30 de setembro de 2023

OS MALANDROS NO FACEBOOK

Há muito tempo que uns tratantes se infiltram nas redes sociais, e, neste caso, no Facebook, com intenções malévolas, enganando os "amigos" do Face, e não só, com indicações várias, nomeadamente com novos pedidos de amizade. 

Depois surgem mensagens enganadoras, colocando algumas vezes em jogo a reputação dos verdadeiros amigos, e outras perniciosas coisas mais.

Já fui algumas vezes incauto, nestas situações, dado que utilizo muito a Internet, em várias vertentes.

Assim, venho, mais uma vez, informar que se alguém pedir amizade em meu nome, ou escrever mensagens  também em meu nome, fizer ofertas de venda da Lua, em meu nome, verifique bem a proveniência e, em caso de dúvida, ou se já for "Amigo", vale mais perguntar se fui eu que pedi novamente amizade ou coloquei novo perfil. É fácil verificar. Convém denunciar o caso. No entanto o meu telemóvel está disponível para os devidos esclarecimentos:  - 965088169. 

Obrigado.

João de Jesus Nunes

20 de setembro de 2023

DA PULHICE DO “HOMO SAPIENS” À REVIRAVOLTA PARA A DEMOCRACIA

 


Na procura de um livro numa das prateleiras da minha biblioteca, veio-me à mão, amarelecido devido ao seu envelhecimento de nove décadas, o livro Da pulhice do “Homo Sapiens”, de Humberto Delgado, o qual, entre parêntesis ainda adiciona, na capa (Da Monarquia de vigaristas pela República de bandidos – à Ditadura de papa). Publicado em 1933, foi o primeiro livro de Humberto Delgado e perfaz precisamente 90 anos neste ano de 2023.

Não é tanto pela antiguidade da obra em si, pois possuo outro ainda mais antigo, com 144 anos (Manual Encyclopedico para uso das Escolas de Instrucção Primária), editado em 1879, mas pelo simples facto da figura histórica que o mesmo envolve.

Na data da publicação do primeiro livro de Humberto Delgado, tinha ele 27 anos e Salazar já estava no governo de Portugal desde 1926 (duas semanas), e, depois (em diante), desde 1928 até 1968/70... Começou a escrevê-lo em 1931, inspirado a partir da leitura dos feitos de Mouzinho de Albuquerque em Moçambique e em particular na chamada “pacificação” dos vátuas e do seu imperador, Gungunhana.

Segundo alguns analistas, é um importante documento de história política, em que o autor, socorrendo-se de uma linguagem cáustica e interpretando o estado da sociedade e da política portuguesa de novecentos, traça um quadro em que ressaltam as grandes dificuldades de Portugal nos anos que antecederam o final da Monarquia, e criticando, de igual forma, os homens da República e a sua atuação após o 5 de outubro.

Exprime ainda o seu descontentamento acerca de certas práticas da Ditadura que se instala após o golpe de 1926, porém, a sua visão geral desta é favorável. Não se inibe de contradizer de forma colérica e aviltante os detratores ideológicos de Salazar e do Estado Novo, personalidade que descreve como “Grande Homem”.

Participou no movimento militar de 28 de maio de 1926, que derrubou a República Parlamentar e implantou a Ditadura Militar que, poucos anos mais tarde, em 1933, iria dar lugar ao Estado Novo liderado por Salazar. Durante muitos anos apoiou as posições oficiais do regime salazarista, particularmente o seu anticomunismo.

Senhor de um caráter dinâmico, extrovertido e agressivo, Humberto Delgado destacou-se pela sua oposição à democracia parlamentar nos primeiros anos do regime, escrevendo o livro polémico a que fazemos referência. Já vimos que também nele manifesta simpatia por Salazar e a sua obra, e em 1941 Humberto Delgado chega publicamente a assumir simpatia por Hitler. No entanto, com o decorrer da II Guerra Mundial, as suas simpatias passaram para os Aliados.

