18 de abril de 2018

A FORÇA DE UM PERIÓDICO


É indubitável que a dinâmica que transmite a força anímica para o surgimento de quaisquer páginas de um periódico, seja na sua vertente em papel ou pela via online, tem que depender de um ser humano, e, esse, é obviamente uma pessoa, mas uma pessoa que tem que ter alma. Essa pessoa é vista, obviamente, no seu plural.
O meu “batismo” a escrever num jornal reporta-se ao ano de 1964, ou seja, há 54 anos.
Já em 1972, após ter terminado o serviço militar obrigatório, um meu artigo num órgão da comunicação social regional levou ao sussurro em algumas instituições públicas, o que, nos tempos da outra senhora, era de certo modo arriscado. Mas o jornal deixou passar. E dos meus documentos extraídos da Torre do Tombo tão só consta o carimbo da P.I.D.E. com a indicação “Nos registos desta Polícia nada consta em seu desabono”.
Se é necessário objetar sobre o poder político, nomeadamente o autárquico, há os órgãos próprios para o fazer, que não este. Já o fiz quando oportuno, não só aquando das agitações dos ventos predominantes da última década, como também em 1978.
Mas na vertente militar, mais próxima deste periódico, a minha intervenção foi escrever no “Fronteiros da Beira – Firme como Rochas”, órgão cultural e recreativo do Regimento de Infantaria 12, da Guarda, em 1971. E, da já numerosa participação em mais de uma dezena de periódicos, também a alusão, com fotos, em agosto de 1993, com uma referência que me fizeram no jornal espanhol “El Adelanto”, sobre uma obra publicada.
É com base neste preâmbulo, afastando dele qualquer intenção egocentrista, que me leva a ter aquela vontade indómita na colaboração d’O Combatente da Estrela, porquanto, ao longo do seu percurso, sempre teve colaboradores com alma.
Não sendo fácil, há sempre estórias da história de vida de cada um, testemunhos verdadeiramente sentidos de muitos na sua passagem pelos tempos tenebrosos das Guerra nas Colónias, denominadas pelo antigo regime de Ultramar Português.
E não só, depois, também numa outra vertente cultural de outros temas apropriados, dando conta das atividades desenvolvidas, duma instituição em movimento, dum núcleo com alma.
Tendo estado presente no Fórum do Associativismo da Covilhã, no dia 17 de março, pode-se afirmar que entre as 248 agremiações que possui o Concelho, o Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes é um dos que inquestionavelmente merece o devido apoio financeiro face à sua obra.
Pena é que na Assembleia Geral dos Sócios realizada no dia 24 de março não tivesse havido possibilidade de ser encontrada uma lista para que os Corpos Sociais a eleger pudessem dar continuidade aos destinos desta prestigiosa Instituição, para o próximo biénio, esperando-se que essa situação possa ser encontrada já no próximo dia 14 de abril.
Foram as Contas e o Relatório do Conselho Fiscal aprovados, assim como também o Plano de Atividades previstas pela atual Direção para o ano 2018, embora este sujeito a alterações.
O Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes possui atualmente 820 sócios, entre Combatentes (732), Efetivos, Extraordinários e Apoiantes, registando 3 Beneméritos.
No ano transato participou em vários eventos evocativos dos Antigos Combatentes em várias localidades da região e teve ainda a sua participação, com cinco elementos e guião, no Aniversário da Liga dos Combatentes –  Aniversário do Armistício/Centenário da Grande Guerra na Evocação do fim da Guerra do Ultramar.
Por cá, ou seja, na Covilhã onde se encontra a sede do Núcleo, realizaram várias cerimónias, destacando-se: a Evocativa do Dia do Combatente, Dia de Finados, com a habitual Romagem ao Talhão da Covilhã (e também ao do Fundão), com toques gravados e deposição de coroa de flores.
Na solidariedade, para com os seus Camaradas antigos Combatentes, sócios carenciados, tem o Núcleo da Covilhã estado atento e prestado, dentro das suas possibilidades e no âmbito das caraterísticas de cada necessidade, ainda que revestidos alguns casos de excecionalidade, o seu incondicional apoio.
