19 de setembro de 2012

Maria Ivone Vairinho – Uma Mulher multifacetada



 A notícia arrasadora chegou. A jovem iluminada, desde os já longos anos 50 do século passado, que a Covilhã conheceu como uma das suas filhas notáveis, terminava a sua missão nesta Terra de Camões. Junto ao seu túmulo, ensinou e participou com a sua eloquente poesia.

Com um currículo muito rico, Maria Ivone, duma grande cultura, sem favores, tinha uma grande capacidade na aquisição do saber, e no fervor perene da sua transmissão.

Autodidata. A sua ação cultural fortificou-se, duma forma galopante, por toda a sua vida.

Escrevo estas palavras, homenageando uma grande Amiga, na expressão viva de quem a conheceu, desde menina e moça, não obstante diferença de idades. Morámos na mesma rua, junto à Escola Industrial e Comercial Campos Melo. Não chegámos a ser colegas. Foi nesta instituição que tivemos o trampolim para o mundo do trabalho e do conhecimento.

Os dotes desta covilhanense de eleição nunca foram reconhecidos pelos poderes públicos locais.

Após o casamento, passou a viver em Lisboa, sem nunca esquecer, e se referir na sua poesia, à sua terra natal – a sua querida Covilhã, onde as suas cinzas passaram a repousar, junto aos seus familiares, nomeadamente seu irmão, Francisco Manteigueiro, que foi velha glória do Sporting da Covilhã. Foi no dia 13 de setembro, depois do seu falecimento no dia 7 do mesmo mês, em Lisboa, onde foi cremada, e o velório na capela de Santa Maria, do Mosteiro dos Jerónimos, que tanto amava. Centenas dos seus amigos, ali lhe prestaram a derradeira homenagem.

Desde os seus 13 anos começou a escrever peças de teatro e autos de Natal, nos teatrinhos do Salão Paroquial da freguesia de S. Pedro da Covilhã, então nos finais da década de 40 do século passado, também representados na Escola Campos Melo, onde sempre foi a aluna mais distinta.

Chegou a participar num filme – Dois Caminhos – em colaboração com o saudoso Padre José Domingues Carreto, ela então nas fileiras da JOCF (Juventude Operária Católica Feminina).

Na inauguração do Teatro-Cine da Covilhã, em 1954, representou um monólogo de Alice Ogando, na presença da Companhia de Teatro Nacional Amélia Rey Colaço – Robles Monteiro, tendo-lhe sido abertas as portas para o Teatro Nacional, oportunidade que não pôde concretizar.

Completou os cursos do Instituto Britânico e Alliance Française e foi diplomada pela Escola Pittea em estenografia portuguesa, francesa e inglesa.

Na sua atividade profissional, passou por Secretária do Conselho de Administração da Petrogal, tendo frequentado cursos de âmbito internacional.

 
Na sua adolescência e juventude, prolongando-se pela sua vida fora, colaborou e escreveu textos, contos e poemas, publicados em diversos jornais e revistas. Traduziu muitos livros de espanhol, francês e inglês, com perto de 250 títulos registados na Base de Dados Bibliográficos da Biblioteca Nacional. Ganhou vários prémios.

Publicou romances e livros de poesia – a sua grande paixão. Foi colaboradora da “Crónica Feminina” e do jornal “Poetas & Trovadores”, tendo participado em 12 Antologias da Associação Portuguesa de Poetas, da qual chegou a ser Presidente da Direção e Diretora do seu Boletim. Proferiu diversas palestras e conferências, em vários auditórios.

No mundo artístico, depois do contacto com o palco, pertenceu a grupos cénicos, tendo, várias vezes, representado autos de Gil Vicente e peças de teatro de Almeida Garrett e outros.

Foi “Maria” no “Natal Beirão” e “Covilhã” na apresentação do folclore beirão nos espetáculos do Orfeão que acompanhou nas suas deslocações.

Colaborou em concertos da “Pró-Arte”, dizendo poemas ilustrativos de diversos andamentos da Sinfonia de Beethoven, e deu muitos recitais de poesia.

