21 de março de 2012

A NÃO-NOTÍCIA

Têm vindo a lume preocupações sobre o futuro do jornalismo face à avalanche de novas tecnologias que poderão substituir o jornal em papel, dentre de outras alterações de fundo do setor jornalístico na futurologia.

Efetivamente, o jornalismo do cidadão, a que se poderá também chamar jornalismo participativo, ganhou força nos últimos anos a partir do advento das ferramentas de edição e publicação na Internet como wikies, blogs e a popularização dos celulares equipamentos com câmaras digitais, além de outras novas tecnologias de informação e comunicação.

Há assim uma onda de jornalismo paralelo representada nos blogs onde o cidadão se pode refugiar e escrever sobre algo que não seja publicado nos restantes media, inclusive, falando com mais gentes o tempo todo e interpretando melhor e mais depressa desejos e necessidades do leitor.

Foi assim que tive o ensejo de poder participar no passado dia 15 de março, na Universidade da Beira Interior, no fórum sobre o futuro do jornalismo, com muito prazer, a convite da UBI.

Para além do grande interesse manifestado com muitas presenças e mais de uma dezena de jornalistas, com temas diversificados nas três mesas dos intervenientes, trabalho da universidade local para um serviço global no País, coordenado pelo sobejamente conhecido jornalista Adelino Gomes, surgiram esperanças de uma forte contribuição para que surjam ideias inovadoras para a solução que terá que se impor no futuro do setor jornalístico.

Do tema que me coube falar - O Jornalismo e a Cidadania -, na qualidade de cidadão, face ao limitado tempo previamente destinado, muito ficou na espuma do tempo, mas o que é certo é que as virtudes e defeitos da comunicação social acabaram por ficar evidenciados, sabendo-se que o jornalismo permanece como atividade essencial, experimentando mutações tecnológicas mas que não afetam a sua essência cognitiva. Ele permanece como atividade vital. Pensamos que os jornalistas já não se podem encerrar no palácio de Gutemberg porque de outro modo seriam superados por quantos frequentam, e de que maneira, a catedral de Bill Gates.

"Verdade" e "sensacionalismo" são as atitudes que o cidadão mais exige, mas também mais detesta, respetivamente. Estas palavras foram as mais referidas, dum conjunto de opiniões, que recolhi de vários cidadãos empenhados e atentos da sociedade portuguesa, da região e não só.

Tenho a minha maneira de ver o jornalismo e a restante comunicação social, não só como um crítico, mas, paradoxalmente, apaixonado por todos aqueles que, na mesma comunicação social, primam pelos valores da vida.

Mas, se há notícias que são ocultadas (algumas do seio da própria União Europeia!) e que deveriam ser do conhecimento do cidadão, pelas vias normais da comunicação social, outras não passam de verdadeiras anedotas do caricato jornalístico de quem se serve duma situação normal da vida duma pessoa para a considerar notícia. Exemplo recente foi uma das televisões ter noticiado que o automóvel do Cristiano Ronaldo havia avariado e sido rebocado...Santo Deus! Até onde vamos? 

No entanto, sabemos que por baixo da informação, dos números e das estatísticas surgem inúmeros acontecimentos que até condicionam a nossa vida. Por exemplo, com a longa e duríssima crise, sem luz no fundo do túnel, estarão provavelmente imensas doenças psíquicas, e não só. Esta é uma situação de outro tipo de não-notícia.

Seria possível conhecer a corrupção dos políticos (de alguns até conhecemos, em demasiado), o que a acontecer levaria de imediato a ser colocado em causa o regime democrático. Na política a ausência de números oficiais dos corruptos é uma não-notícia.

Alguns dirão: isso é uma verdade de La Palice. Mas que há não-notícias, lá isso há! E, para memória de quem goste, o nobre e militar francês Jacques de la Palice (ou de La Palisse), também conhecido por Jacques II de Chabanes, nasceu em 1470 e morreu em 23 de fevereiro de 1525.

