21 de abril de 2017

O INDUBITÁVEL

Com todo o prazer, continuo a digitar as teclas do computador naquela vontade indómita em transpor para o papel, preferencialmente, o pensamento que redunda na escrita.
Talvez não seja estranho o facto desta minha conduta já existir com os órgãos da comunicação social há mais de meio século. Ter espaço próprio nos jornais é uma honra, um privilégio, e, por isso, a honestidade que sempre deve ser um sinal distintivo.
Este propósito de igualdade na forma de atuação para com todos não quer dizer que tenham que nos maniatar a atitudes retrógradas de nos amarrar ao pensamento exclusivo dos detentores de alguns órgãos da comunicação social, desde que não se vá ferir a linha de rumo desses mesmos órgãos, como sejam na sua vertente religiosa, política ou desportiva, por exemplo. Há sempre diferentes modos de pensar, como de agir.
E se neste número d’ “O Combatente da Estrela” continuo a ter a alegria de poder colaborar, porque gosto de escrever, porque está no meu âmago, não posso deixar de memorizar, com saudade, um outro órgão cultural e recreativo, restritamente militar – FRONTEIROS DA BEIRA – do extinto RI 12 – Regimento de Infantaria Ligeira, na Guarda, que, em 1971 teve também alguma minha colaboração, então como Furriel Miliciano. Guardo-a religiosamente.
Volvidos 22 anos, via referências à minha pessoa sobre uma minha publicação, no jornal “El Adelanto”, de Salamanca, em dois números do mês de agosto de 1993.  Sempre a escrita!...
Mas não são só as crónicas, ou outra colaboração cultural avulsa, que ocupam parte da minha absorção de tempo, porquanto surgem as publicações em livro.
E aqui chega a altura de, sobre o título desta crónica, prestar o devido esclarecimento. É que, como os prezados camaradas e leitores deste periódico podem verificar, se atentos, deixei, a meu pedido, efetuado em 2 de janeiro de 2017, de poder colaborar um pouco mais com este jornal, na qualidade de subdiretor, face a um compromisso já antes assumido com uma personalidade de alto prestígio nacional para a publicação da história de uma atividade que há séculos existe em Portugal, tornando-se incompatível conseguir obter tempo suficiente para a concretização da mesma sem me desvincular de compromissos posteriormente assumidos.
O Diretor deste Jornal, e a Direção da Liga, compreendeu perfeitamente a indubitabilidade da razão da minha decisão. E eu só tenho que lhes agradecer terem confiado nos meus méritos aquando do convite que me fizeram para a assunção da subdireção.
De ventos e marés se fazem, e, mormente, se mantêm no grande navio a flutuar, em águas menos agitadas, as instituições, como esta, a Liga dos Combatentes; e outras que podem ser seus satélites ou não, que giram como a Lua à volta da Terra; mas tem que estar patente o rumo na direção certa para que, ao chegar ao fim, se encontrem todos sãos e salvos.
Só na compreensão, e capacidade de saber encontrar o caminho certo, e não na tropelia do turbilhão de decisões precipitadas, se podem reunir consensos para harmonizar um contraditório.
E é no confronto de ideias, na respeitabilidade pelas mesmas, ainda que não concordantes, que se encontra a pedra angular da casa que ajudámos a construir.
É preciso saber interpretar, quando alguém lança a agitação e depois duma forma pusilânime foge do local onde deixou a ventania, o porquê da sua atitude, optando pelo silenciamento.

Há que continuar o caminho certo removendo as arestas que molestam, mas não deixando de encontrar a resposta convincente, sempre no genuíno interesse de todos, como sempre souberam obter os que se localizam ao leme desta grande embarcação que é a Liga dos Combatentes.

(In "O Combatente da Estrela", n.º 106, de Abril a Junho/2017)

