21 de outubro de 2015

A RASPADINHA

O outono vai a meio. As vindimas já se fizeram. Não é muito usual haver por estes lados concertinas e tambores, nem cantores ao vivo e em despique. Chegam agora as castanhas, que assadas são um regalo, na companhia da jeropiga.
Diariamente lá está o quiosque habitual para o meu jornal de preferência. E os regionais complementam-no. Mas é no sábado e domingo que, noutra banca de jornais, assisto às raspagens. Na minha frente apressa o passo alguém que pressente que também me dirijo para lá.
Enfileiro-me para adquirir o jornal. Cá fora, sob uma mesa de madeira, já se raspa…
Aguardo a vez. Mas se o meu antecessor adquire uma revista, lá vai também o pedido de uma raspadinha. Perco tempo…Do outro lado da fila, já uma senhora mostra a raspadinha sortuda.
E é neste andar quotidiano que se raspa, raspa, raspa… e volta a raspar!...
Vêm as notícias. Primeiro as parangonas. Depois as crónicas.
As eleições para o governo deste Portugal, por muitos desejado, e por outros rejeitado, já passaram à frente. Antes delas, naquele período do pregão, a gentinha raspava de devagar, devagarinho.
Veio a euforia! Os que nos tramaram a vida compraram logo uma raspadinha d’ouro. Eles lá pensaram: com uma raspadinha de um euro afinal eles contentam-se… E começaram a raspar com força.
Raspa, raspa, raspa… e volta a raspar!...
Mas, maldito mas… da euforia passaram à ansiedade, tendo acertado nas sondagens mas com falhanço na imaginação necessária para gerir o dia depois. A preocupação de deixarem o poder é notória.
Os risos sarcásticos de dentro da Coligação duraram pouco tempo. Quem havia semeado os ventos da arrogância, de um governo que não ouviu ninguém e não falou com ninguém, que fez o que lhe deu na real gana, tantas vezes na ilegalidade, “quebrando contratos com os mais necessitados, ao mesmo tempo que lembrava a intangibilidade dos contratos com os mais poderosos”, acusando os outros de serem “piegas”, de serem culpados por estarem desempregados, de serem velhos do Restelo, como tantas outras baboseiras que soltaram daquelas bocas, permitiu que na altura do julgamento, uma parte maioritária dos que votaram contra o Governo sejam agora capazes de os impedir de governar, ainda que correndo muitos riscos.
E enquanto os socialistas, como Partido charneira, decidem, com os ventos de feição, jogar a raspadinha à esquerda ou à direita, o Zé Povo vai também tentando a sua sorte: raspa, raspa, raspa… e volta a raspar!...
É preciso mudança! Temos vivido sob uma grande mentira, em que os responsáveis políticos, para se perpetuarem no poder, produzem ilusões, medos e ansiedade social, levando as pessoas ao ponto de se maltratarem a si próprias, gerando dúvidas e insegurança em si mesmas.
Há que haver uma profunda reflexão do que queremos e para onde vamos, independentemente de raspar mais devagar ou com mais força; de comprar raspadinhas de ouro ou de um euro. A sortuda não está para breve, pelo que há que se ponderar. É que as vindimas são feitas até ao lavar dos cestos.

Raspa, raspa, raspa… e volta a raspar!...

(In "Notícias da Covilhã", de 22-10-2015)

18 de outubro de 2015

CHEGÁMOS!


Neste ano da graça de dois mil e quinze, mês de outubro, completámos cem números de “O Combatente da Estrela”.

Podemos agora voltar-nos para o que foi o “antes”, o que está sendo o “durante”, e o que poderá ser o “depois”.

São três fases do tempo daquele tempo que tem a nossa vida: para uns mais longa, para outros mais curta.

Seja como for, entre virtudes e defeitos se fez a vida humana. E foi, é e será, nesta forma comportamental de cada um; mais dinâmica ou menos ativa, mais tolerante ou de índole agressiva, na tez de serenidade ou no semblante neurótico, cada qual com a sua alma assim tatuada, entre considerações e repulsas; que assim se construiu ou vai arquitetando o espaço temporal das nossas existências.

E é assim que, na amálgama de conceitos, mas no respeito pelo mundo que nos circunda, nasceu este pequeno jornal, na sua forma, mas grande na sua generosidade de querer fazer chegar, ao maior número possível de leitores, aquele abraço no sentir de quem passou por uma parte dura da História de Portugal.

Mas também, como órgão de cultura, várias facetas da vida citadina, onde nos inserimos e, por isso, e por natureza, também onde poisam as nossas preocupações.