Mas não é tudo, porquanto no Programa de Cuidados de Saúde, o Núcleo da Covilhã é apoiado pelo CAMPS-BI, que tem um espaço na sede do próprio Núcleo. Para além de 39 sessões realizadas têm sido atendidos, de forma individual, de caráter psicológico perto de uma centena de indivíduos, e duas dezenas de caráter social. Para além de outras ações do CAMPS-BI, no seio do Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, foram efetuadas sessões de grupo muito perto de centena e meia.
Depois também existe a parte lúdica e essencialmente cultural, destacando-se as visitas a Sevilha e Córdoba; ao Palácio de Belém e Revista no Casino Estoril; ao Porto ao Air Race Bull; ao Alto Minho – Braga – Castro Laboreiro – Arcos de Valdevez; Malafaia e Porto. Também uma edição anual que vem sendo continuada é a Feira de Trocas e Colecionismo da Covilhã.
Tal como de início falei, as páginas de um jornal dependem de humanos, que, impregnados daquela força anímica, terão que ter alma, para que possam brotar ideias que se convertam na atenção dos leitores, e não numa passagem transversal, ou num simples olhar para a capa e dum folhear desinteressado.
Assim também o Núcleo da Covilhã, na vertente da religiosidade, não tem esquecido todos quantos partiram para o outro lado da vida, para os crentes, naquele espírito de ter ainda presentes os camaradas eternamente ausentes, como as já referidas Romagens ao Cemitério.
E, para os que ainda se mantêm no número dos vivos, as Peregrinações a Fátima, quer de âmbito Nacional pela Liga (realizou duas), mas mormente através da inerente a este Núcleo que vai a caminho da XII Peregrinação.
Neste ano de 2018 já se realizou uma visita no concelho de Penacova para degustação da lampreia; ao museu de Vila Viçosa; e aos golfinhos, em Setúbal.
Também foi celebrado o 92.º Aniversário deste Núcleo, no dia 11 de março, com a presença do Secretário-Geral Nacional da Liga, Coronel Lucas Hilário. Foi aqui admitida a hipótese de se concretizar o almejado Centro de Apoio, sonho antigo, cujo Núcleo dispõe de projeto e de terreno atribuído pela Câmara já lá vão 19 anos. Pode-se prever a construção do Lar para 72 utentes e Centro de Dia (250), além de valências nas áreas de saúde e social, incluindo a nova sede do Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes.
Este Núcleo, como já foi referido, em movimento, com alma, vai integrar também as comemorações do 100º Aniversário da participação da Covilhã, através do extinto Regimento de Infantaria 21, na Primeira Grande Guerra (1914-1918).
É também previsível que se concretize, ainda neste ano em curso, por parte da Câmara Municipal, a alteração ao Monumento dos Combatentes, conhecido como “Soldado Desconhecido”, pretendendo o Núcleo da Covilhã dar todo o apoio à edilidade covilhanense para as comemorações a levar a efeito durante o ano evocando o centenário do Armistício.
E ainda, no dia 23 de fevereiro foi a apresentação, na Biblioteca Municipal, do livro “Danos Colaterais”, do prof. José Eduardo Tendeiro, antigo combatente dos primeiros anos da Guerra do Ultramar, onde ressaltam facetas importantes romanceadas da sua vivência em teatro de guerra. A participação neste evento cultural foi de grande interesse para os participantes, para além de amigos do autor, também muitos antigos combatentes. O prof. Tendeiro é também um dos colaboradores, com alma, d’O Combatente da Estrela e d’O Combatente, da Liga dos Combatentes.
E nesta envolvente de espaços preenchidos, em várias vertentes em prol dos antigos combatentes, associados, e servindo a própria cidade covilhanense e seu concelho, e, porque não, a Liga dos Combatentes nacional, o Núcleo da Covilhã pode aplicar bem a frase, exortando, do poeta espanhol António Machado – “O caminho faz-se caminhando”. E, daí, as edições deste jornal continuarem a ser eco da alma dos seus Colaboradores.