12 de abril de 2017

REFLEXÃO ÀS AUTÁRQUICAS

Enquanto vemos reduzir o nosso tempo de vida, não obstante o aumento generalizado da nossa existência no Planeta, depois do muito que já vimos passar, continuam a verificar-se mudanças, na certeza que também prosseguirão as narrativas da vida de cada um, em particular, e de todos, em geral.
Completamos 41 anos de democracia constitucional, o que, paradoxalmente, se contrapõe a outros tantos 41 anos que tivemos de ditadura em Portugal.
De tão prolongada ditadura deveríamos ter uma democracia verdadeiramente prudente e tranquila.
De facto, vive-se hoje muito melhor do que há mais de quatro décadas, mas esse bem-estar em termos de bens de consumo não quer dizer que se mantenham os valores, estes que constituem a essência de um Estado e que transformam o povo.
É que o respeito pelas instituições, sua credibilidade, e os ensinamentos que o poder público devia dar, assim como a imparcialidade, justiça e retidão nos negócios duma sociedade moderna estão a léguas da realidade.
Muito do que aqui poderíamos dizer é como chover no molhado, quanto à nossa justiça, ao poder legislativo, e, porque não, mesmo ao quarto poder, onde se dá ênfase ao insulto emanado dos homens e mulheres dessas mesmas instituições, num exagero de repetições de casos anómalos quão doentios para todos nós. Para já não dizer das vergonhosas discussões políticas que impedem acordos de regime.
Vamos ter as eleições autárquicas, definidoras de como pode ser visto o país, mas incisivas nos meios onde vivemos.
Neste tempo quaresmal, ainda a procissão vai no adro e já começaram algumas pré-campanhas eleitorais. Começam a sair da casca: uns, fabulando entre “A Lebre e a Tartaruga”; outros entre “A Raposa e a Cegonha”; outros ainda, esquecendo-se do seu passado egocentrista.
A profunda reflexão vai, pois, para este estado de alma de cada um, dos que poderemos escolher, e dos quais tantas vezes nos enganámos.
Vamos então ao nosso meio citadino e concelhio – a nossa mui amada Covilhã –, sejam almas de raiz ou de coração, onde a trombeta já deu sinal de três assumidos candidatos à “catedral”.
É bom que os sermões que agora se vão ouvindo pelos vários “púlpitos” políticos dos que ainda vão a tempo de participar na procissão, entrem na profundidade de quem tem ouvidos para ouvir, e não só daqueles em que a voz entra por um ouvido e sai pelo outro, nas várias tribunas que se vão distribuindo.
Os argumentos que nos fazem querer esquecer os corredores das discórdias, fruto dum egocentrismo contemporizado nas iniciativas, nem todas pessoais, mas assumidas como tal, duma visão de transformar uma cidade a qualquer preço, é bom que tenhamos um pouco de reflexão sobre o passado.
Entre sorrisos, beijos e abraços, promessas (que não serão cumpridas), desejos de passar a governar a cidade e o concelho para todos de igual modo, mesmo para com os adversários políticos, como, mais uma vez, irá ser anunciado, não só para os apaniguados, mas também para os indecisos, para os distraídos, ou para os maldizentes pelo que vêm; será o inevitável dos candidatos para tentar a adesão às suas causas, vibrando por esses palanques que irão surgir por todo o lado.
O ideal é que haja um candidato que nos convença da sua sacra decisão de respeitar escrupulosamente, sob pena de se demitir, todas as suas promessas, na assunção do estudo aprofundado que soube obter dos meandros da política concelhia. E que sabe atuar sem ofender, sem utilizar a pusilanimidade, mas antes a frontalidade perante o seu opositor; a céu aberto, e não escondido em blogues e outras coisas mais, num ridículo anonimato, que agora já terminou, deduzimos, porque foi gato escondido com o rabo de fora; quando as frentes não correm de feição, isto é, aceitar a democracia.
Nestes 41 anos de eleições autárquicas, basta de vermos que o genuíno interesse das populações é muitas vezes adulterado pelo polvilhar dos interesses pessoais, favores aos apaniguados, subtilmente apregoando-se a necessidade de utilização de boys e girls desnecessários, que aumentam a despesa autárquica, em desfavor da utilização dos funcionários existentes, ainda que tenham tido opção política diferente da que acabara de surgir na liderança autárquica. Então para que servem as leis disciplinadoras?
Não conhecemos em profundidade as autarquias vizinhas, mas reconhecemos avanços em relação à covilhanense. Porquê? Qual o motivo porque o ex-autarca albicastrense, Joaquim Morão, e antes autarca idanhense, foi uma personalidade sempre querida pelas suas populações, saindo pela porta larga da “catedral”? Na Covilhã, ganharia com maioria absoluta! Fica a reflexão.
Na parte que toca à atual autarquia covilhanense, socialista, temos muita pena de ter de dizer que os objetivos não foram minimamente cumpridos, e, como já havíamos alertado em tempos, há que refletir se esta força política insere no seu seio pessoas à altura desta nobre missão, servindo as populações, em vez de se guerrearem interna e extramuros. Para além da assinalável parte cultural, onde estão as empresas anunciadas para substituir algumas que se transferiram? Mas a parte mais negativa vai para os aspetos nebulosos em que tiveram atuação desastrada, quando, afinal, se acusava o anterior executivo.
Os social democratas conseguiram reunir algumas das suas tropas que haviam desertado por força dum general sem rumo na fase final do seu anterior mandato, que passou a castigar, sem rei nem roque, quem ao mesmo não venerasse. Afinal, se verificarmos o séquito de muitos do seu anterior exército, vários foram os que foram “passados à espada”. É que o general, então, não soube escolher os seus soldados.
Surge à ribalta uma personalidade, sobejamente conhecida a nível nacional, que já disse não ir dizer mal de ninguém, e, como covilhanense que é, ainda que não residente na mesma, propõe-se manter a ordem não reinante. Será que vamos ter o homem certo no lugar certo? Se assim for, suba ele ao palanque, imponha a espada de D. Afonso Henriques, o engenho de Nuno Álvares Pereira, e as descobertas da égide do Infante D. Henrique. Se todos têm amor à Covilhã, faça-se como D. Manuel II, que, apesar do seu exílio nos arredores de Londres, ainda sem problemas de Brexit, foi um grande patriota.
Sejamos nós, também, grandes Covilhanenses, mas de verdade!

