23 de outubro de 2008

FUGITIVOS

Da interessante crónica do professor Arnaldo Saraiva, no JF, sobre os vários medos, transpôs-me o pensamento para o tema que reporto, em três divisões (como poderiam ser muitas mais), daqueles que, por uma ou outra razão (muitas razões, para muitos), seguiram o destino dum abandono, numa perspectiva de “retirada”.

A nossa memória pode abarcar uma quantidade quase infindável de acontecimentos, como tenham sido passagens da vida familiar, académica, social, profissional, militar.

As estórias, ao longo da nossa vida, fazem a nossa própria história, recheada de ledas ou tristes emoções.

E na nossa própria existência, como humanos, vamos encontrar, na fugida do tempo, uma quantidade de eventos, alguns duma interessante cronologia.

Há uns meses atrás, numa visita hospitalar a dois familiares que tínhamos doentes, no mesmo quarto, na rotina ininterrupta do tempo, encontrei o José Armando Soares, que viveu nos Penedos Altos, e está radicado em Lisboa. Há quatro décadas estivemos na mesma unidade militar, em Leiria. O tempo fugiu. Nunca mais nos vimos.

No primeiro grupo de “fugitivos” vamos registar todos quantos, em vida, ou já para além desta, são encontro de recordações: num abraço de amizade, quando do reencontro, que não quer dizer que seja exclusivamente pessoal; na permanente memória dos que por cá deixaram rastos marcantes da sua existência, em domínios tão comuns como diferentes, e que já cumpriram a sua missão neste planeta.

Num segundo grupo, considero os “oportunistas”, ou seja, todos aqueles que, duma forma ou doutra, evitaram mais responsabilidades, para o esfumar de rastos das suas acções profissionais, gestoras ou governativas, menos concebidas. São sobejamente do nosso conhecimento algumas figuras da política governativa do nosso País. Mas, duma forma paradoxal, alguns conseguiram, além fronteiras, ser dignos senhores da representatividade internacional em que souberam ser investidos.

No terceiro grupo, os “fugitivos do medo”, situando-se aqui todos os que fugiram, pelas mais diversas formas, à vida militar, e suas consequências, em tempo de guerra subversiva, como nós tivemos a guerra do Ultramar. Os que mais se salientam foram os artistas e os escritores, que, depois do mar ter acalmado, chegaram como heróis, pois “lutaram” com a enxada que abria regos nos seus livros, e nos seu cantares. Foram desertores, e não exilados como alguns foram forçados, depois de combaterem o “bom combate”, na sua Pátria-Mãe, contra os agressores do povo, correndo riscos e suportando sofrimentos.

Mas, a Liga dos Combatentes que integra fortemente os combatentes do Ultramar, no seu ideal patriótico e de carácter social, é uma potência das memórias, onde também se regista o sofrimento, dos verdadeiros combatentes, na linha da frente.

Há ainda outros fugitivos, como os do tipo Felgueiras; do fisco e da Segurança Social…

(In Notícias da Covilhã e Kaminhos de 23/10/2008)