19 de janeiro de 2012

O CENTENÁRIO MONUMENTO DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO


Em local aprazível, na zona do Bairro de Santo António, perto da reitoria da Universidade da Beira Interior, onde in illo tempore existiu o Convento de Santo António, ergue-se, imponente, saudando a cidade da Covilhã, a Rainha Padroeira da Cidade e de Portugal, num monumento que veio a ser inaugurado no dia 10 de Outubro do ano da graça de 1904.

Aconteceria então esse evento, nas comemorações do 50.º aniversário da proclamação dogmática da Imaculada Conceição de Maria, cujo dogma de fé foi definido em 08.12.1854, pelo Papa Pio IX.

E, tendo em 1858 acontecido as aparições de Nossa Senhora de Lourdes, em França, onde a Virgem confirmou que era a Imaculada Conceição à vidente Bernadette Soubiroug, veio originar que, tendo a imagem sido encomendada em França, foi entregue com as feições de Nossa Senhora de Lourdes, embora seja considerada pelos covilhanenses Nossa Senhora da Conceição.

Já escrevi, neste mesmo espaço, precedendo as comemorações do centenário da inauguração do monumento, reportando no texto vários eventos importantes, a alguns dos quais assisti, adolescente e jovem, como na data de 26 a 30 de Maio de 1954 em que a Diocese da Guarda promoveu, na Covilhã, um Congresso Mariano, no centenário da definição dogmática da Imaculada Conceição, com a apoteose de dezenas de milhar de pessoas.

Depois, as festas comemorativas do Centenário de Lourdes, de 27 a 29 de Junho de 1958, na Covilhã, tiveram a presença do Núncio Apostólico, D. Fernando Cento. Recordo que, como estudante, esperámos por ele e pela sua comitiva, junto á Igreja de S. João de Malta, com bandeirinhas amarelas e brancas, alusivas às cores da Santa Sé. Num daqueles dias, no grande salão que existia no r/chão do bloco mais antigo da Escola Industrial, ali também fora recebido o Núncio Apostólico, juntamente com o Bispo da Guarda, D. Policarpo da Costa Vaz, Presidente da Câmara, Director da Escola, Eng.º Ernesto Melo e Castro e outras entidades civis, religiosas e militares, para uma conferência alusiva ao acto que se vivia.

Mas o forte das comemorações aconteceu no Monumento de Nossa Senhora da Conceição.

Mais tarde, aquando da vinda das relíquias do Santo Condestável à Covilhã, com pompa e circunstância, em 20 de Maio de 1961, foi, mais uma vez, o monumento em causa objecto de festividade, nomeadamente com a colocação no mesmo, algum tempo depois, duma réplica da espada de Nun’Álvares, que se manteve durante vários anos até que um dia foi retirada, lamentavelmente, por indicações do pároco da freguesia de S. Martinho. Lá apareceu a réplica da espada, mais tarde, encontrando-se actualmente à guarda da Fraternidade Nun’Álvares.

Todas estas festividades eram palco de grandes iluminações públicas, quer no edifício dos Paços do Concelho, quer na envolvente das igrejas da cidade, e não só, fruto do trabalho inteligente e artístico, que sabia coordenar, o responsável de então pelo organismo municipal, Alexandre Galvão Aibéo.

Algumas fotografias deste trabalho, que embelezaram as aludidas comemorações, podem ser consultadas no 2.º volume do meu livro “Vida e Obra dos Bombeiros Voluntários da Covilhã”, fruto da prestimosa colaboração de D. Isabel Maria Aibeo.

Também do monumento se desfruta uma excelente panorâmica da cidade e região, assim como da Serra da Estrela. Lugar de silêncio que se traduz também numa tranquilidade de espírito, onde muita gente faz visitas diárias ou periódicas, algumas no cumprimento de promessas.

Em tempos houve a preocupação de efectuar uma escadaria que desse acesso à parte sul para integrar mais o monumento dentro da cidade, tendo este semanário servido de recolha de subscrições para comparticiparem no melhoramento do local e do monumento, o que veio a acontecer, durante várias semanas.

E foi Mário do Carmo Martins que me fez recordar a generosidade dos covilhanenses, iniciada com o número de 6 de Dezembro de 1991, do “Notícias da Covilhã”, então num apelo do Padre José Batista Fernandes, entregando-me um conjunto de documentação deste jornal, fazendo questão da sua entrega se verificar exactamente no dia em que se completavam 20 anos desse evento, ou seja, no dia 06/12/2011.

Depois, numa demonstração de quanto o lugar do monumento, e o espaço envolvente, são acolhedores, e geradores da esperança, agradecimento e uma certa tranquilidade de espírito, junto de Nossa Senhora, Padroeira dos Covilhanenses, foi-me feito reparo, algo de alguma preocupação, por quem o visita regularmente, dado o facto de, na zona do acendimento das velas, o seu específico espaço não se encontrar devidamente protegido, com as mesmas a tombarem, algumas caindo.

