29 de janeiro de 2009

JOSÉ DE SOUSA GASPAR – UM AMIGO QUE PARTIU

À Covilhã, que o viu nascer, consagrou grande parte da sua vida, duma forma simples, sem querer dar nas vistas, com uma alma de verdadeiro homem de bem e uma grande dedicação às causas da sua Terra.

Há já bastante tempo que, retirado de qualquer envolvimento no associativismo, víamos este homem, de caminhar lento, do “Repolho” para o seu escritório na Visconde da Coriscada, onde passava o seu tempo, e, depois, a caminho de casa em Santa Maria.

Eram assim os seus dias, depois de ter deixado para trás uma participação em vários organismos, de acção profícua, que a história covilhanense não poderá esquecer.

Foi distinguido por várias instituições, com diplomas de mérito, e pela edilidade covilhanense, onde integrou a Comissão Administrativa após o 25 de Abril.

Quando muitos se apregoam os arautos de acções influentes na vida da cidade ou suas instituições, Sousa Gaspar, na sua simplicidade, de fino trato e saber ser, deixou marcas indeléveis da sua passagem que jamais se poderão apagar.

No Sporting Clube da Covilhã foi incansável na dedicação ao desporto em várias modalidades, numa das quais se integrou como atleta, incentivando para que o mesmo se implantasse verdadeiramente na cidade, patente no lema “alma sã em corpo são”, naquele tempo longínquo em que se projectava o Pavilhão de Desportos para a Cidade.

A sua escrita registou muito da sua sensibilidade pela causa e defesa do Sporting Clube da Covilhã, em páginas da imprensa regional, e não só, dos seus valores e dos vultos do clube das épocas de então, procurando transmitir o que de bom se fazia nesta Cidade em tempos também difíceis, incluindo os das vias de acesso à cidade. Na Direcção, liderou o clube leonino, durante cinco anos, além de participar noutros órgãos directivos.

Quem se abeirava de Sousa Gaspar encontrava sempre um sorriso e, além de mais, palavras de incentivo, sendo um profundo conhecedor do meio citadino.

Nos Bombeiros Voluntários da Covilhã, onde foi Presidente da Direcção durante cinco mandatos consecutivos, deixou a marca de ter sido um dos melhores líderes, emparceirando com o melhor Comandante dos Bombeiros das últimas décadas – Júlio Morão – o que levou à época de ouro daquela instituição, culminando com a construção do então novo quartel.

A Covilhã, que em vários domínios, lhe reconheceu qualidades de excelência, com a atribuição de muitas distinções, perdeu um dos seus dilectos filhos.

(In Notícias da Covilhã e Jornal do Fundão de 29/01/2009)
Também pode ser lido em www.sportingdacovilha.com

21 de janeiro de 2009

Os Campos de Futebol do Sporting da Covilhã

Várias vozes se têm feito sentir, devido a algum desconforto, durante os jogos, no actual Complexo Desportivo, quando a chuva, atravessada pelo vento, e o frio intenso, enregelam o corpo, ainda que habituados ao agreste Inverno serrano.
A cobertura do tecto das bancadas é pouco protectora, com falta de prolongamento, de forma a cobrir todos quantos, sentados nos seus lugares, se possam ver bem acomodados, e, assim, poderem sentir as alegrias ou as contrariedades emanadas do clube covilhanense.
Também a distância que se desfruta das bancadas para o relvado é demasiada, daí que muitos apaniguados pelo Leão da Serra tenham já deixado sair algumas lamentações nostálgicas de que, no Santos Pinto, a visão global do espectáculo, o calor humano imprimido para dentro do campo, e, até, em abono de verdade, um maior conforto em situações climatéricas de contrariedade, eram uma mais-valia que nos dava o velho Estádio Santos Pinto.




E, na linguagem de alguns, tão de escorreita como de insinuadora, até se diz que ali certos árbitros não “brincavam” com o Sporting da Covilhã, como alguns têm feito no actual Complexo Desportivo.
O primeiro Campo do Sporting da Covilhã foi na Várzea, onde se realizaram jogos importantes, para a época, mormente com o seu principal rival de então – o “Montes Hermínios”. Em 1926, passou para o Campo da Palmatória, onde continuou a jogar com o seu rival, e não só, incluindo o primeiro clube além fronteiras – a Unión Deportiva Salamanca; depois, também no Campo do Bairro Municipal enquanto não se construía o Estádio Santos Pinto. Ainda por concluir, em 1932, começaram-se a fazer os jogos do SCC.
Quando a tenacidade do grupo “capacetes de aço”, liderado pelo industrial José dos Santos Pinto, e coadjuvado pelo “braço de ferro” José Brazul, deu lugar à conclusão das obras do Campo ao Cimo do Hospital, como inicialmente se designava, foi ver o surgimento dum Estádio onde o SCC iria proporcionar grandes alegrias, pelos tempos fora, com o paradeiro na I Divisão Nacional, e o espectáculo delirante de jogadores de grande craveira que até hoje não mais voltaram, como outrora, salvo algumas excepções.
Até há cerca de meia dúzia de anos que o Santos Pinto foi o paradigma das venturas, e algumas desditas do clube serrano.
Foi ali que também o guarda-redes José Rita meteu um golo directo na baliza adversária, no Campeonato da I Divisão – época de 59/60. Gostaríamos que se tivesse repetido o mesmo no último jogo que o SCC efectuou com o Vizela, mas ao contrário, o que não tira qualquer valor a Igor Araújo. Dois golos históricos, com as tais venturas e desventuras do nosso Sporting da Covilhã.

