27 de janeiro de 2011

O ANTI-JORNALISMO

Nos últimos dois meses assistimos a acontecimentos paradoxais que surgiram na sociedade portuguesa com a perda da vida de três portugueses.

Reporto-me, em primeiro lugar, ao Homem do jornalismo cultural – o do saudoso programa televisivo “Acontece” – mas também da rádio e jornais, aquela figura que gostava de conversar, que, embora tivesse honras de algumas páginas sobre a sua acção em prol da cultura neste País, passado que foi o seu funeral deixou de se falar, naturalmente, mais neste Homem de bem.

A segunda figura, desaparecida já em Janeiro, foi também de outro grande Homem – o major Vítor Alves, o homem da pêra – uma das figuras proeminentes do 25 de Abril, ainda que menos mediático que outros capitães da Revolução, foi apontado pelos seus pares como um homem discreto e tinha o dom da conciliação, enorme lucidez e bom senso. Foi algumas vezes Ministro nos governos provisórios. Tomou posição na facção moderada do Grupo dos Nove.

As televisões e a própria imprensa falaram da morte de Vítor Alves apressadamente.

A terceira figura de somenos importância, ainda que se trate dum cronista nacional, paras as bandas cor-de-rosa, homossexual, desaparecido duma forma trágica e lamentável, cujos acontecimentos foram sobeja e enfadonhamente conhecidos de todos nós, banhou-nos de noticiários diários, e a toda a hora, quer pelas televisões quer pelos jornais, como se de um príncipe se tratasse, dando relevo à família do malogrado Carlos Castro e um amigo, com ênfase aos desejos do cronista, para que as suas cinzas ficassem espalhadas em Times Square – Nova Iorque, onde foi assassinado pelo seu companheiro, e, como tal, lá se viu o deitar das mesmas numa grelha do metropolitano, rentabilizando assim, até ao vómito, a sua morte, sem despudor.

Só faltava que o resto das cinzas que vieram para Portugal fosse espalhado no Mosteiro dos Jerónimos…Enfim, este contra-senso veio ridicularizar o jornalismo. Era preciso tanto?

Para as bandas da nossa cidade da Covilhã, o seu principal Clube – Sporting Clube da Covilhã (SCC) – e mais representativo de toda a região beirã, depois de nos últimos anos ter perspectivado uma viragem positiva, mas que não conseguiu livrar-se da cepa torta, numa situação latente de dificuldades passíveis de solução, e num aparente entusiasmo reinante, retomou a publicação do seu jornal, que já teve anteriores publicações efémeras, com a designação “O Sporting da Covilhã”.

Para dissipar aquelas dificuldades, mormente evidenciadas no aspecto desportivo, de um “sobe e desce” de divisão, e não se coadunando a conduta do trabalho directivo, comparativamente com a de outras regiões de potencial económico similar ao nosso, surgiu a vontade indómita de um grupo de boas vontades que aderiu a constituir uma lista alternativa a eleições – a célebre lista B – num projecto envolvendo pessoas de garra. Sempre com as melhores intenções em fazer voltar o SCC ao lugar de relevo no mapa desportivo nacional, fazendo puxar o comboio do progresso desportivo da região, e, aí, acolhendo, também de bom grado, um projecto da iniciativa do Vereador do Desporto da Câmara Covilhanense.

Assim não entendeu a maioria dos sócios do SCC, dando primazia à direcção vigente.

Com esta eleição – a primeira vez que surgiu desde a existência do SCC –, com duas listas, aceitou a lista B, democraticamente, o veredicto dos sócios, e ficou a convicção de que quem saíra vencedor foi, de facto, única e exclusivamente o SCC.

Serenamente, os componentes da lista B mantêm-se irmanados na mesma amizade, e acompanham, como qualquer associado, o andamento da equipa, sofredores também com os maus resultados que se vêm verificando, mas sem vinganças nem ódios.

Vem isto a propósito do jornal do Clube, a que já nos referimos, oferecido no último jogo na Covilhã, com o Trofense, de o mesmo, para além de entronizar a figura do presidente da direcção do SCC, vir lançar farpas a alguns sócios, com grande destaque na primeira página, numa verdadeira alusão aos componentes de lista B. Em contraste, numa das páginas interiores, informam que vão lançar a campanha de aumento do número associados, para 5000!

Isto é mais uma forma de mau jornalismo, e o Jornal do SCC começa mal, a dar tiros nos pés!

Por isso, deixamos aqui o provérbio hindu: “Quando falares, procura que as tuas palavras sejam melhores que o silêncio”.

 
(in Desportiva, de 25.01.2011, e Notícias da Covilhã, de 27.01.2011)

7 de janeiro de 2011

MELHOR É COMEÇAR O ANO A RIR

Chega de lamúrias! 2010 já fica para a história. Tristezas, muitas; alegrias, foram menos.