(In Notícias da Covilhã de 21.03.2012)

15 de março de 2012

Fórum "O Futuro do Jornalismo" realizado na Universidade da Beira Interior

Foi um sucesso o fórum de hoje, sobre “O Futuro do Jornalismo”, realizado na Universidade da Beira Interior, coordenado, a nível nacional, pelos jornalistas Adelino Gomes e José Bizarro.
 As boas-vindas e apresentação do projeto ficou a cargo dos professores doutores João Canavilhas (organização local) e Paulo Serra (Presidente da Faculdade de Artes e Letras).
A mesa 1, com o desenvolvimento do tema “O Jornalismo é diferente de outras formas de comunicação?” foi constituída por um aluno de jornalismo, da UBI, que apresentou o tema; pela professora doutora Anabela Gradim (presidente do Departamento de Comunicação e Artes) e pelo Dr. Luís Batista Martins (director do Jornal “O Interior” e “Interior TV”, da Guarda).
A mesa 2, com o desenvolvimento do tema “Que princípios e valores essenciais devem ser preservados no next journalism?” foi igualmente constituído por um aluno, que apresentou o tema; pelo professor doutor José Ricardo Carvalheiro (director da licenciatura em Comunicação Social) e pelo Dr. Fernando Paulouro, director do Jornal do Fundão.


A mesa 3, com o desenvolvimento do tema “Jornalismo e Cidadania” não teve a presença do aluno, mas intervieram o Professor Doutor João Carlos Correia (coordenador do projecto Labcom Media Cidadania e Proximidade) e João de Jesus Nunes, cuja palestra desenvolvi na qualidade de cidadão perante o jornalismo.
O professor doutor João Canavilhas, que me fez o convite em nome da UBI, participou e coordenou em todas as mesas.
Estiveram presentes perto de 100 pessoas inicialmente e 13 jornalistas.
O jornalista, sobejamente conhecido a nível nacional, e nesta qualidade coordenador, Adelino Gomes, que nas fotos se encontra a meu lado enquanto não fui para a mesa, ia intervindo e incitando os alunos na participação com perguntas.
Embora com algum receio porquanto foi a primeira vez que me vi envolvido numa participação de âmbito académico, e de jornalismo, sem possuir esses dotes, tive o prazer de ver o meu trabalho, apresentado em powerpoint, com grande sucesso, e atenção por parte de todos (alguns risos face a alguns casos que apresentei), chegando o jornalista Adelino Gomes a pedir-me para lhe enviar os testemunhos dos vários cidadãos, cujos elementos apresentei no powerpoint, mas que não puderam ler na totalidade, por serem extensos. Achou interessantíssimo esse trabalho, e desejava integrá-lo nas recolhas que vem fazendo por todo o País.




É exactamente nesta parte que eu quero agradecer, mais uma vez, a todos quantos colaboraram comigo, com as suas achegas.

7 de março de 2012

ZECA E A VILA MORENA

Há pessoas que se tornam imortais. No mundo dos vivos, neste caminhar até à fronteira da margem divisória dos dois mundos, Zeca deixou marcas indeléveis da sua ação: “Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”.

José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos – Zeca Afonso – nascido em Aveiro há 82 anos, partiu para o além, fez no dia 23 de fevereiro um quarto de século. Vivia em Setúbal.

Cantor e compositor português de excelência, as suas baladas e trovas continuam a ser de entusiasmo retumbante nas coletividades e associações, tendo em conta que, não obstante a queda da ditadura, há quase quatro décadas, ainda hoje continuam as injustiças a subsistir, reforçadas no descaramento.

Muitos de nós conhecemos este Homem na Covilhã, onde se deslocou a cantar, no pós 25 de Abril, exigindo sempre gratuitidade nos seus espetáculos. Algumas vezes o seu palanque de atuação situava-se num reboque de trator ou em largos das aldeias e cidades.

