25 de junho de 2014

GESTÃO DE TALENTO

Domingo, segundo dia do início do verão deste ano do mundial de futebol no Brasil, e também do segundo jogo de Portugal, neste mundial, com os Estados Unidos, cujo resultado verificado, já em dia de segunda-feira, é o prenúncio do regresso a casa; ano também da saída dos invasores “troikanos”, na voluntariedade portuguesa; dos cortes e recortes salariais, dos milhões de impropérios com que as gentes das nossas gentes já brindaram os nossos governantes; mas, também o lado bom do que se passa na minha rua – uma rua covilhanense.
Desço a Mateus Fernandes, e, quando regresso, já com o “Público” na mão, vou lendo as mais gordas e a crónica do Vasco Pulido Valente. A capa já nem aterroriza de tão atordoados que andamos – “Mais 311 escolas do 1.º ciclo vão fechar no próximo ano letivo”. Ainda que os meus netos tenham sido uns ases, não posso deixar de meditar nos outros meninos e meninas, deste País, que os querem descalçar.
No princípio da crise ouvia dizer que a mesma é uma forma de gerar oportunidades. E, alguns, muitos, dezenas, centenas, talvez milhares, podiam fazer das tripas coração, como sói dizer-se, e não entrar num desespero à espera que o estado-providência viesse ao seu encontro, talvez num vício do passado preferindo ver a banda passar.
Se na Covilhã há empresas, que aqui se geraram e são um sucesso geracional, também na minha rua dá gosto ver a dinâmica de dois comércios tradicionais, numa força indómita contra a crise, na alegria do trabalho que é sustento dos que ali trabalham.
No inverso, vamos encontrar outras ruas da minha cidade repletas de estabelecimentos encerrados, alguns ainda com artigos amarelecidos no seu interior, pelo abandono, na tristeza do que outrora era a alegria de um rodopiar de entradas e saídas, quando o metro, em madeira, e o peso em balanças Avery eram o suficiente para dar aviamento à clientela, em vez das novas tecnologias de hoje.
Mas a modernidade é sinónimo de progresso, o que não equivale a mais mão-de-obra, e os novos tempos, numa globalização imparável, jamais podem ser refutados no seu acompanhamento se quisermos andar no pelotão, já não digo na sua frente, mas sem o perder. Até já há três portugueses que figuram entre os 705 candidatos que passaram a segunda fase do processo de seleção do Projeto Mars One para uma viagem sem regresso a Marte em 2025.
Quando entrámos na então CEE-Comunidade Económica Europeia, no 1º de janeiro de 1986, já então se insistia nas vantagens e nas exigências em irmos pertencer a um grupo de elite. Uns marimbaram-se para o assunto; outros começaram a compreender que as exigências da formação já não eram questões de patronato. Recordo-me de um dia, na Rotunda do Marquês de Pombal, em Lisboa, dirigindo-me para a sede da empresa de que eu era um dos funcionários externos, um vendedor ambulante, de fruta, tinha um papel colado no seu carrinho, a letras garrafais, que dizia: “Cerejas da CEE” – talvez sem saber porquê, mas já num sentido de viragem para a qualidade.
De acordo com o Relatório do Capital Humano do Fórum Económico de 2013, “constata-se que, no indicador “Capacidade de reter talentos”, Portugal ocupa a posição 111, entre 148 países, o que demonstra a relevância deste tema e a necessidade de proceder a uma análise do porquê desta situação, dado tratar-se de um indicador fundamental para o desenvolvimento do país”.
Existe já um grupo de empresas fundadoras da iniciativa “Like Portugal”, “um movimento privado que pretende comunicar e promover Portugal como um País para Crescer e Investir. Trata-se de um projeto independente da sociedade civil, cujo motor são as empresas, e que tem como objetivos trabalhar e promover a imagem de Portugal nos mercados externos e, dessa forma, contribuir para o esforço nacional de captação de investimento estrangeiro e de dinamização da economia nacional.
Felizmente que ainda há empresas em Portugal, com ramificações também nesta região beirã e na minha cidade – a Covilhã – com homens e mulheres que são duma extraordinária capacidade de liderança e de sentido de alterar o rumo daquele que foi pessimismo, para um ambiente altamente alegre no trabalho, apesar da crise, crise também de valores.

Dou, como exemplo, uma multinacional que alterou o nome do seu departamento de Recursos Humanos, como geralmente existe na generalidade das empresas, para Gestão de Talento. E refere o seu CEO: “Na nossa Casa, decidimos alterar esse nome que consideramos nefasto, porque achamos que um Humano não é um recurso, é, sim, um Ser Humano. Um Ser Humano gere recursos, não gere Humanos como sendo um recurso!”
(In "Notícias da Covilhã", de 26.06.2014)

