28 de abril de 2011

O FMI E O ZÉ POVINHO

Torna-se já um enfado ouvir falar persistentemente do Fundo Monetário Internacional (FMI), que nos entra quotidianamente pelos ouvidos, e nos cansa os olhos com as imagens televisivas ou em parangonas jornalísticas.

A expressão “O pior está para vir!”, assim como outras da mesma índole, são como que uma espécie de lançamento dum bálsamo para o futuro sofrimento.

Se a figura da “dona crise” é proporcionadora de novas oportunidades, com que também concordo, e como recentemente foi objecto das Conferências Quaresmais na Universidade da Beira Interior, com oradores de luxo a dar a sua achega aos temas versados, também é certo que tem que haver verdadeiros empreendedores que possam remar contra alguns ventos e marés.

A caricatura histórica criada em 1875 por Rafael Bordalo Pinheiro, como personagem satírica de crítica social, e adoptada como personificação nacional portuguesa, ainda continua válida para o Portugal de hoje.

Apesar de tanto desemprego, às resmas no surgimento diário, é importante ver o esforço com que os nossos governantes se empenham em dar emprego a toda a gente, mormente da graúda – vejam-se as páginas do Diário da República que, só por isso, deveria voltar ao título antigo e passar a chamar-se Diário do Governo –; são as Novas Oportunidades, num país de chicos espertos e muita burrice à mistura.

Mas o FMI também pode ser “Foram Ministros Incapazes”, muitos, de todos os governos; como “Fugiram, Mas Ignoram”, exemplo de Dias Loureiro, regalado em Cabo Verde…

FMI pode ainda ser “Fome, Miséria, Indiferença”. Seria maior se não fossem a acção do Banco Alimentar; das Conferências Vicentinas, que em Abril tiveram a sua Peregrinação Nacional a Fátima, sendo Presidente Nacional um covilhanense; e outras instituições de solidariedade.

FMI pode ser “Finlândia Muito Irritada”. Não quer ajudar Portugal mas esquece-se que em Abril de 1940 este mesmo país deu-lhe ajuda moral e material, para a sua crise finlandesa!

Outra pode ser: “Fazer à Maneira Islandesa”. Foi o primeiro país a entrar em crise e, ao contrário da Irlanda, renegou ao salvamento integral dos seus bancos e rejeitou pagar certas contas, mas, apesar de afastada dos mercados internacionais, já saiu da recessão. Estamos neste estado lamentável, devido à corrupção interna, pública e privada, com incidência no sector bancário, e pelos juros usurários que nos são cobrados pela Banca Europeia. O movimento cívico M12M promete interpelar os nossos políticos sobre a “legitimidade democrática” do resgate financeiro.

Então, noutra designação dum qualquer FMI, não envolvido na Troika, mas mais paradoxal, vamos vendo os efeitos de quem emana ânimo ao país.

Por exemplo, “Foi Moura Internacional”. O português Eduardo Souto Moura venceu o Pritzker – o mais importante galardão da arquitectura do mundo e que distingue a carreira de um arquitecto. O seu currículo está envolvido em muitos projectos que concebeu, em Portugal e no estrangeiro. Na nossa região, é da sua responsabilidade a reconversão do Sanatório dos Ferroviários na Pousada da Serra da Estrela.

Atentando neste facto, gostaria que muitos dos covilhanenses, ocultos no anonimato, mas grandes nomes do mundo do trabalho, no país e no estrangeiro, viessem a lume.

Dentre vários, destaco dois irmãos – Daniel Monteiro, autor do projecto paisagista do Cemitério Municipal de Monchique (Guimarães), escolhido pelo júri para o Prémio Nacional de Arquitectura Paisagista, e responsável pelo projecto paisagista do Estádio Municipal de Braga, entre outros projectos de vulto; seu irmão, Ricardo Monteiro, quadro mundial e coordenador de várias empresas, na área da gestão, onde a sua acção de liderança e relações internacionais têm feito singrar para o mais alto galarim o grupo de empresas que lidera, espalhadas por vários países, numa grande capacidade de trabalho e liderança. CEO ibero-americano.

Podíamos também designar FMI, “Faleceu Maria Ilda”. Covilhanense ilustre, Maria Ilda Catalão Espiga faleceu aos 101 anos. Conheci esta bondosa senhora que se dedicou, de alma e coração, à cultura. Durante muitos anos foi colaboradora duma página feminina no “Notícias da Covilhã”. Cronista, foi dedicada à educação de adultos, operariado têxtil, e fundadora de instituições de ajuda às famílias, e no âmbito da solidariedade, em tempos que também não eram fáceis, dentre de várias acções humanitárias, como é timbre da mulher covilhanense.

É por isso que, com exemplos de políticos de hoje, mas na retrospectiva de acções de figuras e factos de outros tempos, o Zé Povinho tem razão para continuar a manter-se vivo.

(In Notícias da Covilhã de 28.04.2011)