(In Notícias da Covilhã de 21/01/2009)

8 de janeiro de 2009

COLAPSO

O ano de 2008 acaba por não ser só mais um que passa e nos vai aproximando do ocaso, aguçando a idade na luz invernal. Ele foi o início duma das maiores crises de sempre, se não a maior, da história portuguesa.
Enfim, mas em todos os países do mundo, cada um com o seu jeito próprio de falar, há parolos, sem se conseguirem transformar em elementos válidos da sociedade, isto numa adaptação dum texto de Miguel Esteves Cardoso, em “A Encomenda das Almas” (in “Expresso”, de 17/07/1987).
Os parolos portugueses não são todos iguais. São livres, respeitados, encorajados. Havia o labrego que é o parolo dos primórdios, ao contrário dos foleiros que são uns brutos.
Existe uma espécie de labrego que, apesar de contactar com o “modus vivendi” citadino não chega a transformar-se em parolo. É o pé-descalço que é o labrego confuso e aturdido, no povo ofensivo.
A foleirice é mais do que uma condição – é uma maneira de ser, uma filosofia de vida. Está institucionalizada. Está no Governo, dá na televisão, durará para sempre.
Ser foleiro está ao alcance de qualquer um: levar arroz de frango para a praia, guardar as cuecas velhas para polir o carro, passar o domingo no shopping, tirar a cera dos ouvidos com a tampa da esferográfica, exigir que lhe chamem “doutor” ou “engenheiro”, já ter ido à bruxa; filhos baptizados e de catecismo na mão mas nunca pôr os pés na igreja, não ser racista mas abrir uma excepção com os ciganos, ou ter três telemóveis.
Ser foleiro significa não pensar no que se faz. Há ainda o azeiteiro, que não tem pretensões e, de bom grado, dá barraca. O azeiteiro é o foleiro falador, sempre franco e sincero, incansável na maneira como está a recordar a infância miserável, os privilégios que não teve, etc. Existe ainda o burgesso, que é o foleiro burguês, o cavalheiro a fingir. O burgesso gasta uma fortuna nas lojas “finas”, só que depois não sabe combinar as coisas, confia no gosto dos outros, sabendo que não o tem. É de todas as classes sociais. Há o burgesso envergonhado, que procura não incomodar e que não nos apresenta constantemente os seus sinais exteriores de riqueza. Há ainda outras classes como os otários e os chico espertos.
No meio de tudo isto, Portugal está perigoso. E a sensação generalizada é de estarmos no meio da ponte, sem se ter a certeza para onde ir. A disposição era de mandar às malvas a situação económica do país. Parece que não há presente, mas tão só passado e futuro. O presente é uma fronteira imaginária, perenemente móvel. A informação que temos é toda ela do passado. E a decisão destina-se a produzir efeitos no futuro, do qual apenas sabemos que não vai ser igual ao passado.
E, se atentarmos sobre notícias dos nossos mui estimados governantes, ex-governantes e defensores das causas da justiça, e dos direitos de todos nós (que Deus sempre os proteja), é vê-los “honrosos” pensionistas, “honestas” figuras que conhecemos duma fluência oratória, com reformas, subsídios de reintegração, e demais mordomias, aos milhões de euros, sem mentir, porquanto estão bem patentes numa bíblia que se chama “Diário da República”. Enervante situação, comparativa, para quem espera uma reforma aos 65 anos, sem penalizações, é ver estes nababos a surgirem (alguns deles por estranha incapacidade) com as suas “alegrias vitalícias” em idades inferiores a 55 anos, e alguns antes dos 50 anos.
O que se passou ao longo do famigerado 2008, e anteriores anos, é demasiado forte para que os parolos, os labregos, os foleiros e os azeiteiros; por que muitos de nós passámos na mente dos homens da governação, aproveitando-se da sua situação de homens do Estado; deixem continuar a ver a banda passar, e, no meio da mesma, os senhores governantes se dêem ao luxo de tocar guitarra.
Como é que, num país tão pequeno, ainda não se chegou ao fim de processos judiciais já sobejamente conhecidos do pobre povo português, só porque os 30 dinheiros de Judas conseguem manter a envolvente tentacular do grande polvo?
Tal como em 1929, vem agora uma nova crise mundial, para fazer rebentar o balão, e, assim, dar uma ajuda ao governo português na desculpa pelo que não conseguiu fazer, sorrindo embora pela incapacidade e inexistência de uma oposição alternativa; sabendo-se que, desta vez, a “bolha” que rebentou não foi tanto a especulação bolsista mas o crédito fácil. E, da inflação estamos a caminho da deflação.
Nas palavras de António Barreto (Público de 7/12/2008), “o Parlamento português tem vindo gradualmente a falhar os testes de prova de vida, dando de si uma imagem confrangedora de ignorância e incompetência”. No principal partido da oposição, “creio que não existe, na recente história política portuguesa nenhum caso onde sejam tão frequentes a mentira e a traição”. “Nesta democracia que já foi “exemplar”, as recentes agitações financeiras abriram definitivamente uma ferida tão repetidamente mencionada mas raramente concretizada”. “A sucessão de “casos” que envolvem grandes recursos financeiros, enormes obras públicas e colossais adjudicações sem concurso tem vindo a criar mal-estar e a mostrar as fragilidades do regime”. “O problema é que aparecem os rostos áulicos, com nome e currículo, dos que agem pelo Estado, ora por si próprios, ora por mandantes. O facto, em vez de sublinhar a força do Estado, põe em relevo a sua fragilidade e o modo como se deixou apoderar pelos predadores do regime”.

(In Jornal ''Notícias da Covilhã'' de 08/01/2009, jornal ''O Olhanense'' de 15/01/2009 e Kaminhos)