27 de novembro de 2013

O BOM POVO PORTUGUÊS

De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), há cinco meses que o desemprego tem descido em Portugal, agora de 1,1%, depois de um longo período de aumento. Mas, notícias mais frescas, agora do Instituto Nacional de Estatística (INE), no terceiro trimestre deste ano a taxa de desemprego em Portugal foi de 15,6%, quando em março deste mesmo ano estava próxima de 18%, sendo muito cedo para cantar vitória, segundo as palavras de Pires de Lima. As pequenas e médias empresas, que contemplam o maior número da população trabalhadora, têm grande peso na estrutura empresarial deste país. Representam noventa por cento do tecido empresarial português.
 Mas há ainda um mar de gente, entre famintos, desesperados, e deprimidos pelas contínuas desgovernações deste país, que conduzem a situações mórbidas nas suas vidas.
Apesar dos índices focados, não há ainda o vislumbre de uma esperança, e, quando se tenta ver a luz ao fundo do túnel, mais não surge que um mero sonho que passou.
E até o relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) vem dizer, categoricamente, que urge um alívio da austeridade, pois tudo o que se está passando é uma situação há muito não vista na história portuguesa, tendo-se perdido desde 2008 um em cada sete empregos – “a mais significativa deterioração do mercado de trabalho entre países europeus, depois da Grécia e de Espanha”.
Mas, afinal, “no Portugal de hoje há excesso de talento disponível, muito do qual se vê forçado a emigrar. Estamos pois num mercado em que os empregadores não têm que se esforçar muito para contratar talento, muito menos para o reter”, segundo as palavras do CEO da Liberty Seguros, José António de Sousa, que já deu grande contributo à Covilhã. As pessoas querem trabalhar numa situação de respeitabilidade “em que seja claro que as oportunidades de carreira assentam no reconhecimento meritocrático puro e duro, e não para quem é amigo do chefe”, segundo as suas eloquentes palavras, “porque o ser humano é intrinsecamente bom e honesto”, sendo de primordial importância a existência ”duma cultura de empresa em que se celebra o êxito, com uma hierarquia o mais horizontal possível, numa cultura em que é a qualidade do indivíduo, e o seu contributo ao êxito coletivo, e não o pomposo do título que ostente” que vai direcionar-se para o sucesso, ainda acrescentou.
O pensamento retrai-se para os tempos que jamais pensávamos passar, na sua similaridade, das conversas de nossos pais e avós, para os anos 30 e 40 do século passado, durante e nos pós grande guerra mundial: racionamento, greves, guerras civis, bancarrota, atentados.
Não havendo no entanto qualquer perigo do retorno ao antes do 25 de Abril, nem o desejo convertido de “Oh Tempo Volta Pra Trás”, na memória do recentemente desaparecido António Mourão, o que é certo e verdade é que, para muitos e muitos portugueses e portuguesas de boa vontade, os versos “As horas pra mim são dias; os dias pra mim são anos; recordação é saudade; saudade são desenganos” ficam-lhes bem expressos nos vincos que fazem rugas nas suas faces com ar de sofrimento.
E não há Guião da Reforma do Estado, ainda que com ridículas 112 páginas em corpo 16 e espaçamento a duas linhas, que venha resolver a situação futura do país.
O economista Vtor Bento apontou a necessidade de um “pacto político-social” entre os partidos considerando que mais que o seu conteúdo os políticos se devem “habituar a conversar e a encontrar pontos de compromisso” porque “não adianta ter razão sozinho”.
Temos que voltar a viver sem as algemas da troika e sairmos deste terrível protetorado.
É indubitável que muitos maus exemplos vêm de quem nos governa, e daquela instituição que se chama Assembleia da República, onde se insere a loira, segunda representante máxima de todos nós; dos ministérios, e da Presidência da República, que, aos brados de quem sente os sofrimentos de vária índole, quantas vezes não cantarão, para dentro de si, o “Tiro Liro Liro”, da Amália Rodrigues.

(In "Notícias da Covilhã", de 28.11.2013)