O tempo vai caminhando veloz, mas a parte integrante dos acontecimentos que constituem muitas páginas da História de Portugal; daquela juventude que nós fomos, dos anos sessenta a setenta do século XX, em que surgiu a bravura na defesa da Pátria, a dor dos companheiros que se viram tombar em combate, lá longe, longe das famílias, as marcas indeléveis na carne, ou a doença depressiva que todos trouxeram, numa incompreensão dos senhores da Nação de outrora; jamais se poderá dissipar, e é nas páginas de “O Combatente da Estrela” que muitos testemunhos, notícias, reportagens, entrevistas, ou textos diversos dão o sinal de que a História das Guerras em África terá que continuar a ser lida, meditada, por tudo o que se passou, e, também, por tudo o que não querem assumir como reflexo dessas lutas fratricidas de então.

Durante o espaço que medeia entre o primeiro número de “O Combatente da Estrela” que viu a luz da gráfica em janeiro de 1988 e este mês de outubro de 2015, nos seus cem números, os obreiros do jornal, que durante muito tempo quase se reduziram ao trabalho desdobrado do seu Diretor, o mesmo desde início, muitos acontecimentos surgiram na vida da Liga dos Combatentes, da Cidade e do País.

No seio da Liga, muitos foram os que deixaram o mundo dos vivos, alguns prematuramente. Todos foram respeitados no simbolismo fúnebre e na recordação das suas memórias com inserção da notícia, com foto, neste periódico. Também nas transladações para o espaço próprio nos Cemitérios Municipais, e nas romagens em cada 1.º de Novembro.

Depois, há a preocupação dos que ainda vivem o resto das suas vidas, e, daí, a persistência na construção do tão almejado Centro de Dia e Lar de Terceira Idade, conforme temos dado notícias neste jornal, sempre que oportuno.

As notícias também têm vindo a lume, neste periódico, sobre as consultas psicológicas gratuitas, no apoio que a Liga dá aos seus Associados, e não só, também a todos os antigos Combatentes que à mesma se dirijam.

A solidariedade também se estende aos mais necessitados.

Embora separado da Liga dos Combatentes, como organização particular, mas de antigos Combatentes, que emergiu do que surge na Tabanca de Matosinhos, onde alguns antigos Combatentes da Covilhã ali se juntaram aos seus colegas, no encontro por que é conhecido o local de encontro, todas as quartas-feiras, de ex-Combatentes da Guiné, hoje Guiné-Bissau, para um almoço de confraternização, surgiu a Tertúlia dos Combatentes, cujo evento temos dado conhecimento nas páginas de “O combatente da Estrela”.

Todos os meses se reúnem, num restaurante da cidade, para um almoço, antigos Combatentes, cujo número vai crescendo, sempre ultrapassando a centena de participantes. A anteceder o almoço costuma haver uma caminhada, ou, quando tal não é possível, mormente no inverno rigoroso, reúnem-se os antigos Combatentes num café para conversar sobre determinado tema, ou, então visitas culturais, como foram ao Museu de Arte Sacra, Universidade da Beira Interior, etc.

A espiritualidade também não fica sem lugar e então há anualmente uma peregrinação a Fátima. O lazer e recreação também estão presentes na Liga dos Combatentes, pelo que são várias as viagens programadas para os associados, seus familiares e amigos, de cujo relato damos notícia n ´”O Combatente da Estrela”.

Como não podia deixar de ser, na preocupação com os seus associados, e no âmbito cultural, têm-se organizado algumas Conferências, com debate, alusivas a vários temas, mormente sobre a situação dos antigos Combatentes.

O “depois” passa incondicionalmente pela continuidade da caminhada que os obreiros da Liga dos Combatentes estão a fazer, e, neste contexto, também “O Combatente da Estrela” será o elo de ligação entre as suas estruturas e os seus associados e leitores em geral, ao serviço da Cidade Covilhanense, e seu Concelho, ao qual pertence.
(In "O Combatente da Estrela" - N.º 100 - Edição Especial - outubro 2015)

13 de outubro de 2015

VITÓRIA DE PIRRO


Contra ventos e marés a coligação Portugal à Frente (PaF), sem sensação, face às últimas sondagens, acabou por vencer as eleições legislativas, saindo vencido o Partido Socialista (PS) que, meses antes, era dado como partido vencedor, incontestavelmente na opinião pública e no próprio seio das gentes da direita.

