14 de junho de 2017

PORTUGAL PACÍFICO

Ao longo da existência do ser humano no planeta sempre houve guerras, atentados e quaisquer outras formas de eliminar o homem. Isto já vem dos templos bíblicos, começando pelos filhos de Adão e Eva, em que Caim matou seu irmão Abel. Segundo um estudo publicado na revista Plos One, o primeiro assassínio confirmado da história foi há 430 mil anos em Espanha, mais propiamente em Atapuerca, na província de Burgos.
Vejamos o Exílio (anos 587-538 a.C.) que foi um momento duro para o povo israelita, com Nabucodonosor, rei da Babilónia, a destruir Jerusalém e a levar deportados os habitantes da Cidade Santa para a capital do seu Império. Foi um tempo de provação, a conseguir sobreviver naquela situação desesperada.
E o fim trágico de homens e mulheres da História estende-se por um mar de nomes: Seneca, fugindo da crueldade de Nero; Sócrates (o grego…), Viriato, Sertório, Júlio César, Arquimides, Aníbal, o herói cartaginês; Catão, Joana D’Arc, Robispierre, o general Gomes Freire de Andrade, Galileu, Aristofeles, Fernão de Magalhães, Alexandre Magno, o Duque de Orleans, Cícero, Rosseau, Lavoisier, Lincoln, Henrique IV, Plínio, Inês de Castro, Martin Moniz, Maria Stuart, Marco António, que morreu atravessando o peito com uma espada, indo soltar o último alento no seio da volúvel Cleópatra; D. Francisco de Almeida, Eduardo VIII, de Inglaterra, entre muitos outros, portugueses e de outras nacionalidades.
A estas figuras podemos ainda juntar o atentado que vitimou o nosso rei D. Carlos e o Príncipe Herdeiro, Luís Filipe, em 1 de fevereiro de 1908. Numa visita à Torre do Tombo encontrei estas palavras manuscritas pelo punho do rei D. Manuel II, último rei português, cujo relato poderá ser inserido em futuras crónicas: “As minhas memórias desde 1 de fevereiro de 1908, D. Manuel Rei (Torre do Tombo). 21 de maio de 1908 (notas absolutamente íntimas). Há já uns poucos dias que tinha a ideia de escrever para mim estas notas internas, desde o dia 1 de fevereiro de 1908, dia do horroroso atentado no qual perdi barbaramente assassinados o meu querido Pai e o meu tão querido Irmão. Isto que aqui escrevo é ao correr da pena, mas vou dizer pouco e claramente e também sem estilo tudo o que se passou. Talvez isto seja curioso para mim num dia se Deus me der vida e saúde. Isto é uma declaração que eu faço a mim mesmo. Como isto é uma história íntima do meu reinado vou iniciá-lo pelo horroroso e cruel atentado (…)”.
Já no tempo do Estado Novo, Salazar escapou ao único atentado de que foi alvo, no dia 4 de julho de 1937.
No dia 5 de junho de 2017 comemoraram-se 50 anos da Guerra dos Seis Dias, que ocorreu às 7h45 do dia 5 de junho de 1967, aquela que mudou Israel e o Médio Oriente. Foi um ponto de viragem na História. Tal como a I Guerra Mundial, foi uma guerra que ninguém previa nem queria. O culpado foi o Presidente egípcio, coronel Nasser, querendo a liderança política do mundo árabe, vinha a propagandear a intenção de destruir Israel. Os israelitas levaram a sério este desafio. No entanto, Israel com três milhões de judeus, era como o “David israelita”, e os árabes, com 300 milhões de almas, eram como o “Golias árabe”. Os generais opunham-se a uma guerra em três frentes: Egipto, Jordânia e Síria. Com a população em pânico, surge o ministro da Defesa, general Moshe Dayan (o que não tinha um olho) e, em seis dias, vence esta guerra em três frentes. Recordo-me perfeitamente desta guerra, que fazia ocupar os noticiários da RTP, e várias páginas dos jornais, de grande formato, como o Diário de Notícias, o Século e o Diário Popular, para já não falar dos jornais nortenhos. A televisão portuguesa ainda tinha um único canal a preto e branco, com o jornalista Gomes Ferreira a dar ênfase aos noticiários. Ainda não possuía televisão em casa porque os aparelhos eram caros e os salários do funcionalismo público e dos operários de lanifícios, uma miséria (a televisão que só surgiu no nosso País uma década antes), mas recordo-me de ver os noticiários nos cafés da Cidade: no Central, no Leitão ou no Danúbio, do Caninhas, já desaparecidos; ou então na Pastelaria Triunfo, do Sr. Tomé; ou ainda no Café Montanha, do ourondense Laranjo. No ano seguinte ingressava no serviço militar obrigatório. Na primeira viagem que fiz a Israel, em 2007, o guia contou-nos que esteve como combatente judeu na Guerra dos Seis Dias.
A nossa História de Portugal se contempla feitos gloriosos como as batalhas ganhas, com evidência para a de Aljubarrota, assim como as grandes descobertas, como o caminho marítimo para a Índia e o Brasil, também teve enormes desgraças como a Batalha de Alcácer Quibir, a participação na I Grande Guerra e, mais recentemente, a Guerra do Ultramar, em que ainda hoje há muitos jovens de então, hoje já septuagenários, a sofrer de deficiências físicas e morais, num autêntico stress pós traumático, geralmente envolvidos nos vários núcleos da Liga dos Combatentes espalhados pelo País.
O Papa Francisco tem vindo a condenar veementemente a indiferença do mundo face ao martírio de cristãos e não só.
Entretanto, Portugal é um dos países mais pacíficos do mundo e acaba de subir ao pódio neste ranking. Efetivamente, Portugal vive tempos dourados. A somar a todas as conquistas (políticas, desportivas e culturais), Portugal goza de um nível de paz certamente invejado por esse mundo fora. Os dados da Global Peace Index (GPI) de 2017 comprovam não só que Portugal é um país pacífico como é dos mais pacíficos do mundo. Esta análise é feita a 163 países. Portugal comete a proeza de passar do quinto lugar (ocupado o ano passado) diretamente para o pódio, para o terceiro lugar. À frente de Portugal está a Islândia (o país mais pacífico do mundo desde 2008) e a Nova Zelândia, ocupando o segundo lugar. No extremo oposto, obviamente sem surpresas, está a Síria, classificada como sendo o país menos pacífico pelo quinto ano consecutivo. O Afeganistão, o Iraque, o Sudão do Sul e o Iémen completam os últimos cinco.

