14 de julho de 2015

SÓ SEI QUE NADA SEI

1. Na altura em que redijo esta crónica Portugal está de luto. Desapareceu do mundo dos vivos Maria Barroso, a eterna primeira-dama portuguesa. Esta grande Senhora morreu no hospital que fundou – Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa. Mulher “determinada na defesa de causas e com o seu caráter humanista e força solidária”, que “valeu a pena ter vivido”, segundo a própria disse ao jornal i, em maio deste ano, aquando do seu 90º aniversário natalício.
2. E, enquanto neste “contentamento descontente”, surgido entre o “oxi”(não) e o “nai” (sim), os gregos procuram ansiosamente por uma resolução para a sua vivência, os Senhores da Europa certamente que também sentirão as suas pressões, sistólica e diastólica, alteradas (“Pecámos contra a dignidade dos povos da Grécia, Portugal e Irlanda” –  Jean-Claude Juncker – presidente  da Comissão Europeia que criticou modelo da “troika” e anterior equipa liderada por Durão Barroso, que se limitou a confiar em técnicos).
Vamos ver se a permuta de cabeças, no Ministério das Finanças grego, com a entrada do aristocrata Tsakalotos em substituição do académico Varoufakis, mantendo a mesma ideologia, dará o resultado desejado.
Jamais assistimos a uma posição de força de um país da moeda única, como o surgido com a Grécia, berço da democracia. Efetivamente foi na Grécia Antiga que nasceu a democracia, quando em 507 a. C., os atenienses, liderados por Clístenes, foram autorizados a falar e votar para as leis da cidade-Estado. Entretanto, surgiria o domínio turco durante um longo tempo de 350 anos, e, com a independência da Grécia em 1821, seria marcado o início da Grécia moderna.
O que é certo e verdade é que os gregos deram a toda a Europa e a todo o mundo uma lição de coragem e dignidade.
Em tempo de guerra, o maior perigo absorve o menor, faz-se pouco caso dos perigos dos mares; e as estações mais inclementes se estimam as mais favoráveis para escapar à vigilância do inimigo. Também aqui, os gregos com o Syriza, e o seu líder Alexis Tsipras, souberam, e compreenderam, ainda que duma forma pungente, que a constância seria a arma forte contra a genuflexão, esta atitude muito do agrado de Merkel e Hollande, e, até mesmo por estas bandas domiciliárias, da “simpática” Maria Luís Albuquerque, que nos “brindou” com a informação de que o País “tem os cofres cheios”.
3. Depois da troika estrangeira ter deixado o nosso País, ficou a troika nacional (Passos Coelho, Paulo Portas e Cavaco Silva), e, com este arranjo assim vai a nossa troika (a portuguesa), iludindo os portugueses, com elogios hipócritas aos credores e fazendo de conta que há um apaziguamento no país, chegando-se ao ponto caricato do homem de Boliqueime condecorar, no Dia de Portugal, com a Ordem do Infante D. Henrique, o costureiro de Maria Cavaco Silva. Logo surgiu o humor nas redes sociais, de que a esposa de Cavaco também lhe tinha falado para condecorar quem lhe arranjava as unhas…
E é assim que temos o retrato da desconfiança portuguesa. Como será então possível dar o salto qualitativo para o desenvolvimento e a solidez democrática?
Segundo um trabalho de São José Almeida, na Revista 2 do Público de 14 de junho, referindo-se à Confiança, dizia:
- “Quando o país parece pronto a arrancar para uma nova etapa de desenvolvimento, a questão é saber até que ponto será limitada pelos baixos níveis de confiança existentes na sociedade portuguesa”. E eu refiro, por exemplo, as mentiras continuadas dos governantes, mormente do seu líder; o não dizerem a verdade aos portugueses; a irrevogabilidade de uma decisão que, afinal, voltou com a palavra atrás, do antigo beijoqueiro das feiras; as inverdades do homem de Boliqueime: “Podem confiar no BES!”.