12 de novembro de 2013

CONTENTAMENTO DESCONTENTE

A diversidade de informação que diariamente chega pelas vias das novas tecnologias, e também pela tradicional em papel, é enorme.
De quando em vez lá faço uma limpeza aos blogues parados, diários digitais que dormem, e outros que foram extintos, alguns onde até havia colaborado.
No meu e-mail cai uma chusma de informação: destaques do “Vida Económica”, jornais do dia, últimas notícias, notícias ao minuto, diário digital, diário digital de Castelo Branco.
Depois, ainda uma saída ao quiosque habitual para adquirir o meu jornal diário, e também alguns semanários da região, sem que, por vezes, tenha antes que retirar da minha viatura, estacionada, o papelinho no para-brisas, do “grande astrólogo médium africano” que diz que trata e ajuda a resolver, com rapidez, qualquer problema que seja do meu caso, mesmo que seja grave, diz o chato malabarista...
E, se quisermos dar uma vista pelas capas dos diários de todo o mundo, verificamos que, em Portugal, só lá vemos o “Jornal de Notícias”, o “Diário de Aveiro”, o “Diário de Coimbra” e o “Público”. Por vezes, o tema genérico é quase uniforme nas capas dos jornais de quase todos os países do mundo.
Neste país que é uma tragédia, como o classificou o Jornal de Angola, com a economia a afundar-se e, principalmente os jovens, a fugirem de Portugal, aproveitando-se assim, outros países, da formação que este Portugal tomou de encargos com os mesmos ao longo de décadas, o medo do futuro e do desespero é um facto insofismável.
Diariamente ouço, nos noticiários matinais da Antena 1, uma breve entrevista com “Um português no mundo”, onde todos se manifestam satisfeitos por terem saído de Portugal, mas sempre com aquela dose de saudade por coisas que, daqui, lá não encontram. É o nosso sol, a nossa comida, o nosso café, o afeto dos familiares e amigos. É neste contentamento descontente que muitos dos nossos concidadãos foram constrangidos a esta vida, num êxodo cada vez maior, quase atingindo os níveis da década de sessenta do século passado. E até os imigrantes, esses estrangeiros a residir em Portugal, recuaram para níveis de 2005, abandonando este país, em 2012, perto de vinte mil.
Neste já medo de ter medo, qual fobia, verificamos que Portugal é o quarto país mais envelhecido da União Europeia. No primeiro semestre deste ano nasceram menos quatro mil crianças do que no mesmo período de 2012. Entre janeiro e abril as mortes suplantaram em quase doze mil total de nascimentos. Segundo o Eurostat, trinta e seis por cento da população terá mais de 65 anos em 2050.
E é assim que, no seio dos nossos governantes; cujo Governo atual “é uma caricatura, um excesso de mentiras e pouca-vergonha, uma organização de rapina que governa sem qualquer escrúpulo, o que temos é um Governo não de salvação mas de traição nacional”, segundo as palavras de José Vítor Malheiros; vemos a desvalorização da dignidade do trabalho, tratado como a culpa e um custo, em vez de ser uma condição, um direito e um valor.
É tal o desprezo que estes levitas de hoje têm pelo seu povo, que mais parece no tempo dos leprosos, atirando-nos cada vez para mais longe, mais distantes das possibilidades de acesso à subsistência, ao prosseguir duma vida condigna, e não na vergonha por que jamais pensariam muitos passar, neste longo processo de empobrecimento que nem os partido nem Cavaco conseguem parar.
Penso mesmo que daqui por poucos anos, veremos o espetáculo de um governo a sair e outro a entrar, e, com tanta tendência para a asneira, nesta grande ignorância, teremos o povo certamente a descer à rua, sem saber o que quer, nem perceber o que pede.
Lamentavelmente, perdemos a oportunidade democrática que o 25 de novembro e a adesão a Bruxelas nos trouxeram.
Nestes tempos que correm, com este maldito Governo, e dum chefe de Estado que espera que primeiro chova, tudo é permitido para conservar o poder, e, como um dia um presidente dum clube nortenho disse, “o que hoje é verdade, amanhã é mentira”. Perdeu-se a cultura da verdade, do sentido de responsabilidade e da confiança, bem expressa na decisão revogável da “irrevogável” indecisão dum mestre em beijocas pelas feiras e mercados deste país.
Por alturas do nosso contentamento estival, o crescimento regressou à Europa à boleia da Alemanha e da França, tendo assim o PIB da moeda única quebrado um ano e meio de ciclo negativo, apesar de haver divergências entre alguns países, puxando cada um para seu lado, continuando, no entanto, a Itália, Espanha e Holanda em recessão. É então que Pires de Lima, o nosso ministro das economias, vem a dizer que começam a surgir sinais de forma consistente que se vão acumulando no sentido de confirmar a ideia de que naturalmente estamos num momento de viragem económica. No entanto, o vice-presidente da bancada do PS afirma que é um contentamento descontente se o Governo insistir a fazer o corte de salários, pensões, reformas ou despedimentos na administração pública, o que passaremos de um terceiro para um quarto ano de recessão, o que, de facto, aconteceu.
É que os “nossos” governantes vivem noutro mundo e nenhum pode vir dizer que é Portugal que lhes interessa, sendo que a única coisa que é da sua importância é que os não lixem a eles próprios.
Tivemos as eleições autárquicas, e, na expressão das principais Câmaras do país, com incidência primordial na de Lisboa, António Costa, o presidente eleito incontestavelmente, viu-se também embrenhado naquele contentamento descontente de quem sabia ter perdido a última oportunidade para ser o protagonista das próximas eleições na liderança do seu partido.
Precisamos ardentemente de alguém, de um conjunto de pessoas idóneas, sinceras, de confiança para podermos levar de vencida este mal que caiu sobre nós, fazendo cair por terra todos estes nababos parlamentares, e da governação, que entravam o caminho do progresso de que o povo está á espera.
É por isso que amamos só quem nos ama nesta vida terrena, porque, segundo o nosso poeta Luís de Camões,
                           Amor é fogo que arde sem se ver;
                          É ferida que dói e não se sente;
                          É um contentamento descontente;
                          É dor que desatina sem doer.