Voltaremos ao assunto quando oportuno.

(In "Notícias da Covilhã", de 13/04/2017)

11 de abril de 2017

EM ABRIL, EFEMÉRIDES MIL

O sol radia nestes primeiros dias de abril, quase uma quinzena após o equinócio primaveril. Aguarda-se, com alguma ansiedade, o solstício de verão, um pouco lá mais para diante.
Vamos passando o tempo que resta do tempo das nossas vidas. Para muitos, como nós, já nem metade daquele que já vivemos conseguimos atingir. Por nós passaram acontecimentos marcantes, quer de âmbito pessoal, quer inseridos, com todos, na vida desta aldeia global. Pela casa comum, os meses são repletos de efemérides, mais recentes umas que outras.
Ainda no pretérito 25 de março foi celebrado o 60.º aniversário do Tratado de Roma. Uma celebração merecida porque foi consolidada a paz, a liberdade e a democracia.
Os fundadores, Alcide de Gasperi, Paul-Henri Spaak, Konrad Adenauer, Robert Schuman, Winston Churchill e Jean Monnet, se hoje soubessem o estado em que a União se encontra, para a qual tanto se esforçaram para fazer uma Europa forte, ficariam aterrorizados. Encontra-se mergulhada na maior crise da sua vida, que é resultante de muitas crises, entre as quais, o “Brexit” e uma vaga nacionalista.
Mas é de abril que nós falamos e, entre outras versões, o dia 1 de abril transformou-se no “dia das mentiras”, numa brincadeira surgida em França. Desde o começo do século XVI, o Ano Novo era festejado no dia 25 de março, data que marcava a chegada da primavera. As festas duravam uma semana e terminavam no dia 1 de abril. Em 1564, depois da adoção do calendário gregoriano, o rei Carlos IX de França determinou que o ano novo seria comemorado no dia 1 de janeiro. Alguns franceses resistiram à mudança e continuaram a seguir o calendário antigo, pelo qual o ano se iniciara a 1 de abril. Outros, gozadores, passaram então a ridicularizá-los, enviando presentes esquisitos e convites para festas que não existiam. Ficou assim o dia das mentiras.
Mas abril tem para os portugueses um significado muito especial, pois foi a Revolução dos Cravos, no dia 25 daquele celebríssimo ano de 1974, que pôs fim ao regime autoritário do Estado Novo, vigente desde 1933. Sobre esta data e os momentos de esperança, raivados pelos que pretendiam manter-se sob o véu obscurante e protetor do antigo regime, muito já se escreveu.
Vamos então memorizar outras datas comemorativas, deste mês de abril, duma forma aleatória, seguindo a ordem cronológica dos seus dias.
Para além do já referido sobre o dia primeiro do mês, podemos ainda mencionar que no dia 1 de abril de 1435 morreu D. Nuno Álvares Pereira; e em 1 de abril de 1939 terminou a Guerra Civil Espanhola e começou assim a ditadura franquista.
No dia 2 de abril do ano 1976 foi concluída e elaborada a Constituição da República Portuguesa após o 25 de Abril. No mesmo dia e mês, mas do ano 1982, as forças especiais argentinas invadiram as Ilhas Malvinas, dando início à Guerra das Malvinas. Mas em 2005, continuando com referência ao mesmo dia e mês, faleceu João Paulo II. Já no dia 3 de abril de 1954 vinha a falecer o diplomata português que teve a coragem de desobedecer a Salazar, Aristide de Sousa Mendes. Passemos para o dia 4 de abril – Dia da NATO, com 12 nações a assinarem o Tratado do Atlântico Norte, em 1949; e, nesse mesmo dia e mês, do ano 1968, o assassinato de Martin Luther King Jr., em Memphis. Anos mais adiante, com as mesmas referências, falecia o grande militar português, Salgueiro Maia. Outros acontecimentos, ao longo deste mês de abril: dia 5, no ano 1976, o