- “Quando as pessoas olham para o futuro e acham que o futuro não promete nada a não ser novas ameaças, essa unidade quebra-se”. E eu recordo o empurrar os jovens cérebros para fora do País; as constantes ameaças de já não haver dinheiro para a constituição de futuras pensões de reforma; a falta de confiança nos tribunais; nos governantes que continuam a não temer e a surgir novas surpresas de corrupção; os que passeiam por esse País fora banhado por um enriquecimento inexplicável, naquela de “Quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem”.
A confiança é, pois, fator fundamental para o desenvolvimento económico. O País continua com medo de ir para a rua. Os portugueses têm pânico de expor a sua opinião: Portugal é um país com muitos acobardados.
Segundo Guilherme de Oliveira Martins, verificamos que a sustentabilidade económica só se verificou em cinco períodos: descobrimentos, ouro do Brasil, emigrantes, volfrâmio e fundos comunitários. Tudo isto foi exterior. 80% da população vive entre Setúbal e Braga, numa faixa de 80 Km do mar para o interior. Era expetável que a partir de 1986, com a entrada na CEE, Portugal abandonasse “o seu estatuto de semiperiférico e se juntasse ao clube dos desenvolvidos, o que não aconteceu”.
Há um indicador em que Portugal está à frente de todos os países desde 1990: a confiança na Igreja. O cardeal D. Manuel Clemente diz que uma realidade “tem tudo a ver com a confiança”: “O que cria confiança é o conhecimento, e o que cria desconfiança é o isolamento”.
A confiança na justiça e nas instituições tem sido abalada pelos sucessivos casos de corrupção que envolvem figuras do Estado, da política ou da sociedade – o que descredibiliza perante a sociedade os que deveriam ser referência num país com “tradições que são difíceis e negativas”, como aponta Jorge Sampaio.
O País assistiu à falência de três bancos com contornos criminais: BPN, BPP e BES. A confiança abala-se no sentido de perguntarmos: “Em quem é que eu acredito?”
4. A Covilhã continua na sua senda cultural, vincando perfeitamente a sua condição de detentora do maior número de agentes culturais do Concelho, em relação a todo o distrito de Castelo Branco. Em cima da minha secretária um desdobrável da Agenda Cultural do Município da Covilhã, em formato original, dobrado em origami, cuja configuração é para quem goste; mais parecendo que foi concebida na inspiração de alguém enquanto passava a ferro…
E, depois de muitas polémicas, num acerbo de linguagem pouco própria do anterior líder do executivo camarário, as gentes covilhanenses já se começaram a aperceber que, afinal, valeu a pena a mudança. O trabalho está a surgir e havia muita treta, o que não obsta que considere que também nesta há boys, girls e interesses instalados.
5. Gala Tribuna Desportiva: - À hora que redijo este texto ainda não teve lugar este grandioso evento, que, pela 2.ª vez consecutiva, se realiza no Castelo de Belmonte, durante a noite de sábado, dia 11 de julho. Promover a distinção, ao longo do ano desportivo, de muitas figuras e coletividades da região, mormente do distrito de Castelo Branco, não está ao alcance de qualquer pessoa, mas sim dos melhores. Por isso, está de parabéns, mais uma vez, o impulsionador da Grande Gala, e diretor da Tribuna Desportiva, Pedro Martins, e também o Dr.  