Surge, entretanto, a sua oposição ao regime. Os cinco anos que viveu nos Estados Unidos modificam a sua forma de encarar a política portuguesa. Convidado por opositores ao regime de Salazar para se candidatar à Presidência da República, em 1958 contra o candidato do regime, Américo Tomás, aceita, reunindo em torno de si toda a oposição ao Estado Novo.

Numa conferência de imprensa da campanha eleitoral, realizada em 10 de maio de 1958 no café Chave de Ouro, no Rossio em Lisboa, quando lhe foi perguntado por um jornalista que postura tomaria em relação ao Presidente do Conselho Oliveira Salazar, respondeu com a frase “Obviamente, demito-o!”.

Esta frase incendiou os espíritos das pessoas oprimidas pelo regime salazarista que o apoiaram e o aclamaram durante a campanha com particular destaque para a entusiástica receção popular na Praça Carlos Alberto, no Porto, em 14 de maio de 1958. Passou então a ser cognominado “General sem Medo”. Viria a ser assassinado pela PIDE, juntamente com a sua companheira, em 13 de fevereiro de 1965, em Badajoz, Espanha.

Tudo o mais que se possa acrescentar já é do conhecimento generalizado dos Portugueses.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 20-09-2023)

19 de setembro de 2023

NO TEMPO DO MEU TEMPO

 


Regressado de umas breves férias, não encontrava assunto para uma crónica, em tempo já reduzido para a sua publicação. Até que, um email do meu Amigo Fernando Pedrosa Gonçalves, do Porto, que colaborou nalguns dos meus livros, me envia memórias do velho Porto, do início do século XX.

Vai daí, eu que nasci em meados do século passado, me deu para reportar algo do que se passou no ano de 1946. Durante todo este tempo até aos dias de hoje, já lidei com neuróticos, stressados, depressivos, hipocondríacos, bipolares, dementes, delirantes, amnésicos, fóbicos, obsessivos, compulsivos, insones, bulímicos, anoréxicos, hiperativos, e sujeitos a tiques.

Mas vamos lá, é ao ano da graça de 1946 que eu me quero referir.

Era Presidente da República, o marechal António Óscar de Fragoso Carmona, num Portugal com uma população de 8 178 360 almas, em que nasceram 107 128 pessoas do sexo masculino e 98 697 do sexo feminino, sendo que os falecimentos corresponderam, respetivamente, a 62 050 e 58 750. Os casamentos registaram 62 460 contra 1 181 divórcios.

Neste ano vieram a ver a luz do dia pela primeira vez, Xanana Gusmão, de Timor-Leste; George W. Bush, presidente dos EUA; Emerson Fittipaldi, piloto de automóveis brasileiro; ou Steven Spielberg, realizador e empresário norte-americano, entre outros. Quanto aos que partiram além-túmulo, destaco neste ano Abel Salazar, pintor e ensaísta, cujo funeral deste prestigiado intelectual oposicionista, professor universitário, resultou numa manifestação de protesto contra o Estado Novo.

Mas entre nascidos e os que passaram para o outro lado da vida, não deixou de se registarem tragédias mundiais neste ano: um intenso tornado atinge Windsor, destruindo mais de 400 habitações e causando a morte a 9 pessoas; tsunami de 14 metros atinge Hawai – 173 mortos e milhares de feridos; a época do Furacão do Atlântico durou seis meses, com 6 tempestades, causando 5 vítimas.

Os líderes internacionais eram então: França: Charles de Gaulle/Félix Goulin/Georges Bidault/Léon Blum. Itália: Alcide De Gasperi. Reino Unido:  Clement Attlee. EUA: Franklin Roosevelt/Harry S. Truman. Vaticano: Papa Pio XII. Alemanha: Administrada pelas Forças Aliadas. Espanha: Francisco Franco.