Com o pseudónimo de Ivone Beirão, em 1959 pertenceu ao Centro de Preparação de Artistas da Rádio e gravou programas nos estúdios da Emissora Nacional, tendo-se estreado num Serão para Trabalhadores no Pavilhão dos Desportos no Parque Eduardo VII.

Desde 2001 que dava aulas de “Ler… e Dizer – Oito Séculos de Literatura Portuguesa/Poesia” na Universidade Sénior de Oeiras.

Maria Ivone tinha comigo uma particular amizade. Sabia que eu tinha um enorme gosto pela cultura e por tudo o que à Covilhã dizia respeito, envolvendo-me também no jornalismo. A sua humildade era demasiada, sustentando a compreensão da injustiça que caía sobre a sua pessoa. Várias vezes falei sobre ela na comunicação social. Participou na apresentação de um dos meus livros e eu tive o prazer de estar na apresentação dum dos seus últimos livros de poesia, na Câmara Municipal da Covilhã.

E foi com a voz embargada que proferi umas palavras muito sentidas, no depósito das suas cinzas, na sepultura onde passou a repousar, como, aliás, já havia surgido, há uns anos atrás, no cemitério de Aranhas (Penamacor) na sepultura do Padre José Domingues Carreto. Memórias!

(In Jornal Notícias da Covilhã, de 19.09.2012)

12 de setembro de 2012

INDIFERENTES, PELA CIDADE VAMOS ANDANDO


Várias vezes nos acontece, algo de inesperado, um furo num pneu da nossa viatura, ainda que seja um coche novo ou uma bomba de pneus largos e pujantes.

E, vai daí, não nos apercebemos do motivo porque furou, um furinho impercetível, e sempre do lado direito…

Aconteceu-me há poucos meses, a uma velocidade não aconselhável, no Algarve, na autoestrada.

Mas, penso eu de que… se deve também ao desgaste devido a algumas anomalias originadas pela irregularidade dos pisos das calçadas ou junto às bermas das nossas ruas, que, depois, mais tarde, se vai refletir no atrás referido.

Vejamos, por exemplo, a posição em que se encontram alguns paralelepípedos do piso da Avenida 25 de Abril, a seguir à curva junto à Escola Frei Heitor Pinto, em sentido descendente, obviamente que do lado direito. Tive o cuidado de, numa das minhas pequenas caminhadas, avenida acima, verificar in loco o estado do piso. Puxo pelo meu telemóvel e, bumba! – Uma foto!


Estão alguns paralelepípedos em bico, originando danificação dos pneus. Circulando por ali diariamente, bem tento desviar-me…

Convidava os responsáveis pela edilidade a fazerem umas rondas pela cidade, a fim de se aperceberem de pequenos pormenores que se passam, ou existem na via pública, em muros ou edifícios, e que podem pôr em causa o prejuízo de pessoas e bens.

E, outro aspeto, o do inestético, e da perigosidade, como é o caso de alguns recantos de casas demolidas ou a cair, cheias de arbustos e ervas altas, secas, propícias para incêndios, basta uma ponta de cigarro acesa. Para já não falarmos de quintais particulares, devolutos, e não só. Basta tão só subir a Rua Mateus Fernandes!...


E, já agora, seria também de bom tom, que, para além de se poder tropeçar nas ruas, passeios ou estradas, também se evitasse tropeçar no que para aí vemos escrito, nalguns casos, como os dois que apresento, dentre de vários, em que a língua de Camões está muito mal tratada (não se trata de acordo ortográfico, não!), principalmente na nossa Terra que é uma cidade universitária.

Vejam só a placa que identifica o Parque Infantil do Rodrigo, da Comissão de Moradores –  “Sobe a égide”, em vez de “Sob a égide” – ou, então, a placa de saudação a quem visita as Penhas da Saúde, da freguesia das Cortes do Meio – “Benvindo”, em vez de “Bem-vindo”.

Por hoje fico por aqui, antes que apanhe algum tropeção…

(In Notícias da Covilhã, de 12.09.2012)