(In "O Combatente da Estrela", n.º 110, de abril/2018)


11 de abril de 2018

COMO TUDO SE PASSA


Poderíamos hoje estar a falar sobre efemérides, pois aconteceu há 50 anos a Primavera de Praga, com a Checoslováquia, então 8.ª potência industrial do mundo, a ser invadida pelas tropas russas, na noite de 20 para 21 de agosto de 1968. Foram entre 400 a 500 mil soldados do Pacto de Varsóvia a atravessarem a fronteira. Mas hoje, excetuando a Crimeia, e a ajuda aos seus apaniguados beligerantes, a Rússia opta por invadir por processos mais sofisticados, através da Internet.
Poderíamos estar a falar sobre o Maio de 68, com as greves estudantis em França, naquela expressão de “É proibido proibir”.
Poderíamos ainda estar a falar do assassinato de Martin Luther King, também há 50 anos, Nobel da Paz em 1964, conhecido como “Gandhi da América”, naquele fatídico dia 4 de abril de 1968, com o assassino a fugir para Portugal e a refugiar-se em Lisboa.
Assim, o ano de 1968 foi repleto de eventos importantes, entre eles invenções que mudaram o mundo, conflitos que quebraram barreiras e música que ficou para a História. Foram descobertas científicas, tecnológicas e avanços sociais e políticos que marcaram aquele ano. Vivia-se um clima internacional pesado devido à Guerra Fria entre a Rússia e os Estados Unidos. Além disso, também a Guerra do Vietname ainda estava a decorrer e a primeira aeronave Boeing 747 era lançada pela primeira vez. Um mundo bastante diferente daquele que conhecemos hoje.
De outros eventos ou memórias, referem-se alguns casos que se tomam de conhecimento no nosso País, nos dias que correm, depois de 44 anos do 25 de Abril.
Num ridículo de ganância, inveja ou de chico-espertismo, –  Que raio! – afinal o que se passa com o Sindicato da PSP? Sindicato?... Não!... São 16 sindicatos, segundo o Diário de Notícias, e 36 mil dias de folga para os 3680 dirigentes e delegados. “São os próprios sindicatos a dizer que ‘é uma vergonha’ o que se passa na polícia. Três sindicatos têm mais dirigentes que sócios”. Eles têm vários nomes. O primeiro a ser criado e o mais representativo é a Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP), e, depois, há para todos os gostos: Vertical, Independente, Autónomo, Livre, Polícias do Porto, e uma mão cheia deles, que, por culpa governamental, não cria leis para disciplinar esta nova geringonça.
Segundo é referido, o sindicato mais recente – Organização Sindical dos Polícias –, nascido em fevereiro, conta com 459 dirigentes e delegados para 451 associados!... “É uma vergonha!” – Quem o diz é o presidente da ASPP.
Depois, claro, há falta de polícias em determinadas localidades; vemo-los aos pares em certas ruas, para quê, quando na rua de cima ou na de baixo não passa lá nenhum?
Os polícias vão comemorar o seu dia histórico do sindicalismo policial – os “Secos e Molhados” – Recordam-se? Tão só para rir, dos tempos cavaquistas.
Sentimo-nos mais seguros quando vemos polícias na rua, ou na estrada, e não nos gabinetes (esse lugar é para civis). Hoje têm mais urbanidade e cultura que noutros tempos, excetuando um ou outro caso que se refugia no uso da farda, para um excesso de autoridade. Entretanto, são mais humanos e menos polícias.
Outro caso que merece reparo são os distribuidores do correio na Covilhã, conhecidos como carteiros. De quando em vez, e isto reportando-nos aos últimos anos, com forte incidência no que está em curso, é um autêntico caos na distribuição, nesta cidade dos lanifícios e universitária, que deveria ser mais respeitada pelos homens que mais parecem convertidos na ignorância de não conhecerem o nome das ruas da cidade – e tão só nos reportando à Rua Mateus Fernandes – com cartas frequentemente a ser entregues em números de porta errados. Já foram apresentadas várias reclamações por escrito e pessoais, mas o problema persiste.
Parece vir a propósito, pois acabamos de ler no Jornal O Gaiato, de 31 de março de 2018. “Informamos que desde 2016 até ao presente, mais acentuadamente no ano de 2017, temos conhecimento que muita correspondência que nos é dirigida, é extraviada, segundo contacto posterior do Remetente. Apesar de, por várias vezes, o comunicarmos aos serviços competentes dos CTT, o problema persiste. Esta situação tem provocado algum desconforto às pessoas que nos escrevem e que, não obtendo resposta à sua correspondência, ficam alarmadas e preocupadas com o que fazer, principalmente quando enviaram um cheque como donativo”.
Esperemos que tudo se recomponha para bem de todos, mas de todos, porque todos necessitamos da boa prestação dum serviço, seja ele qual for.



(In "Notícias da Covilhã", de 12/04/2018)