Incidente em Tian’anmen, em Pequim, contra a repressão do regime chinês. Dia 6, do ano 1385: D. João I é aclamado rei nas Cortes de Coimbra. Dia 7 de abril é o Dia Mundial da Saúde, com a criação da Organização Mundial da Saúde, pelas Nações Unidas, em 1948. Já o dia 8 pertence ao Dia Mundial dos Ciganos, sendo certo que a 9 de abril se comemora o Dia do Combatente, tendo em conta que foi em 9 de abril de 1918 que, durante a Primeira Guerra Mundial, se iniciou a Batalha de La Lys, com pesadas baixas do Corpo Expedicionário Português perante as forças imperiais alemãs. Recordam-se do Titanic? Pois deixou o porto de Southampton, com destino à cidade de Nova Iorque, em 10 de abril de 1912. Em 11 de abril de 1357 nasceu D. João I. Em 12 de abril de 1861 começou a Guerra Civil Americana. A 13 de abril do ano 1987, Portugal e China assinaram a Declaração Conjunta Sino-Portuguesa sobre a Questão de Macau. A 14 de abril de 1931 é declarada a Segunda República Espanhola após a abdicação do rei Afonso XIII. A 15 de abril de 1912, o RMS Titanic naufraga no Oceano Atlântico após a colisão com um iceberg. No Dia Mundial da Voz, que se celebra a 16 de abril, mas reportando-nos aos anos 1889, 1908 e 1927, nasciam Charlie Chaplin (Charlot), António Lopes Ribeiro e o Papa Bento XVI, respetivamente. Em 17 de abril de 1521 nasceu Martinho Lutero; e, em 1790, faleceu Benjamin Franklin. O Dia Internacional dos Monumentos e Sítios celebra-se a 18 de abril, data em que, no ano 1842 nasceu o escritor Antero de Quental; e, no ano de 1955, faleceu Albert Einstein. Em 19 de abril de 1506 foi o início do Massacre dos judeus em Lisboa, causando a morte de 3000 pessoas. Em 20 de abril de 1233, o Papa Gregório IX editou duas bulas que marcaram o início da Inquisição papal, mas, contra esta tristeza, registe-se que em 20 de abril de 1972, a Apollo 16 pousou na Lua. Em 21 de abril de 1960 foi oficialmente inaugurada a cidade de Brasília, substituindo Rio de Janeiro como a capital do Brasil. Em 22 de abril do ano de 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil. No Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor, que se realiza a 23 de abril, nasceu, no ano de 1185, D. Afonso II de Portugal; e, na mesma data, mas reportando-se ao ano de 1616, faleceram o escritor espanhol Miguel de Cervantes, e o dramaturgo, poeta e ator inglês, William Shakespeare. Voltando-nos agora para uma data da antiguidade, mais propriamente ao ano 1184 a. C., no dia 24 de abril foi a Guerra de Troia, que, segundo a tradição, os gregos entraram em Troia utilizando o Cavalo de Troia; para, lá mais para diante, no mesmo dia e mês, mas do ano 1112, se comemorar o falecimento do Conde D. Henrique, pai de D. Afonso Henriques, o qual ficou sepultado na Sé de Braga. O dia 25 de abril de 1974 já foi mais atrás referido. Em 26 de abril do ano 1500, foi celebrada a primeira missa no Brasil por frei Henrique de Coimbra. E, lamentavelmente, no mesmo dia e mês do ano 1986 ocorria o acidente nuclear de Chernobil. Em 27 de abril do ano 1908 iniciaram-se os Jogos Olímpicos de Verão; e, muito antes, no mesmo dia e mês do ano 1521 morria Fernão de Magalhães. No dia 28 de abril de 1889 nascia António de Oliveira Salazar; tendo, muito antes, no dia 29 de abril do ano 711, ocorrido a Conquista islâmica da Hispânia, com as tropas mouras a desembarcarem em Gibraltar e a invadirem a Península Ibérica. Por último, no dia 30 de abril do ano 1949 nascia o português António Guterres, atual Secretário Geral das Nações Unidas.

(In "fórum Covilhã", de 11/04/2017)