18 de fevereiro de 2005

O ÓBVIO E A VERDADE

Escrevo estas linhas interrompidas momentaneamente pelos “directos” das campanhas eleitorais nos canais de televisão.
Gostaria de redigir outros temas que, em catadupa, tenho memorizados, mas a situação política que se vive, sem precedentes, jamais nos pode deixar silenciados, imunes à displicência, no deixar para que os outros resolvam as situações, no óbvio do estado calamitoso do país, na acusação de que o mal vem sempre dos outros, no faz o que eu digo mas não olhes para o que eu faço.
E o país aí está, ao invés de acompanhar o ritmo dos nossos parceiros europeus, passou a uma velocidade como a do comboio da Beira Baixa, e na carruagem da cauda.
E, se alguns apeadeiros foram eliminados, os actuais governantes vieram recriá-los, produzindo mais demora no destino.
Tantos governantes! Muitas promessas havidas antes da subida ao palanque! A condição de vítima quando o tiro sai pela culatra! Se não foste tu que me sujaste a água, foi teu pai, como na história do lobo e do cordeiro!
E se a culpa não morreu solteira, ela é de todos quantos permutam a atenção constante e atitudes de desagrado pela inacção desenvolvida e pelo comodismo.
Neste país, que, apesar de tudo, ainda é de brandos costumes, há gentes, muito boas gentes, que vivem obcecadas pelos seus correligionários, ainda que reconhecendo o rumo abismal do seu país, com influências dum negativismo inconfundível.
Mas, vamos aos acontecimentos: como é possível querer a manutenção dum primeiro-ministro, à frente dos destinos do país, depois dos factos surgidos, só próprios dum ingénuo, sobejamente do conhecimento de todos quantos têm ouvidos para ouvir e olhos para ver?
A sua fluência, os seus dotes oratórios são um autêntico paradoxo em relação ao desempenho da sua tarefa governamental, onde, até no pormenor, deixou marcas da forma como o país não deve nem pode ser governado. Falta de atenção, logo na tomada de posse do governo; depois, foram várias facetas, do conhecimento público, passando, afrontado, com o selo da vitimização.
Até nas sondagens – por que não favoráveis – emergiu a ameaça de participação judicial já “que havia uma deplorável promiscuidade entre a política e as empresas de sondagens”, isto numa mente mórbida de quem pensou tratar-se duma “megafraude” aos “portugueses e portuguesas”.
Ao longo da campanha eleitoral, não tem feito mais que se queixar das “traições”, das “facadas”, e dos “tiros” que os seus correligionários dispararam na sua própria trincheira.
O apóstolo de Sá Carneiro pretendia que toda a gente corresse a exaltá-lo. Mas o povo não está louco
É que, conforme expressa Vasco Pulido Valente, no Público de 11/2/2005, “o PSD não precisa de um “bom” resultado em 20 de Fevereiro, precisa de um resultado que o livre de Santana”.
E, já José Manuel Fernandes, no mesmo diário, do dia seguinte, refere que “Santana tem oferecido menos que nada pois, apesar de ainda ser primeiro-ministro, consegue a proeza de não ter uma só ideia, uma só proposta, uma singela medida capaz de mostrar aos eleitores que não merece apenas ser varrido de São Bento por uma questão e higiene pública”.
E, depois, depois...o boato, esta arma dos cobardes, porque é anónima mas atinge quem não é anónimo. E porque é difícil de enfrentar. Boatos sobre líderes políticos sempre houve, no passado, como continuará a haver no futuro.
Já quando estive no serviço militar existiam alguns quadros distribuídos por paredes de salas ou refeitórios com os dizeres “o boato fere como uma lâmina”.
Nesta campanha eleitoral o boato ganhou um protagonismo só possível no momento em que veio à superfície sob a forma de insinuação, num comício e na boca de um candidato.
Vamos para as eleições. É preciso não ter medo de atravessar a ponte e votar, embora com cepticismo. Retirar o cachecol partidário e votar.
Também sou pela convicção de que, actualmente, o melhor é uma maioria absoluta. E para tal também vou contribuir.
É óbvio, para a situação actual, mas vou pelo lado de quem me transmite mais verdade.
Não espero que Sócrates retire tão depressa o país da mediocridade em que se atolou, mas espero que afaste Santana, e venha a restituir à vida política um módico de normalidade. Não preciso de saltar o muro, nem de atravessar a ponte porque há muito que optei.
Depois, sejamos exigentes, sempre alerta, rigorosos, para que jamais existam trapalhadas mas antes possamos viver como dos melhores europeus, pois temos muitas dificuldades a enfrentar, numa constante, uma delas a China, que vem afrontar as empresas, sem excepção das da Covilhã e nossa região.
Esperemos um novo timoneiro que venha liderar os destinos de um novo governo, para unir Portugal contra a baixa educação, a falta de civismo, de rigor e de profissionalismo, contra uma cultura de superficialidade, de irresponsabilidade, de esperteza saloia, de interesses de legitimidade duvidosa, contra a injustiça social e fiscal, contra as desigualdades de oportunidades.
E, como no DNA de 11/2/2005, “vou disparar uma prece, rebentar uma súplica, explodir a angústia, implodir a esperança, detonar a alegria, accionar a alma”- e desejo efusivamente que, no dia 20 de Fevereiro, regresse de vez a ESPERANÇA.

(In “Notícias da Covilhã”, de 18/02/2005)