30 de agosto de 2012

A “Volta” que nos dá a volta


Dois nomes célebres mundialmente, homónimos em Armstrong, ambos norte-americanos, tiveram neste últimos dias destinos diferentes. Lance Armstrong foi erradicado do ciclismo e desapossado das suas sete vitórias na Volta à França, devido a problemas de dopagem. Neil Armstrong, um astronauta que pisou a Lua pela primeira vez, realizando o sonho de muitas gerações, morreu em 25 de agosto, a um sábado. Mas foi num domingo, perto das 20 horas portuguesas, a 20 de julho de 1969, que o módulo lunar lá chegou e Neil afirma, já em solo lunar: “É um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a Humanidade”.Recordo-me deste dia, pois fui acompanhando os acontecimentos, como milhares de portugueses. Seguia viagem de autocarro, com outros militares, de regresso de fim de semana ao Regimento de Artilharia Ligeira n.º 4, em Leiria, onde prestava serviço militar.

Voltando-me agora para a nossa Volta a Portugal em Bicicleta – “A Volta” – desejo recordar que foi na minha adolescência que se deu um facto algo importante com o entusiasmo dos ciclistas, de passagem pela Covilhã a caminho da meta, então nas Penhas da Saúde.

Nesse dia 12 de julho de 1962, a um domingo, resolvi, pela primeira vez, caminhar pelos atalhos da Serra, conjuntamente com meu irmão, mais novo, e outros covilhanenses, até às Penhas da Saúde, sem autorização dos pais. Viviam-se outros tempos.

Pelo caminho, o entusiasmo que a “Volta” originava, estrada acima, com formigueiros de gente  pelas bermas e atalhos; a passagem das caravanas, a distribuição de bonés e t-shirts, publicidade e alguns brindes; e também muita gente em pontos estratégicos para verem os ciclistas, com as suas merendas. E um sol abrasador. O entusiasmo e o frenesim pelos heróis da estrada, mais conhecidos: José Pacheco, Mário Silva, Sousa Cardoso, Carlos Carvalho, João Roque, pois que Alves Barbosa penso que já não corria, até que, na estrada, bastante distanciado, surge um corredor, como nunca se viu com uma enorme diferença de tempo em relação aos outros ciclistas – mais de 20 minutos –, esse homem era João Centeio, creio que do Águias de Alpiarça.

Este vencedor da etapa das Penhas da Saúde já faleceu. Só a partir de 1971 surgiram as metas na Torre, sendo o primeiro a vencer a etapa, em 1971, o também malogrado Joaquim Agostinho, do Sporting.

Os portugueses é que dominavam, até que, com tantas tentativas, o belga Houbrechts, da Flandria, dá a volta à nossa “Volta” e ganha a mesma em 1967.

Seguem-se cinco anos, na era de Joaquim Agostinho, de novo com vencedores portugueses, para, em 1973, o espanhol Manzaneque, da Messias, estragar a festa dos portugueses… Surge uma dúzia de anos sem a “intromissão” de estrangeiros, agora na era de Marco Chagas e Venceslau Fernandes, até que começa a surgir também a concorrência estrangeira e, então, assistimos este ano a mais um vencedor da estranja – o espanhol David Blanco – que acaba por liderar, no nosso país, o maior número de “Voltas” ganhas – cinco.

A Volta a Portugal em Bicicleta dos últimos anos tem assistido a um entusiasmo acrescido da Liberty Seguros na sua participação muito ativa, onde já teve uma equipa representada. Este ano foi a patrocinadora principal da “Volta” e, por todo o lado, foi a vivacidade das suas gentes que fizeram vibrar mais os portugueses, num grande entusiasmo pelas suas cores, neste país fortemente abatido pelas crises, para as quais os nossos governantes não conseguem encontrar antídoto para os maleitas que a todos os portugueses afetam, melhor dizendo, uma situação mórbida que permanece quase ad aeternum. Enganei-me: alguns portugueses, que devem julgar-se “de primeira”, nunca souberam o que era crise, e eles são sobejamente conhecidos de todos os portugueses. 

Tem sido duma forma salutar que esta multinacional americana tem dado o exemplo de como há ainda muitos portugueses (alguns vindos de empresas do estrangeiro) que sabem incutir formas de trabalhar, onde a gestão de excelência e o trato familiar com todos os seus obreiros são a única forma de andar em contraciclo às crises, arrastando e conseguindo a aderência de multidões, nas várias vertentes de atuação.
E a Volta a Portugal em Bicicleta tem sido um desses grandes exemplos de forte popularidade, notoriedade e entusiasmo por todo o seu mundo de trabalho. Haverá mais explicações para o sucesso?

(In Notícia da Covilhã, de 30.08.2012)