Penso que a edilidade poderá dar uma ajudinha no sentido de resolver a situação, pois o local bem o merece, e só o não terá feito por desconhecimento.

(In “Notícias da Covilhã” de 19.01.2012)

5 de janeiro de 2012

CRÓNICA PARA INÍCIO DO ANO

No alvorecer do ano findo, o covilhanense Paulo Pimentel, radicado no Brasil, convidou os seus conterrâneos a levar o ano a rir, com a apresentação do seu primeiro livro, cheio de histórias engraçadas, geradas no humor citadino de figuras que, algumas, já desapareceram desta terra laneira de então, universitária de hoje.
Era então de risos, e de muitos sorrisos, que vínhamos a necessitar, qual lenitivo para as angústias de um ano inteiro.
Depois, foi a continuidade de um manancial de várias vertentes da cultura, com expoentes elevados em muitos campos do conhecimento, dos costumes, da música, da arte sacra e não só, e da educação, na urbe, que constituem a herança da nossa comunidade.
E, esta laboriosa Cidade, sofredora como o País inteiro, pelos quatro pontos cardeais do seu rectângulo, soube atrair a si vários cafés literários, acções culturais de vária índole, com eventos muito interessantes, fazendo elevar a nossa auto-estima, abalada por muitos nababos da política portuguesa.
Recentemente, mas ainda em 2011, tive o prazer de acolher na Covilhã um antigo colega de profissão, viajante de quatro costados pelos cinco continentes –Vasco Callixto – que, neste ano findo, apresentou o seu quinquagésimo livro sobre viagens, e, no momento em que redigia  esta crónica, via passar na RTP, em rodapé, o anúncio da apresentação de “50 Anos de Viagens”, na Casa da América Latina, em Lisboa.
Mas, no crepúsculo de 2011, um outro covilhanense, João Morgado, quis brindar-nos com o seu livro de contos –  “Meio-Rico” –  que fez memorizar os tempos de outrora.
Eram tempos sem tecnologias, sem penumbra de maleitas da desgovernação dos dias de hoje.
Eram também tempos de pobreza mas não havia, como hoje, a abastança descontrolada de muitos dos aflitos de agora, conducentes a um país dependente de auxílios, nos caminhos da indigência.
Vemos a cidade a acolher estes acontecimentos culturais, fora das paredes de pompa e circunstância dos Paços do Concelho.
E, assim, no peculiar da sua hospitalidade, e no que já vai sendo um hábito, foi o Café Jardim que proporcionou mais uma tarde cultural, bem expressa nas palavras do seu proprietário, Joaquim Almeida, orgulhoso de mais este evento.
Mas João Morgado trouxe à memória, nalguns contos inseridos no seu livro, a vivência de outrora, em aspectos como, por exemplo, o comércio tradicional de então. Nesses tempos ainda não tinham surgido as grandes superfícies nem entidades públicas como a ASAE.
Havia a mercearia da aldeia ou da cidade, onde se vendia de tudo, desde o açúcar e da manteiga, ao peso; do bacalhau, cortado por meio de uma faca fixa no balcão; do azeite, vendido ao litro; do petróleo, para os candeeiros e fogareiros a petróleo… como também do sabão rosa e sabão amarelo, vendidos em barras e ao quilo; mercadoria e produtos pesados nas balanças Avery; e do “sabão macaco”…
Li o livro, de fio a pavio, e, em 2011 já no ocaso, prenúncio de um 2012 de maus augúrios, recordei a mercearia de José Soares Cruto, na Rua dos Combatentes da Grande Guerra, já desaparecida, um dos estabelecimentos que servia uma grande clientela da zona, onde também se vendiam louças de alumínio, e era local de conversa de muitos amigos do seu proprietário, que sabia acolher as pessoas, assim como o seu humilde e simpático empregado, José Simões. O Padre Nabais era um desses amigos, assim como o Belmiro, da Subdelegação de Saúde; e Filipe Roberto e Runa, então funcionários dos SMC. Pela Páscoa também se vendiam as amêndoas, e, pelo Natal, os chocolates alusivos, quase sempre os mesmos tipos, geralmente bonecos, ou tabletes.
E, assim, assistimos à apresentação de mais um livro, escrito ainda sem as regras do novo acordo ortográfico.
Já não nos chegavam os grandes problemas económicos que se agigantam para 2012, quanto mais a obrigatoriedade do novo acordo ortográfico, que me desculpe o amigo professor Malaca Casteleiro.
Mas tenhamos fé, esperança e uma inabalável garra de dar a volta ao texto, e na denúncia perene dos malfeitores.
(In Noticias da Covilhã de 05.01.2012)