O cantor teve raízes no Fundão, pela parte do pai, e Tortosendo, pelos avós paternos. Depois, nesta região, viveu ainda em Belmonte, com um tio, onde frequentou a instrução primária.

A sua primeira esposa era de Mortágua e a segunda de Olhão (Fuzeta).

Se nos tempos salazaristas e marcelistas sempre houve a falta daquela “virtude moral que inspira o respeito pelos direitos de cada pessoa e a atribuição do que a cada um é devido”, conforme definem os dicionários, a par da perda de liberdade, mais estranho, ou talvez não, é o descaramento com que os nossos governantes, em democracia, dos vários quadrantes políticos, praticam, ainda mais, a injustiça.

Será que, no meu “talvez não” de estranheza seja devido à liberdade o descaramento da prática da injustiça?

Se, na infelicidade de muitos humildes casais, apanhados nas redes do desemprego, por que jamais pensaram ser atingidos, não houvesse, paradoxalmente, a felicidade de existirem homens e mulheres do voluntariado, para, no âmbito das instituições de solidariedade, muitas vezes fazerem das tripas coração, para colmatar a fome, o frio, a ajuda nos medicamentos e no material escolar dos filhos, das rendas de casa, água, luz e gás, entre outras mais, com o cada vez aumento de necessitados, a injustiça teria em vez de um caminho, uma grande autoestrada.

Por isso, cada vez mais, as canções de Zeca Afonso, e de Adriano Correia de Oliveira, que vai completar trinta anos da sua morte, têm atualidade.

È na vida política que muitos vão beber a água que enche os potes das suas satisfações financeiras, da engorda para uma vida de fausto, apregoada num trabalho esforçado em nome do povo.

Se, a começar pelas autarquias, tudo fosse realizado duma forma de voluntariado, sem benesses, de certeza de que não haveria tantos boys e girls.

Se houvesse um verdadeiro serviço de justiça, não permitindo o oportunismo de luxuosas reformas antecipadas a esses boys e girls, findas as suas forçadas “missões”, na capital e outras regiões, a executar serviços que nunca foram explicados, não estaria este País a necessitar, cada vez mais, das vibrantes vozes expressivas numa canção como “Grândola, Vila Morena”.

Voltai, pois, Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira, através das vozes sentidas nas vossas canções.

Há 25 anos, aquando da morte de Zeca Afonso, foi registado pelo Vereador da Cultura da Câmara Municipal da Covilhã, na ata da sessão camarária, o seguinte: “Na falta de melhor destinatário para um voto de pesar, pela morte de Zeca Afonso, penso que não poderá haver melhor endereço do que simplesmente – Portugal.

Portugal perdeu, efetivamente um expoente raro da cultura contemporânea. (…)

- Morreu o grande músico, poeta e lutador dos desprotegidos, José Afonso! (…) Como poeta, tanto o encontramos a tecer ritos paralelísticos, numa enorme liberdade de fantasia enternecida, solidária ou sarcástica, onde perpassa toda a gama extraordinariamente rica de temperamento deste segrel, como pensa a pátria cinzenta, a clara mágoa do tempo e a sua tristíssima alegria. (…) Como lutador teríamos que escrevê-lo com letras do tamanho da CORAGEM, do SOFRIMENTO, do ÓDIO à GUERRA e à VIOLÊNCIA, da OPRESSÃO!

Zeca Afonso tornou-se pela sua obra, literária e de ação, um incómodo para todos os que, bem instalados na vida, nos respondem: -  “Quem não está bem, mude-se…” (,,,) E a Grândola, Vila Morena. Só esta seria suficiente para imortalizar qualquer compositor, qual hino de libertação, porque foi o santo e a senha da madrugada de esperança do Portugal de abril! (…)”

(In Notícias da Covilhã de 07.03.2012)