No entanto, a vitória da PaF, constituída pelo PSD e CDS/PP, com os seus 38,6% de eleitorado contra 32,4% do que votou no PS, acabou por ver dissiparem-se as grandes alegrias das suas gentes face às indecisões sobre a obtenção de maioria absoluta ou relativa.

E os seus semblantes começavam então a ser diferentes quando uma brisa soprava na direção da esquerda.

Mas neste intervalo até aos resultados finais, algumas coisas iam emergindo, entre aqueles que sempre se consideram vencedores mesmo perdendo – caso da CDU, aos grandes vencedores: Catarina Martins, do Bloco de Esquerda (BE) e as próprias sondagens que vinham sendo desacreditadas.

O líder do PS, António Costa, foi o grande derrotado da noite eleitoral. Depois de tanta austeridade durante quatro anos, tinha a obrigação de ganhar as eleições legislativas. Para além de culpa própria que se traduziu em vários fatores, como ter acreditado na corrida da lebre e da tartaruga em que ele representou a lebre, e ao sair-lhe o tiro pela culatra na expressão do “soube a pouco” que levou o seu antecessor António José Seguro (ele um dos vencedores) a ser traído a meio do campeonato de líder do seu partido, viu também na esquerda, mormente da parte do Partido Comunista, erguerem-se os manguais da malha no PS ao invés da Coligação PaF.

E, falando de campeonato, os vencedores Passos Coelho e Paulo Portas tiveram, ao longo da legislatura, a parcialidade do árbitro que sempre fora nomeado, Cavaco Silva, sem que lhes mostrasse o cartão amarelo e muito menos o vermelho.

No terreno do jogo, ainda surgiram algumas expulsões como Marinho e Pinto, do Partido Democrático Republicano, e, quando ainda se encontrava no aquecimento, o jogo acabaria por terminar sem ser utilizado Rui Tavares, do partido Livre. Para já não falar nas memórias de Sócrates.

Dos mais de nove milhões de eleitores inscritos, 56,89% exerceram o direito de voto, sendo que, ao contrário do que as projeções anunciaram ao início da noite, neste caso para gáudio da PaF, a abstenção também quis ganhar, sendo a mais alta de sempre em eleições legislativas, com 43,11% de eleitores a não irem às urnas.

Voltando ainda à final do campeonato governativo, como foi possível que os mais de cinco milhões de “espetadores” que entraram nos vários estádios e introduziram o seu bilhete nas urnas da esperança, aceitaram continuar com a equipa técnica geral quando houve quatro anos de austeridade, desemprego, emigração, sacrifícios de vária ordem e um treinador novo anunciado no partido da oposição, e de mais de cem mil jovens por ano a procurarem outros clubes no estrangeiro, a custo zero, em detrimento de Portugal que os preparou e neles investiu fortemente?

Acontece porém que, no rescaldo após o jogo, já na fase das entrevistas dos jornalistas, nos balneários, se chega à conclusão que, afinal, a vitória do clube Portugal à Frente não vai chegar para passar a eliminatória. É uma vitória amarga. É que há mais clubes interessados em não descerem de divisão e se manterem no “arco da governação”. Eles unidos podem eliminar o vencedor da contenda.

E como o povo não é estúpido, havendo sempre vencedores e vencidos, sabe que não ter medo é uma das melhores armas.

Assim, só para falar no nosso distrito de Castelo Branco, o PS ganhou, e, na Covilhã deu um forte contributo com quase o dobro dos votos no PS em relação à coligação PaF.

O País inclinou-se para a Esquerda. A soma dos votos dos “Clubes” que a integram é superior aos do vencedor. Não podem agora jogar (governar) a seu bel-prazer. Também o fragilizado presidente da agremiação, Cavaco Silva, agora não pode fechar os olhos às tropelias do vencedor, com total impunidade e complacência meiga.

Claro que a Coligação foi a vencedora; que a CDU perdeu, embora com um deputado a mais; que Catarina Martins, do BE foi a “jogadora” mais em evidência na peleja, muito bem preparada, decidida e veemente sem nunca perder a calma, sorrindo zombeteira quando era necessário, personalizou o que queríamos e precisávamos de ouvir. Ela recuperou a tradição do combate da História de Portugal, como Deu-la-Deu Martins, ou a Padeira de Aljubarrota.

E, assim, nesta apagada e vil tristeza que tem assolado o nosso querido retângulo à beira-mar plantado, chega-se à conclusão que a Coligação de Direita foi a vencedora mas é uma vitória de Pirro.


(In "fórum Covilhã", de 13-10-2015)