10 de junho de 2014

REINSTITUIÇÃO

O Brasil é agora a forma de darmos brado ao nosso patriotismo, no amor aos símbolos pátrios, que, desenganem-se, não são a Bandeira e o Hino Nacional, mas tão só, agora, a Seleção Nacional e Cristiano Ronaldo.
Portugal que, para nossa infelicidade, dos nossos filhos e dos nossos netos, continua a não ser livre de tomar as decisões que quer e a conduzir os seus destinos como deseja, não obstante ter passado já o famigerado 17 de maio de 2014, fim (?) da incómoda troika e que, na versão metafórica de um governante do momento chegou a considerar aquela data um novo 1640, penso que é chegada a hora de todos nós nos assumirmos no sentido de nos livrarmos do jugo dos infiéis.
E esses “infiéis” estão infiltrados e disseminados por todos os lados, e por várias formas, num sofrimento, latente para alguns homens e mulheres do trabalho, ou, sem ele, aos milhares dos que o procuram; mas de raiva na grande maioria, e são aos milhares, neste Portugal de uma dezena de milhões de habitantes, por enquanto.
A classe média, quase transformada na “arraia-miúda”, grita, com a sua honra, contra tantos néscios, numa de fartar, vilanagem! É preciso que os “ventres ao sol”, em que nos quiseram transformar, venham exigir a reinstituição de Portugal.
Já se profetiza que Portugal poderá ficar reduzido a 6,3 milhões de habitantes em 2060. Nos dias que correm, ainda com mais uns milhões de pensantes, não se encontram alternativas que não sejam quase duma república das bananas, onde não há respeitabilidade por órgãos de soberania como é o Tribunal Constitucional. Com o contributo pensante de cada um, por que não exigir, até à exaustão, decisões governativas, ainda que dolorosas para alguns senhores detentores ou candidatos ao poder?
Em primeiríssimo lugar urge que todos, mas todos os homens e mulheres da política portuguesa, destacados nos mais diversos lugares, quer do governo, quer da presidência da república, quer das autarquias, assumam um compromisso de honra, não no papel mas nas suas consciências, de que vão desempenhar os lugares tão só para servir o povo e não para se servirem, como na generalidade tem surgido.
Neste contexto, é imperioso que aceitem ser fiscalizados permanentemente sobre os seus ganhos no início do desempenho das suas funções políticas, e, depois, no final, sujeitando-se aos valores salariais e de representação estipulados por lei. Um levantamento minucioso a todos os que ocuparem cargos políticos, quer central quer local, conhecendo o seu património antes e depois dos mandatos.
Que os mesmos sejam terminantemente proibidos, sob pena de serem alvo da justiça, e de anulação dos contratos, de integrar nos seus gabinetes, dos vários ministérios, câmaras municipais ou autarquias, familiares ou protegidos, sendo obrigatório, para o efeito de casos verdadeiramente necessários e imparciais, de que sejam previamente do conhecimento público, que se pronunciará sobre o assunto, pelas vias consideradas normais.
Que se eliminem muitos excessos nos quais nenhum governo de Portugal quer mexer, num mau exemplo comparativamente a outros países europeus, e não só, com mais poder económico e muito menos despesas, destacando, por exemplo:
- Reduzir o número de deputados de 230 para 180;
- O deputado deveria receber salário somente durante o mandato (limitado a duas ou três legislaturas). Não haveria direito a “reforma pelo tempo de deputado” mas tão só contar o prazo de mandato exercido para juntar ao seu tempo de serviço, como qualquer normal cidadão;
- Manter um teto salarial, em termos de pensões, para um máximo de 5.000 euros mensais, para todos os pensionistas, independentemente da sua atividade, e dos seus ganhos no ativo, quer de uma só atividade ou do somatório de várias atividades ou reformas;
- Proibição de salários exagerados para contratações de assessores dos gabinetes, sem experiência e sem que haja prova convincente da sua real capacidade para o desempenho da tarefa e o correspondente salário, que deverá ter um teto máximo;
- Forte rigor nas despesas de representação e de viagens em serviço, devidamente controladas, quer em Portugal quer no estrangeiro;
- Grande rigor na quantidade de assessores quer da presidência da República, quer do Primeiro- Ministro, Ministros e Secretários de Estado;
- Acabar de vez com a diferenciação, na assistência na saúde e na doença, assim como nos cálculos para a aposentação, incluindo no setor bancário, de uns terem tratamento como filhos  de Deus, e outros filhos do diabo; isto pressupõe que terão que se harmonizar os meios para que os menos beneficiados se aproximem dos que beneficiam de melhores condições;
- Eliminação pura e simples dos gabinetes com despesas evitáveis e mordomias, como motorista e outras, aos ex-presidentes da República, que deveriam, tal como atrás referi, usufruir do teto máximo de pensão mensal, como qualquer cidadão, e caso já estivesse na data legal para o efeito; assim como proibir a entrega de veículos para presidentes e assessores das edilidades, e, pura e simples proibição de pessoal, como motoristas privados.
Muito, mas muito mais haveria a constar do rol de exigências para se reinstituir Portugal, como a revisão urgente do Código Penal, impondo agravamento das penas, sem contemplações, em muitos dos crimes, obrigatoriedade na celeridade dos processos judiciais; proibição da prescrição das penas e punição exemplar para todos os homens e mulheres da justiça que propositadamente usarem de subterfúgios para a morosidade e ocultação dos crimes.

No que concerne à saúde, a defesa intransigente do Serviço Nacional de Saúde, e reposição de tudo o que foi retirado em prejuízo dos doentes.

(In "fórum Covilhã", de 10.06.2014)