(In "fórum Covilhã", de 12.11.2013)

11 de novembro de 2013

FALECEU COUCEIRO, VELHA GLÓRIA DO SPORTING DA COVILHÃ

Chegou-nos a infausta notícia da morte de Bento da Silva Soares Couceiro, em 27 de outubro, antigo defesa esquerdo do Sporting Clube da Covilhã, dos tempos da I Divisão Nacional, e depois na II, onde foi grande obreiro em muitas vitórias.
Encontrava-se há muitos anos radicado em Gouveia, onde treinou o Desportivo local e era muito acarinhado pelas suas gentes, como também o fôra aquando da sua permanência na Covilhã, quer como atleta de alto gabarito, quer como treinador dos juniores, quer ainda como comerciante.
Nasceu em 26 de dezembro de 1931, em Tentúgal (Montemor-o-Velho). Era casado e tinha dois filhos.
Depois de ter deixado a Covilhã como comerciante de vestuário, assentou arraiais em Gouveia, continuando a sua atividade de comerciante, mas agora na restauração, a par da continuidade de treinador de futebol.
Iniciou o futebol nos juniores do Sporting Clube de Portugal (duas épocas), em 1949/50, tendo representado o clube leonino até 1951/52.
Foi cedido, a título provisório, ao Luso F.C. (Barreiro), estando um ano neste clube, após o que regressou ao Sporting, em 1953/54.
Acabou por ser dispensado ao Sporting da Covilhã (SCC), na época de 1954/55, ocupando o lugar de defesa esquerdo, com todo o mérito, até 1963, altura em que lhe foi prestada uma justa homenagem na sua festa de despedida, terminando assim a sua carreira como jogador.
Foi várias vezes o capitão do SCC, tendo chegado a ser convocado para os treinos da Seleção Nacional, juntamente com Fernando Cabrita e José Rita.
Depois do SCC, passou a exercer o cargo de treinador do Desportivo de Gouveia, Mangualde. Guarda e Académico de Viseu, tendo antes desempenhado o cargo, no SCC, quando faltava o técnico e também nos juniores.
No C. D. Gouveia levou o clube à II Divisão Nacional, onde permaneceu sete anos.
Perguntei-lhe um dia qual o melhor momento que passou no SCC, tendo Couceiro se direcionado para o quinto lugar obtido na I Divisão nacional; o ter sido campeão da II Divisão Nacional, na época de 1957/58 e na Final da Taça de Portugal, e ainda tantos outros ao longo dos anos que jogou nos Leões da Serra.
Duma breve estatística da sua passagem pelo SCC, obviamente que só reportada ao tempo em que participou na I Divisão Nacional, pois também ainda jogou na II Divisão quando o clube baixou, Couceiro efetuou 142 jogos e marcou 5 golos neste campeonato nacional, hoje I Liga.
Participou ainda no regresso do clube à I Divisão, e foi campeão da II Divisão, em 1957/58.
Já na Taça de Portugal integrou a camisola dos leões serranos em 19 jogos e marcou 4 golos.
Foi dos jogadores mais utilizados na I Divisão Nacional, ao serviço do Sporting da Covilhã, com 142 presenças, como já referi, situando-se em sexto lugar, sendo que o falecido Pedro Martin foi o que teve mais presenças, com 194 jogos e 25 golos, seguido de Carlos Ferreira, Helder Toledo, António José (guarda-redes) e Amílcar Cavem. A seguir a Bento Couceiro, nas presenças com a camisola serrana, surgiu João Tomé, com 138 e 41 golos, ainda vivo, embora muito doente, assim como Amílcar Cavem. Todos os restantes já faleceram.
Como melhores marcadores na I Divisão Nacional de Futebol, no SCC surge André Simonyi, já falecido, que, em 86 jogos marcou 74 golos. Seguiram-se Vitoriano Suarez, ainda vivo, residente no Brasil, que em 97 jogos marcou 66 golos; depois Manuel Livramento, falecido, que em 121 jogos marcou 53 golos.

Que Deus tenha em paz esta Velha Glória do Sporting Clube da Covilhã.

(In "fórum Covilhã", de 29.10.2013; "Notícias da Covilhã", de 31.10.2013; e "Notícias de Gouveia", de 08.11.2013)