Vêm aí as presidenciais. Talvez só para nos cantarem as janeiras atrasadas.

O nosso País também tem coisas boas, e o “Teen Económico” do Diário Económico de 11 de Dezembro (Portugal Faz Bem)” é elucidativo. Temos uma juventude aguerrida e criativa.

Através do Facebook, o covilhanense Paulo Pimentel, radicado no Brasil, veio à Covilhã apresentar o seu primeiro livro – “Histórias (In)Confessáveis da Nossa Terra e da Nossa Gente”.

Muito entusiasmo na apresentação do livro, num dos hotéis da cidade, com muitos amigos. Foi a oportunidade, logo a 2 de Janeiro, para que se leve, a rir, o ano 2011.

Quando cheguei a casa, fui saboreando a leitura do livro, de fio a pavio. Ficou devorado.

Não só as muitas facetas das estórias de vida do Mestre Abílio me fizeram rir (recordadas, algumas, quantas vezes…) como também o grupo da rapaziada, que acompanhou o autor na sua juventude, são de enorme alegria, com as traquinices da altura.

Foram acontecimentos que também existiram na minha infância; e a linguagem característica da nossa região ainda existe, alguma, por essas aldeias do concelho.

As malandrices que faziam ao Porfírio no apanhar das bolas que saltavam do Campo Santos Pinto, às sopeiras no bailarico ao som da música dos intervalos dum relato do jogo de futebol; as diabruras no Café Primor, quando o proprietário, Sr. Cunha, se apresentava de mau humor, e lhe trocavam os pacotes de açúcar por sais de fruto, são memórias interessantes.

Mas também o Montalto e o Sp. Covilhã, onde recordou o antigo atleta emprestado pelo SCP –Celestino Cabrita – que lhe fez a surpresa de estar presente no acto e o recebi no meu escritório.

O Francisquinho da Padaria e o Padre Morgadinho…E essa de quando se iam confessar, enquanto adolescentes, à Igreja de S. Francisco, só quando lá estivesse o Padre Fernando porque as penitências do Padre Andrade eram piores…

Não foi esquecido o Dr. José Ranito Baltazar, médico e também Presidente da Câmara, geralmente mal-humorado, mas que se dizia que era muito simpático e educado quando estava “à Baltazar”; e insuportável e rude no dia em que se encontrava “à Ranito”. De qualquer forma tinha um coração do tamanho do mundo.

Aproveito para contar duas histórias que se passaram comigo e com o Dr. Baltazar, na sua qualidade de Presidente da Câmara – uma “à Ranito” e outra “à Baltazar” – enquanto eu fui funcionário daquela autarquia, antes do serviço militar. Novato, com os meus 17 anos, Teresa Carvalho mandou-me levar a correspondência para despacho e assinatura, ao consultório do Dr. Ranito Baltazar. Era só descer as escadas da Câmara, saindo pelo lado dos antigos correios, ou pela Repartição Técnica (onde trabalhavam o Eng.º Cruz Gomes, Arqº Alves Nogueira, dois agentes técnicos, o João Lanzinha, Manuel José Torrão, Cidália, Álvaro dos Carapaus, António Arroz, Manuel Antunes e Carlos Aleixo, e, como contínuo, o homem que não conhecia as letras, Sr. Joaquim, entre outros), depois atravessava a rua e o consultório era num 1.º andar onde se situava a Gazcidla. Nessa altura trabalhava-se aos sábados de manhã: Câmara, CGD e Bancos. Estava quase nas 13 horas e eu, vai daí, entro no consultório, onde não vi ninguém, bati à porta mais interior e, como mais ninguém atendeu, abro com cautela a mesma e deparo com o Dr. Baltazar a consultar uma senhora. Foi um daqueles raspanetes em gritos histéricos, como lhe era peculiar, e eu recuei, pedindo desculpa, aguardando e a ver o tempo a passar, até que lá veio a empregada a dar-me a correspondência assinada, e, depois, ele, já “à Baltazar”, mais manso, a dizer que deveria bater à porta ou esperar.

Noutra ocasião, eu fazia horas extraordinárias quando tocou a campainha do seu gabinete. Como estava ali sozinho, paciência, dirigi-me ao presidente. Numa atitude meiga, “à Baltazar”, pediu-me para levar o seu neto a fazer xixi. Chegado com ele à casa de banho, o miúdo começa a chorar. Digo cá para comigo: Ora, porra! O que é que este gajo quer? Resultado: tive que lhe ajudar a tirar o mini-instrumento e desapertar os botões dos calções porque ele não sabia…

E, por agora chega, porque nos esperam mais figuras populares na cidade que nos recordam tempos de outrora, algumas bastante interessantes.

(In Notícias de Gouveia, de 07.01.2011 e a sair no Notícias da Covilhã, de 13.01.2011)