António Pinto Dias Rocha, presidente do Município de Belmonte.

(In "fórum Covilhã", de 14.07.2015)

8 de julho de 2015

VERTENTES DA SOLIDARIEDADE

Ao longo do ano são várias as instituições que unem os seus membros, num sentido solidário, procurando minimizar as depauperadas algibeiras de muitos que se vêm constrangidos, nos tempos que correm, nos caminhos da míngua do que mais é indispensável para a sua sobrevivência e de seus familiares. E, então, é hábito os peditórios junto das grandes superfícies, por essas instituições: Banco Alimentar Contra a Fome, Cruz Vermelha, Santa Casa da Misericórdia, como exemplo. De âmbito nacional conhecem-se as recolhas do Banco Alimentar, numa ação altamente profícua, cujos géneros alimentares recolhidos são depois distribuídos por várias instituições parceiras, onde se inserem as Conferências de S. Vicente de Paulo, e alguns Centros e Lares da Região, que é vasta.
As Conferências de S. Vicente de Paulo, que geralmente não as vemos nesse âmbito de recolha de alimentos, pelas grandes superfícies, têm a seu cargo uma enormidade de carentes, a quem procura satisfazer, dentro das possibilidades de cada organização, nos vários aspetos das necessidades daqueles, que vão, para além dos géneros alimentares para colmatar algumas lacunas dos bens mais necessários, também na parte da saúde, através de ajuda nos medicamentos ou viagens para os locais de tratamento fora da cidade, a luz, água, gás, renda da casa, e sei lá que mais. Mas, dentro do espírito que envolve a Caridade, o mais importante é, tantas e tantas vezes, aquela palavra de conforto que se leva aos semblantes carregados, daquela gente ávida de enormes desabafos, no seio da sua solidão.
Nesta envolvência de ajuda conscienciosa ao próximo, procuram os membros das Conferências analisar cada caso para que se evitem abusos, através das normais fontes de informação, a solicitar aos necessitados, e sempre sob anonimato.
Isto não invalida que muitas vezes são as Conferências confrontadas com condutas impróprias de quem necessita, ocultando rendimentos ou ajudas que entretanto já recebem de outras instituições, que nem sempre é possível em cruzamento de dados.
Foi assim sugerido, em determinada altura, que as mesmas instituições que regularmente distribuem géneros alimentares, fornecessem as listas de quem ajudam, a fim de que não houvesse as mesmas pessoas a receberam de várias instituições ao mesmo tempo, em detrimento de outras a quem tem que se reduzir, ou não entregar, a dose de géneros que iriam melhorar a sua escassez de recursos.
É que, uma coisa é ter necessidade, outra coisa é dar jeito…
Vem isto a propósito de alguns reparos que ouvimos por esta cidade. Também estranhamos porque é que há tanta relutância em prestar informações que viriam a evitar os já referidos abusos.
No dia 5 de julho realizou-se o Convívio Vicentino, no Seminário do Tortosendo, desta vez a cargo da Conferência de S. José, do Canhoso, onde estiveram presentes, para além dos representantes do Conselho de Zona da Covilhã, o Rev.º Padre Henrique Rios, cerca de quatro dezenas de vicentinos das várias Conferências da Cidade da Covilhã e Tortosendo, e também o Presidente do Conselho Superior, Correia Saraiva, que é a entidade máxima das Conferências em Portugal. Esta Conferência do Canhoso comemorou também o seu 10º aniversário.
A Sociedade de S. Vicente de Paulo foi fundada pelo francês António Frederico Ozanam, e seus companheiros, em 1833, em Paris, com o nome de Conferência da Caridade. Em 4 de fevereiro de 1834 passou a dedignar-se Sociedade de São Vicente de Paulo.
Numa altura difícil, da vida em França, com guerras existentes, e, depois, pelo mundo fora, a Sociedade de S. Vicente de Paulo tem uma história rica, em toda a sua forma de ajudar os que mais necessitam e dentro do espírito da Caridade.
Muito do que gostaria de escrever não cabe neste espaço, mas dentro dos muitos países por onde se irradiou, gerando milhares de Conferências Vicentinas, chegou também a Portugal, embora tardiamente, no ano 1859, tendo, curiosamente, entrado na Grécia e na Alemanha, em 1846; em Espanha, em 1850; em Inglaterra e Irlanda em 1844; e em Itália, em 1842.
Na Diocese da Guarda viria a ser fundada a 1.ª Conferência Vicentina – Conferência de S. Luís Gonzaga – em 01/12/1891, mas só agregada em 1909. Mas seria a Covilhã, e continua a ser, o grande baluarte das Conferências Vicentinas da Diocese da Guarda, quatro delas já centenárias: Santa Maria Maior (inicialmente com a denominação de Nossa Senhora de Lourdes), fundada em 12/11/1899 (agregada em 18/12/1899); Nossa Senhora da Conceição, fundada em 19/03/1903 (agregada em 20/02/1905); S. Pedro, fundada em 29/06/1905 (agregada em 19/03/1906); S. Martinho, fundada em 19/02/1911 (agregada em 22/05/1911).
Depois, no âmbito do Conselho de Zona da Covilhã (antiga designação de Conselho Particular), fundado em 03/12/1910, existem ainda as seguintes Conferências: Tortosendo, fundada em 04/05/1924 (agregada em 29/09/1924); Alpedrinha, fundada em 26/11/1925 (agregada em 11/04/1927); S. José – Bairro dos Penedos Altos, fundada em 08/04/1951 (agregada em 27/05/1957); Imaculada Conceição de Maria – Fundão, fundada em 04/07/1949 (agregada em 14/05/1964).
Muitas outras Conferências existiram na Covilhã, diversas freguesias do seu Concelho e na região beirã, que, entretanto, estão desativadas.
De recordar que as Conferências da Cidade Covilhanense para além de prestarem vários auxílios, ao longo dos tempos, também estiveram envolvidas na criação de instituições de grande mérito.
A Conferência de Santa Maria Maior apoiava o Albergue dos Pobres (hoje Lar de S. José), fundado em 1900. Foi nesse ano que se conseguiu a vinda das Irmãzinhas dos pobres para cuidar do Albergue, as quais chegaram em 10 de junho de 1902 à Covilhã. Depois foi a criação da Cozinha Económica, mais tarde entregue à Santa Casa da Misericórdia da Covilhã. Estiveram também presentes na construção das casas do Património dos Pobres.

Enfim, uma riqueza da história das Conferências de São Vicente de Paulo na cidade covilhanense.

(In "Notícias da Covilhã" de 09-07-2015)