Tendo como pretexto as comemorações de mais um aniversário da primeira tentativa revolucionária da instauração em Portugal de um regime republicano, Lisboa e Porto foram novamente palco de manifestações onde se exigiu o fim da ditadura e a instauração em Portugal de um regime democrático.

Várias iniciativas públicas, da responsabilidade do Governo e da União Nacional, marcam o 18.º aniversário da primeira nomeação de Oliveira Salazar para o cargo de Ministro das Finanças de um executivo de Ditadura Militar.

Ocorreram em diversos centros industriais, piscatórios e mineiros do país, greves e manifestações de protesto contra o continuado agravamento do custo de vida e em defesa de melhores salários.

O governo de Oliveira Salazar apresentou o pedido de adesão de Portugal à ONU. Esta solicitação foi, no entanto, vetada pela URSS com o argumento de que o Estado Novo continuava a ser um regime fascista, diretamente responsável pela vitória dos “nacionalistas” em Espanha, colaborante e parceiro comercial da Itália de Mussolini, da Alemanha de Hitler e da França de Pétan antes e durante a II Guerra Mundial.

Exigindo a melhoria das condições de vida e a instauração de um regime democrático, os operários têxteis da zona da Covilhã realizaram um movimento grevista de grande amplitude.

Transportados no navio Guiné, chegaram a Lisboa e foram libertados 110 dos presos políticos, até então detidos no Campo de Concentração do Tarrafal.

Falhou na Mealhada uma tentativa de golpe militar que, partindo do Porto (do Regimento de Cavalaria 6, sob o comando do capitão Fernando Queiroga) visava derrubar a ditadura.

Morre aos 58 anos, John Logie Baird, um dos inventores da televisão. Em 1946 havia 6000 aparelhos de televisão nos Estados Unidos. Cinco anos mais tarde havia 12 milhões.

Num discurso pronunciado em Fulton (nos EUA), Winston Churchil (dirigente do Partido Conservador e primeiro-ministro da Grã-Bretanha durante a II Guerra Mundial) criticou violentamente a União Soviética, referindo-se à “cortina de ferro” que dividiria a Europa em “povos livres” (a ocidente) e “povos dominados” (a leste). Tornava-se, assim, público o divórcio entre os antigos aliados e o início da Guerra Fria.

O Reino Unido prepara um plano para separar a Palestina em dois Estados independentes, um judeu e outro árabe.

O governo trabalhista de Londres anunciou a sua intenção de reconhecer o direito da Índia à independência. No entanto não chegaram a acordo quanto às modalidades concretas da estruturação do(s) novo (s) Estado(s).

A primeira Assembleia Geral das Nações Unidas, incluindo 51 países, realiza-se no Westminster Central Hall, em Londres.

Termina o julgamento por crimes de guerra celebrado em Nuremberga, Alemanha. Dos 21 dirigentes nazis sob julgamento, 11 foram condenados à morte e os restantes sentenciados a extensas penas.

O texto já vai longo pelo que não vou poder falar de cultura neste período. Faço uma exceção em novidades literárias com a publicação do romance de Natália Correia – Anoiteceu no Bairro.

Na moda ao terminar a guerra é instituído, na Inglaterra, o programa de roupa “pró-desmobilização”. As roupas eram produzidas em massa de acordo com as normas de utilidade – eram resistentes mas pouco estilizadas. Surge o espartilho curto de Rochas. Em Paris é sensação o novo fato de banho de duas peças – o bikini. O primeiro modelo foi desenhado pelo estilista Louis Réard, em 1946, mas foi somente nos anos 60 que a peça se tornou popular. O nome desta invenção, ousada para a altura, deriva de uma ilha do Pacífico – Bikini – que foi usada para testes com bombas nucleares. A intenção era, assim, sugerir que esta reduzida peça de roupa tivesse um efeito bombástico na sociedade. E teve. A sociedade tentou resistir, até que ousadas atrizes de cinema começaram a fazer uso do biquíni. Brigitte Bardot foi a primeira a fazê-lo no filme E Deus Criou a Mulher. Com o tempo, a peça popularizou-se e foi ficando cada vez mais ousada, até que nos anos 80 uma modelo brasileira lançou o “fio dental”.

