5 de novembro de 2009

CONFRARIA DO POLVO

1 – “A vozes loucas, orelhas moucas” talvez seja o provérbio adequado a um intelectualismo mediático que por aí grassa de quando em vez. Tal como a máquina que, não sendo cuidada, por negligência ou ignorância, pode gripar, assim a longevidade humana pode ser alvo de semelhanças, na falta duma lubrificação na sua lucidez.
Só faltou ao Sr. Saramago cuspir em cima da Bíblia, como a artista brasileira Maitê Proença o fez numa fonte dum monumento nacional, em Portugal.
Deliciou-se na expansão do seu ódio contra Deus, no seu monólogo interior, com a sua pena.
Depois, encontrou uma certa brandura, sem retaliações, de outros intelectuais e homens que têm uma visão diferente do ateísmo do Sr. Saramago.
Mas, sobre a Bíblia e, mormente, sobre a divindade que a insere, o Sr. Saramago despejou vómitos da sua estupidez mental; mas questionado sobre o Alcorão, aí, o controverso escritor, assumidamente agnóstico, rejeitou se envolver em polémica. Pudera, brincar com os islamitas é perigoso em qualquer local do mundo, seja em Lisboa ou em Lanzarote; que o digam o escritor Salman Rushdie, com a sua obra “Versículos Satânicos” ou o director do jornal dinamarquês Jyllands-Posten após a publicação das caricaturas de Maomé.
Segundo António Bagão Félix, “Uma coisa é Saramago defender o seu pensamento livre. Outra é o modo como o faz. Com acidez, arrogância, intolerância e sectarismo extremos. Pretensamente auto-dotado de uma superioridade intelectual e moral desde que foi galardoado com o Nobel, acha-se pateticamente acima dos outros”.
Também o director do Público, José Manuel Fernandes, refere que “A liberdade de expressão inclui, sem outra limitação que a vergonha própria, a liberdade de dizer disparates em público. Não é a primeira vez, nem deverá ser a última, que o escritor adopta o registo da provocação para chamar a atenção, até porque vivemos num país de muito respeitinho e o homem é uma espécie de ícone nacional. E como, por cá, ninguém reage com fatwua, Saramago pode tirar partido de uma liberdade de expressão que ele, curiosamente, não deu a quem trabalhou sob as suas ordens no Diário de Notícias no tempo da Revolução”.
2 – Cada vez mais emergem Confrarias em várias zonas do País. Dantes resumiam-se a uma meia dúzia. Hoje são à mãos-cheias. Só alguns exemplos: Confraria da Panela ao Lume (Guimarães); Confraria do Bacalhau (Ílhavo); Confraria das Tripas (Porto); Confraria do Queijo da Serra da Estrela (Oliveira do hospital); Confraria dos Nabos (Mira); Confraria dos Gastronómicos e Enófilos de Trás-os-Montes e Alto Douro (Mirandela); Confraria da Broa (Avintes); Confraria da Chanfana (Vila Nova de Poiares); Confraria da Fogaça (Feira).
Na nossa Região algumas já existem, como a Confraria do Azeite (Fundão) e, penso, que a Confraria da Cereja.
Fala-se na tentativa de implementação de novas Confrarias, como a Confraria das Feijocas (Manteigas) e outras acabaram por não ir avante, como a Confraria da Panela do Forno, na Covilhã. Também poderia surgir a ideia da Confraria do Pastel de Molho, na Covilhã, a Confraria da Cebola, no Tortosendo, a Confraria da Castanha, etc, etc.
Mas surgiu o tubérculo só conhecido na Covilhã e Região – a cherovia – que também se consome na Inglaterra, a quem Miguel Esteves Cardoso já se referiu na sua coluna do Público.
Promovida na Covilhã com dois festivais gastronómicos alusivos, pela Banda da Covilhã, e que se preparava para a criação da Confraria da Cherovia, vê-se agora oficialmente legalizada, duma forma apressada, por outros elementos estranhos à Banda da Covilhã.
Com tanta Confraria, levou-me a sugerir a criação da “Confraria do Polvo”, duma forma selectiva e desde que os confrades passem a ser chamados de “tentáculos”. Só poderão aderir todos quantos souberem saltar à Vara, em pau de Loureiro, em zonas de Penedos.
Com uma rede destes excelentes “tentáculos” (confrades), conseguiríamos formar a maior Confraria do País, e seria fácil a angariação de elementos, através convites para Lisboa, Oeiras, Gondomar, Felgueiras, Marco de Canavezes, não esquecendo o Zé Godinho, que até poderia oferecer um pão-de-ló, na altura da escritura da constituição da CONFRARIA DO POLVO.

(in “Notícias da Covilhã” de 05/11/2009, “Gazeta do Interior”, de 04/11/200,“Notícias de Gouveia”, Jornal “O Olhanense” e “Kaminhos”)