17 de fevereiro de 2011

A TRILOGIA DO JORNALISMO

O Sr. António José Silva, director do jornal “O Sporting da Covilhã”, ficou inconformado com o meu artigo – “O ANTI-JORNALISMO – publicado neste semanário.

Não gostou da metáfora do “tiro nos pés”, pelo que, assim, a substituo por “saiu-lhe o tiro pela culatra”.

Esquece-se o director daquele jornal que, embora não sendo jornalista, as suas funções devem basear-se na VERDADE, e não na subserviência, pelo que o realçar propositadamente, em parangonas, na primeira página, as pedradas (substituo pelas “farpas”, já que o incomodam) lançadas pelo presidente da direcção do clube a alguns sócios, numa entrevista a uma rádio local, é exactamente o contraditório do que afirmam pretender, nalgum conteúdo do mesmo jornal – a união de todos os sócios.

Não me venha dar lições de moral, ou absurdas piadas, de amor ao clube, porque a “presunção e água benta”que lhe jorra das suas manigâncias, serve à sua carapuça. No artigo, do mesmo jornal, e na sua resposta ao meu texto, refere com muito interesse, que já havia surgido o jornal “O Leão da Serra” (de que foi director…), esquecendo-se de que antes dessa publicação o clube teve um outro atraente e entusiasta jornal, que deu pelo nome de “Jornal do Sporting da Covilhã”, saído no dia 25-04-1954, vivendo até ao ano 1958, com colaboradores excelentes, e cuja alma foi o saudoso José de Sousa Gaspar.

Ainda dentro da “presunção e água benta”, este escrevinhador já fez mais pelo clube que o director do jornal do SCC, e de muitos outros directores do clube, sem ser necessário estar lá dentro, e sem qualquer interesse para se promover, até porque não necessita do clube para nada.

O que este escrevinhador tem é uma grande alma pelo clube da sua Terra, divulgando-o desde há muitos anos; e, desde muito jovem, quando ainda era estudante, porque nunca soube o que era ter um mesada dos pais, já que não tinham recursos financeiros, viu-se obrigado a enfiar uma peta ao pai, pedindo-lhe dinheiro “para comprar material escolar”, mas que antes se destinava ao pagamento da quota do SCC – cinco escudos mensais, para estudantes – só que, chegado o período de férias, surgia o problema, deixava de ser sócio, porque não tinha dinheiro, e, por isso, o fui por três vezes, daí a razão porque só tenho o número 522 de associado.

O outro pilar do jornalismo é a LIBERDADE que é aquilo que o director do jornal do SCC não tem – está sob a alçada do clube que lhe impõe regras – porquanto a liberdade dos jornalistas (embora o director do jornal do SCC não seja jornalista) constitui a essência da informação independente, e, como tal, não permitiria que saísse para a rua um jornal de cariz agressivo. Será que no mesmo vai deixar opinar sócios contrários à versão da direcção actual?

Sobre a forma como inicia a sua resposta, com a citação aos “métodos para exercer a crítica”, não se recorda o Sr. António José Silva, que, nas vésperas das eleições do SCC se abeirou do meu escritório para me “alertar”de que “não podemos ir votar na lista da A.D.E.!!!”, afugentando-se com a minha resposta: “não preciso que me venha ensinar o padre-nosso!”.

Por último, o terceiro pilar do jornalismo é a RESPONSABILIDADE, pelo que um facto só é notícia se for verdade e aquele que age em liberdade, na procura da verdade, tem de responder pelas suas acções e omissões. Ser responsável é responder pelos seus actos. Daí que um director de jornal quando não sabe interpretar uma crítica que a endossa logo para destrutiva, não está lá a fazer nada e tão só transforma a publicação, que ufanamente dirige, num pasquim, a qual, na sua opinião, deveria ser de “importância para o Clube possuir esta forma didáctica/informadora ou de proximidade com a sua massa associativa”.

Onde é que vê colocar em causa a entrevista da jornalista da RCC? Fez o seu papel e nada tem a ver com o meu reparo, a não ser que a jornalista é que oriente o jornal.

Gostaria que o periódico que dirige informasse, já no próximo número, quais são “esses detractores que temos que acabar com eles no clube e até nos faziam um favor se deixassem de ser sócios”?

Depois, refere-se aos meus livros, mas é deles que ainda se serve para copiar páginas e fotos, para o jornal do SCC, quase num plágio, ainda que por via indirecta de um blogue, tendo a este autorizado a publicação das mesmas. Portanto, a responsabilidade é obra que não existe.

