14 de março de 2007

OS GRANDES COVILHANENSES

A RTP está a terminar o concurso “Os Grandes Portugueses”, baseado num programa que já surgiu noutros países, tendo já sido seleccionadas as 10 figuras para o concurso final.
Não tenho acompanhado a sua selecção, por desinteresse quanto à forma como se tratam figuras históricas, no respigo de algumas observações de ocasião e, antes, com figuras então muito discutíveis.
Na perplexidade das escolhas, como é natural, mas também com situações aberrantes numa mistura de futebolistas, ditadores de direita com ditadores de esquerda, e outros que nada têm de suficiente mérito quanto à sua qualidade de melhor português de sempre, os historiadores criticam agora o tratamento dado às figuras históricas.
Mas a dezena já foi reunida e todos os seleccionados já não pertencem ao mundo dos vivos.
Penso mesmo que, dos dez melhores até ao que vier a ser eleito como primeiro, muito haveria que dizer. Jamais se consegue encontrar verdadeiramente o melhor, o que merece cem por cento.
Se D. Afonso Henriques foi o homem da génese da nossa nacionalidade, mesmo a chatear-se com a mãe, já D. João II foi o homem da grande expansão marítima. Como encontrar aqui a diferença para uma escolha acertada?
De Fernando Pessoa ao imortal Luís de Camões, como do Infante D. Henrique ao descobridor Vasco da Gama, poderia haver dificuldades de selecção. O mesmo já não se compreende, nas curtas memórias, a inserção, no grupo dos 10, das figuras que representam as duas ditaduras antagónicas.
Mas, democraticamente, o povo decide, “o povo é sereno e isto é só fumaça”.
Daí que me volte agora para a nossa Covilhã. Com tanta gente a poder ocupar parte do seu tempo em algo de inovador, fora do comum dos mortais, em prol daquela que ainda encima o ex-libris de Manchester Lusitana, mas agora mais de laboriosa Cidade Universitária, bem podem fazer um trabalho de registo escrito sobre as figuras proeminentes que foram e são na vida covilhanense, em tantas vertentes do trabalho: operário, industrial, comercial, docente, associativo, cultural, religioso, do voluntariado, e por aí fora, gentes que podiam ser objecto de uma consulta às mentes concelhias, para serem reunidos no “livro covilhanense”, com critérios de rigorosidade plena, sob consulta popular.
Há trabalhos de pesquisa, que fazem parte das estantes, sobre algumas figuras e eventos covilhanenses, nomeadamente dois livros de José Mendes dos Santos, homem simples e humilde que a Covilhã muito lhe deve na divulgação cultural, proprietário que foi da saudosa Livraria Nacional, que chegou a ser a melhor da Beira Interior, até à saída daquele seu proprietário e sua esposa.
Tanta gente da nossa gente, difícil de enumerar, reunida num só trabalho, seria de reconhecido mérito. Memorizo apenas alguns: Pêro da Covilhã, Mateus Fernandes, Rui Faleiro, Fernão Penteado, Frei Heitor Pinto, D. Cristóvão de Castro, D. José Valério da Cruz, Gregório Nunes Giraldes, José Maria da Silva Campos Melo, “Morais do Convento”, Visconde da Coriscada, Francisco Maria Rodrigues Oliveira Grainha, José Ramalho, Dr. José Ranito Baltazar, Dr. Carlos Coelho, Cónego Manuel do Nascimento Anaquim, Dr. Júlio Anahory do Quental Calheiros – Conde da Covilhã, Tenente João José Amaro, Dr. Celestino David, Eduardo Malta, Prof. Dr. António Pereira Coelho, António Alçada Batista, Dr. Duarte Cordeiro de Almeida Simões, Dr. Manuel de Castro Martins, Arquitecto Manuel João Calais, Paulo de Oliveira, Dr. António Plácido da Costa, Dr. António Santos Viegas, Ernesto Cruz, Adolfo Rosa, João Carapito Donas, João Leitão, Artur de Almeida Campos, Mário da Costa Quintela, Prof. António Esteves Lopes, Alexandre Galvão Aibéo, Jerónimo José Monteiro, Prof. Dr. Arnaldo Saraiva, Eduardo Malta, Engº. Ernesto Manuel Geraldes de Melo e Castro e seu pai, Engº. Ernesto de Campos Melo e Castro, Dr. João Malaca Casteleiro, Padre Joaquim Alves Brás, José Maria Campos Melo, Sebastião Santos Júlio, Artur de Moura Quintela, Dr. José Freire Antunes, e tantos outros, numa achega de memória, para quem se quiser atrever a esta aventura duma viagem pelo passado, sem esquecer o presente e visionando o futuro.

(In Notícias da Covilhã de 14/03/2007)