João de Jesus Nunes                                                                                     jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 15-09-2023)


11 de setembro de 2023

À SOMBRA DE UM CHAPARRO

 

Tempo de férias. Agosto. Que calor! UF! Para uma grande parte dos portugueses assim acontece. De vez em quando lá vem uma brisa, um ventinho para aliviar o calorento dia.

A Volta a Portugal em Bicicleta já terminou. Mas ainda há muitos emigrantes. Aproveitam as festas e romarias existentes por todas as regiões, onde o sagrado e o profano se misturam. As JMJ que fizeram fervilhar o país, também já terminaram. O mês de agosto a caminhar para o seu final. O que ainda não terminaram são os incêndios que continuam a grassar pelo território.  E os mais de 40 graus de temperatura em boa parte deste País.

Os turistas estrangeiros dão um forte contributo à vida social, onde encontram na restauração, por exemplo, um prazer alimentar mais acessível. Não é que a sua curiosidade não deixe de visitar pontos de grande interesse histórico, e não só, que mais não seja, o sol e o mar, que é sempre um atrativo desta varanda da Europa sobre o Atlântico.

Também já começou o futebol para os periódicos desportivos e os comentadores televisivos se poderem entreter na discussão do golo mal anulado, ou daquela irregularidade que o VAR deixou passar, lançando a incredibilidade na chusma dos mandantes no desporto, ou que do mesmo se alimentam.

Daquela garota espanhola, Jenny Hermoso, campeã mundial do futebol feminino, que foi beijada na boca pelo presidente da federação espanhola, Rubiales, isso não é connosco. Nem tão pouco nos importa a morte do famigerado chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, pois isso é lá com Putin.

Mesmo assim, temos um tempo de procrastinação. Quase com a sealy season no seu expoente máximo. Os artigos de opinião são de alguma pobreza e os nossos políticos, por muito graves que sejam os problemas do País, foram a banhos. Já o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa optou por uma viagem até à Ucrânia, para dar um abraço ao seu amigo Volodymyr Zelensky.

Pois é, estamos em pleno verão, tempo de férias. Como acontece todos os anos nesta época, o número de espetadores da televisão diminuiu. Os canais de televisão, que eu raramente vejo, preenchem este período com repetições e alguns programas que tiveram êxito no passado. Durante a semana preenchem-se os dias com telenovelas à tarde e/ou à noite. E nem mesmo a publicidade é agradável. Aquela enfadonha publicidade da NOS não tem nada que dela se aproveite de atraente.

É um agosto “a gosto ou sem ele...” conforme refere a escritora Antonieta Garcia, numa das suas últimas crónicas.

Mas este tempo é por demais cansativo para quem pretende escrever. O que vai valendo é o ar condicionado para dar alguma tranquilidade. Sabe bem a leitura fora de casa, como num banco de madeira do Parque Florestal, por exemplo. Em lugares aprazíveis da Serra da Estrela, interrompidos por vezes pela passagem de rebanhos de cabras e ovelhas. O cão que os guarda também é afetado pelo calor e muitas vezes vê-se pachorrento e sentado a descansar. Pudera! Ainda não chegou a sua vez de aprender a ler. Talvez com a Inteligência Artificial isso se venha a conseguir.

Gosto de ler debaixo da sombra de árvores, sejam pinheiros ou eucaliptos, árvores de fruta por preferência, mas nunca consegui fazê-lo à sombra de um chaparro. Embora já estivesse algumas vezes sentado.

Os combustíveis, mais uma vez, aumentaram. Para a próxima quinzena há mais. Boas férias!

 

João de Jesus Nunes

Jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 01-09-2023)