Termino porque o espaço deste semanário é importante, e dou como findos os esclarecimentos que se impõem, pois os estimados leitores saberão extrair as suas ilações.


(In Tribuna Desportiva de 8-2-2011 e Notícias da Covilhã de 17-02-2011)

3 de fevereiro de 2011

O SOBRETUDO DO EUSÉBIO

Ouvi o Eusébio falar da Covilhã – para mim o melhor jogador de futebol português de todos os tempo – na RTP, durante a homenagem que lhe foi prestada – Gala Eusébio – transmitida do Coliseu, no passado dia 25 de Janeiro, com os apresentadores Tânia Ribas e José Carlos Malato.

Pois disse que foi o seu colega, padrinho e amigo Coluna, que lhe emprestou o sobretudo quando veio jogar à Covilhã, onde rapou frio.

Puxando da memória, e procurando alguma coisa mais, verifiquei que o único jogo em que Eusébio participou na Covilhã, no então Campeonato Nacional da I Divisão, vai fazer exactamente 49 anos, no dia 18 de Fevereiro.

Nessa altura, os árbitros equipavam-se sempre de preto, excepto nos casos em que não era possível, face à mesma cor das camisolas dos atletas; as pontuações nas vitórias só somavam dois pontos; ainda não havia cartões amarelos ou vermelhos, embora houvesse registo das faltas e expulsões, que se faziam com gestos; um jogador da mesma equipa podia passar a bola ao seu guarda-redes e este apanhá-la com a mão; e não se podiam fazer substituições de jogadores durante os 90 minutos, para além do guarda-redes e só se se lesionasse…)

Foi exactamente naquele domingo do ano de 1962 que também eu apanhei uma contrariedade, pois quase a completar 16 anos, não pude ir ver essa partida de futebol, entre o Sporting Clube da Covilhã (SCC) e o Benfica (SLB), que acabaria por perder o encontro com os covilhanenses por 2-1. Era então o baptizado de um primo meu e a família tinha que estar na antiga igreja de Aldeia do Carvalho, onde o pároco, padre José Nabais Pereira (foi meu professor de Canto Coral, na Escola Industrial), que gostava muito de futebol, havia pedido à família do baptizado para que fosse mais cedo a fim de ele poder ir ao jogo.

O remédio que tivemos foi ficar na festa e, como na Pousadinha tinham colocado a energia eléctrica há pouco tempo, só alguns moradores ainda a tinham em casa. Daí que tive que ouvir o relato do jogo pelo Artur Agostinho, através duma telefonia existente na única taberna do lugar.

À noite, das poucas televisões que existiam nas casas dos mais abastados (só os cafés, clubes de bairro e salões paroquiais as possuíam) – pois só tinha surgido em Portugal, a preto e branco, e de um só canal, há cinco anos – lá se ouviam os comentários aos jogos pelo jornalista Alves dos Santos.

Mas vamos ao jogo. O SLB havia sido campeão europeu, e era treinado por Bela Gutman. À Covilhã não se deslocou o guarda-redes Costa Pereira, tendo sido substituído pelo suplente Barroca. Mas veio o Eusébio, José Augusto, Águas, Simões, Germano, Ângelo, Domiciano Cavem, Coluna e Santana.

O SCC estava a atravessar uma época difícil mas era na I Divisão, em tempo de crise, e o único clube do interior beirão, já que competia também o alentejano Lusitano de Évora.

No SCC jogaram o Rita, Carlos Alberto, Manteigueiro, Chacho, Adventino, Amílcar Cavem, Patiño, Lourenço, Lanzinha, Amilcar e Palmeiro Antunes. O treinador foi Mariano Amaro e o Presidente da Direcção era o Dr. José Calheiros, que sucedera a Ernesto Cruz.

Brilhante e indiscutível o triunfo dos covilhanenses sobre os campeões europeus. Amílcar marcou o primeiro golo do SCC e Chacho o do triunfo sobre os lisboetas.

Nesse dia foi “Dia do Clube”, e a receita foi de 99.682$00, cabendo ao SCC 38.102$10, mais 33.000$00 respeitante ao produto do “Dia do Clube”.

É também para que outras vedetas do desporto, e não só, possam referir o nome da Covilhã, como o memorizou Eusébio, que o SCC tem que rasgar o véu das dificuldades que o emergem, e regressar ao encontro dos grandes, de cujo seio se afastou, duma forma efémera, há quase 23 anos, afastamento em número de anos igual ao que acontecera com a baixa de divisão em 1962 e regresso efémero em 1985.


(In Tribuna Desportiva, de 1-2-2011 e Notícias da Covilhã, de 3-2-2011)