10 de abril de 2018

A POLÍTICA E A COMUNICAÇÃO EM ABISMOS FACEBOOKIANOS


Há muito que se adivinhavam receios de manipulação de massas, no seio de algumas redes sociais, mais em evidência no Facebook, tanto quanto sub-repticiamente. Agora veio aquele a ter de levantar o véu do seu artifício.
A sua utilização ousada como forma de entretenimento e de discussão de ideias, aceitando mexer com emoções, deu azo a que a racionalidade fosse rara de eficácia.
O Facebook, criado em 2004 por Mark Zuckerberg, para ser uma plataforma de comunicação entre pessoas, face aos acontecimentos de que é acusado e que dos mesmos fizeram acontecer situações catastróficas no planeta, tornou-se na perfeição de uma ferramenta destinada a explorar medos, inseguranças e ódios. Tornou-se um “monstro”.
Ainda que Mark Zuckerberg seja um génio, talvez comparável aos matemáticos da formação da Teoria das Probabilidades, dos séculos XVII e XVIII: James Franklin, Ian Hacking, Philippe Picard, Blaise Pascal, Fermat, Huygens, Jacob Bernoulli, Nicolaus Bernoulli, Pierre Montmort, Abraham de Moivre ou Pierre-Simon Laplace, que também tiveram alguns desentendimentos, mas, paradoxalmente, a credibilidade cresceu neles, ao invés do que agora aconteceu com o fundador do Facebook que ultrapassou os limites dessa mesma credibilidade, é demasiado penoso para quem pensa que também os seus dados pessoais possam ter sido utilizados para fins que não autorizaria.
A comunicação social não deixa de registar todas as peripécias desta rede social e dos seus mentores:
Matteo Salvini, o populista italiano que venceu as eleições legislativas em 4 de março disse: “Obrigado a Deus pela Internet, obrigado a Deus pelas redes sociais, obrigado a Deus pelo Facebook”.
Brad Parscale, diretor de campanha de Donald Trump, disse em Lisboa, aproveitando a Web Summit: “Ganhámos as eleições no Facebook”.
No referendo pelo “Brexit” britânico, que decidiu a saída do Reino Unido da União Europeia é referida  “uma análise de sentimentos aos utilizadores no Facebook, a par de uma segmentação muito fina de informação capaz de manipular as emoções dos eleitores”.
O jornal britânico Observer confirma que o próprio Facebook sabia de tudo mas optou por tentar esconder os factos do grande público.
E é pela recolha de dados do Facebook, de tão extensa e apurada, que os mesmos acabaram por ser comprados pela Cambridge Analytica, que, nos estudos para promover a compra de publicidade na rede social, o próprio Facebook demonstrou como conseguia influenciar os votos em vários escrutínios.
Das investigações, tornadas públicas, apercebeu-se a forma como decorreu a manipulação sobre a candidatura de Hillary Clinton, e a intervenção da Rússia, decisiva na campanha eleitoral americana a favor de Donald Trump.
As acusações de que a empresa britânica Cambridge Analytica usou o Facebook para recolher dados de cerca de 50 milhões de utilizadores, sem estes saberem, obrigaram o fundador desta rede, depois de algum silêncio, ao pedido de desculpas. E, posteriormente, a fazer alterações para maior privacidade e não utilização abusiva dos dados pessoais. Chega, ou é como colocar a raposa a guardar as galinhas?
Deu para perceber que o Facebook tende a privilegiar as publicações mais comentadas e partilhadas, não utilizando a credibilidade como critério. É assim apontado como fator decisivo na disseminação de informação tendenciosa e falsa, fenómeno que ficou popularizado pela expressão fake news.
Na União Europeia, onde a informação digital é considerada um direito fundamental, o uso indevido dos dados da empresa já foi alvo de várias investigações e até multado o Facebook.
Segundo André Macedo, a uma entrevista do economista e professor catedrático Manuel Mira Godinho, à RTP 3, refere que “há 90 anos, Estaline disse aos escritores soviéticos que a força ideológica era mais importante do que a capacidade militar e pediu-lhes que se tornassem engenheiros da alma humana. Quase um século depois, a digitalização das nossas vidas abriu uma via rápida para os recantos mais escondidos. A alma humana tem hoje a porta escancarada, nunca revelámos tanto sobre as nossas vidas, os nossos gostos e preferências e, nem sequer nos apercebemos da devassa e dos riscos que corremos, como a compra de dados do Facebook para fins políticos”.
Num país onde há muitos tolos, como o nosso, compete ao Estado agir, com outras ferramentas, as que tiver à mão, para limitar o poder destas entidades que nos estão acima. E como ninguém gosta de passar por pateta, por este andar certamente a conveniência é deixar de perder tempo em locais onde é exatamente esse o papel que nos destinam.
Nos dias que correm, a privacidade, ainda que imperfeita, é uma utopia. Estamos sempre descobertos. Vejamos, por exemplo, a nível de Estado, o e-fatura, como tudo aquilo que o fisco se arroga de saber. E, no meio desta floresta de enigmas da privacidade, ainda há; para além dos verdadeiros pobres, que ainda existem, até de mais; os novos pobres, que são os ignorantes, os que vivem sem tempo para pensar, falando de mais no Facebook.
Por cá, nesta terra laboriosa, laneira e universitária, curiosamente já se sente o silêncio dos predadores do Facebook de outras alturas.


(In "Fórum Covilhã", de 10/04/2018)