tempos difíceis da ditadura, tendo deixado bem vincada a sua personalidade de grande Homem, amigo, defensor dos mais pobres e desprotegidos e da classe trabalhadora.

Reunidos em ambiente de simplicidade, onde todos eram amigos, tal acto deixou marcas indeléveis para memorizar os movimentos operários católicos.

Tendo o Padre Fernando Brito celebrado as bodas de ouro sacerdotais em Agosto de 2009, os antigos e actuais militantes dos referidos movimentos desejaram manifestar-lhe o sincero agradecimento e a grande amizade.

Presentes dois coordenadores nacionais daquele movimento – Maria de Fátima Almeida (Braga) e José Rodrigues (Lisboa) – também marcou presença amiga Serafim Vieira, antigo dirigente livre da JOC, natural do Porto.

Estiveram ainda presentes, o Assistente Nacional do Movimento, Padre Emanuel Valadão e o Assistente Diocesano, Padre Joaquim António.

Foi esta manifestação tão importante quão sentida, a seguir à da despedida e substituição do Padre Fernando Brito, de Assistente deste Movimento, em 24/11/2001, no Seminário do Tortosendo, reunindo então centena e meia de amigos.

Interessantes terem sido passados dois álbuns recordando algumas fotografias de actividades e participações dos antigos jocistas, verificando-se algumas notícias de jornais com a intervenção em assembleias de antigos elementos, de há quase meio século, e ali presentes.

E também as peripécias por que passaram alguns elementos, nas décadas de sessenta e setenta do século passado, reunidos no Centro Cultural, no 1.º de Maio, tratando de assuntos do movimento operário católico, e com a Pide a entrar-lhes pela sala dentro, tendo o Padre Fernando conseguido dar-lhes a volta, passando a conversar num tema totalmente descabido para o assunto que tratavam mas que os presentes logo compreenderam ser a forma de ludibriar os homens da PIDE.

Nas conversas de cada um – e vieram de várias zonas da região, como Unhais da Serra, Tortosendo, Teixoso – foram recordados alguns antigos elementos dos movimentos operários católicos, já falecidos, como a Irene Pereira.

O Padre Fernando agradeceu, na sua simplicidade, deixando o seu desejo de que aquela reunião de amigos ao menos servisse para reforçar a abertura do caminho na continuação do movimento baseado nos valores cristãos.

Depois de efusivamente entoarem cânticos jocistas, todos de despediram com grande entusiasmo pelo que se passou neste memorável encontro de amigos.


In Notícias da Covilhã de 3 de Junho de 2010