(In "Notícias da Covilhã", de 15-06-2017)



EXORTAÇÃO DE SANTO ANTÓNIO

Entre a depressão e a euforia, há sempre um feliz momento em que Santo António nos exorta à esperança de melhores dias, ele, o santo casamenteiro, o milagreiro, o santo das coisas perdidas.
Às vezes é preciso desligar o “complicómetro”, como referiu David Dinis, diretor do Público. É neste pensamento que eu vou conseguindo o tempo do meu tempo de várias tarefas. E, neste contexto, até Santo António, no seu dia 13 de junho, fez coincidir o “seu dia” com o “meu dia” desta crónica.
Mas vejamos o que tem acontecido neste Portugal dos últimos tempos, em que não foram só bênçãos, ou, como na gíria futebolística, “aquela pontinha de sorte”, mas, afinal, em acreditar naquele célebre substantivo feminino que dá pelo nome de geringonça, saído nas páginas do Público, das crónicas de Vasco Pulido Valente, em 31.08.2014, e amplificado no Parlamento pelo ex-líder do CDS e vice-primeiro ministro, Paulo Portas, em 10.11.2015. Portugal cresceu, como crescem os países com saudáveis democracias. Soube, com notáveis homens e mulheres, o que é cair no fundo e levantar-se de novo. Uma grande lição para o mundo.
Portugal deixou assim de ser o dos três “éfes” (Fado, Futebol e Fátima), porque o esplendor noutros feitos veio dizer-nos que nada se faz por acaso. Salvador Sobral ganhou na canção como nunca tinha sucedido. Já antes tínhamos ganho o Campeonato da Europa, e um português, da Beira Baixa, eleito secretário-geral da ONU. Muitos factos, que não cabem neste espaço, se poderiam juntar, daqueles que os políticos gostam tanto de dar valor quando estão no Governo para se assumirem como autores do sucesso, ou, então, paradoxalmente, desvalorizar, quando ausentes do poleiro governativo, na tentativa de que seja extraída uma ilação, que poderia ser melhor se fossem eles a mandar.
E como já não há mais mundo para descobrir, as descobertas portuguesas ficam-se pela história, aliás, de grandes estórias da nossa História. Mas o mesmo já não podemos dizer dos santos, e, para se juntar ao Santo António de Portugal, a São Nuno Álvares Pereira, a Santa Isabel de Portugal e a outros santos e beatos, aí temos mais dois santos portugueses: Santa Jacinta Marto e São Francisco Marto, nomeados pelo Papa Francisco, que se deslocou a Fátima, para esse efeito, na recente comemoração do Centenário da Aparição de Nossa Senhora aos Pastorinhos. De notar que a Covilhã também tem um santo, o Beato Francisco Álvares, que foi operário da indústria de lanifícios. Faleceu no século XVI e foi beatificado no século XIX.
Numa altura em que já quase cheira a férias, não pela minha parte porque já estou nas vitalícias, mas de muita gente da nossa gente, a minha Covilhã vai-se vestindo de cores. Vêm aí os Santos Populares, com Santo António à frente da filarmónica, tonificada pelo cheiro das sardinhas assadas.
E, vai daí, este ano de eleições, com as Marchas da Covilhã a animar a malta, onde já mexem há muito os ensaios, dias não são dias, e, entre uma litrada ou uma bejeca, há sempre uma caracolada no Primor.
Passadas as marchas, as fugas para junto do mar, com mais copos nas esplanadas, que o sol brilha em Portugal.
E o IRS já foi e já veio o reembolso, para a maioria. Um regalo. Há que jogar uma cartada, debaixo duma parreira, de preferência.
Férias são férias. Este mês não é preciso pensar em coisas sérias. As eleições são só em outubro. Os cortejos ainda tardam a passar.
Olhando agora a minha Terra – a mui nobre Manchester Lusitana doutros tempos, universitária dos dias de hoje –, mirando-a de dentro para fora, e de fora para dentro, vamos deixar que os ventos que aí vêm ouçam, como na voz de Eduardo Nascimento, porque “Ela quis viver/E o mundo correr/Prometeu voltar/Se o vento mudar”. Mas é preciso continuar: “E o vento mudou/E ela não voltou/Sei que ela mentiu/P’ra sempre fugiu”.
A Covilhã também é geradora da AMIZADE, e, nas suas várias vertentes, esta palavra tão bonita transforma-se em FESTA; como costumo dizer: A AMIZADE É UMA FESTA!

Em Dia de Santo António, coincidente com o dia desta crónica, como atrás já referi, e no seguimento do que vem sendo um saudável hábito, o simbolismo desta data, na espontaneidade dum ato empresarial passado, na mente dum visionário português de rija têmpera, que trouxe de fora para dentro do País uma dinâmica empresarial que todo o Portugal não ignora, vai ser comemorado, na simplicidade dum almoço-convívio, nas Penhas da Saúde.

(In "Fórum Covilhã", de 13-06-2017)