29 de abril de 2006

ENTRE AS BRUMAS DA MEMÓRIA

Volvidos 32 anos de democracia, muito se fez em prol do desenvolvimento neste País. Neste período temporal, duma vivência sem receios de cada um poder expressar as suas opiniões, também muitos retrocessos e solavancos emergiram; mais de três décadas, após a revolução dos cravos, muitos deles murcharam, outros tentaram florir com outra cor, mas os cambiantes não agradaram a todos.
Fomos exemplo para vários países, então ansiosos de viverem como os portugueses. Mas o ditado antigo persistiu – muitos se deitaram à sombra da bananeira – e no âmago duma vaidade que transcendeu os limites da nossa capacidade de trabalho, deixámos que a banda passasse.
Mesmo sem ultrapassagens pela direita, onde uns tantos procuram remover as guerras civis nos seus próprios seios; também os caminhos da esquerda se encontram por vezes oleosos, não permitindo plena segurança nas ultrapassagens da auto-estrada da governabilidade.
Não quero com isto dizer que não estamos no bom caminho, e que as ultrapassagens não devem ser feitas pelo sentido devido, mas algumas manobras perigosas num governo de acção têm que ser objecto de intervenção tenaz da autoridade presidencial da República.
Maus exemplos na governabilidade, como alguns surgidos na actual competência “socrática”, deviam ser evitados para que não surjam noutras mentes a ideia do faz o que eu mando mas não olhes para o que eu faço.
Trinta e dois anos de democracia em Portugal, com governos totalitários de triste memória; e demais governos democráticos para todos os gostos, alguns anseios, e mesmo alguns devaneios, não chegaram para consolidar uma forte, quão tranquila economia!
No actual mundo de alguns terramotos financeiros, numa globalização em que, para muitos era um mito, mais uma vez deixámos que a tartaruga ganhasse a corrida à lebre, e os resultados aí estão: continuamos a circular nas estradas, devagar, devagarinho, e a permitir sermos ultrapassados: foi a Grécia, depois a Eslovénia, agora a República Checa; e porque ainda não estamos em tempo de ciclismo pelas estradas de Portugal, seria de mau gosto sermos o carro vassoura.
Mas quem tem razão é José Gil quando, na Visão de 16/03/2006, diz que “Se Portugal sofre ainda de uma doença antiga, é do pessimismo. Entranhado, faz de nós não um povo taciturno, mas demasiado sério, ensombrado, fechado por dentro. Somos lentos, culpados de tudo.”
Então, no desejo de continuarmos viajando mais sossegados, deixemos conduzir os actuais governantes, já que os seus predecessores fizeram manobras muito mais perigosas; sem contudo, face à cansativa sinuosidade, permitirmos que venham a cair no sono. O mesmo, em viagens, só se admite às crianças e bebés, incluindo os que venham a sair das maternidades.
E não a fazer espalhafatos como o definiu António Barreto, no Público de 2 de Abril. As maternidades são um direito onde os nossos filhos, os nossos netos, devem nascer; e não, como eu, que há seis décadas nasci em casa, com a então D. Lucinda a servir de parteira para toda a família!
Não desejamos que os futuros nascituros, quando virem a luz do dia e um dia se juntarem nas escolas, venham a comentar: eu nasci na A23; pois eu nasci no Túnel da Gardunha; e eu à Soalheira!!!
Já muito foi dito sobre o grande NÃO ao fecho de qualquer maternidade da Beira Interior, mormente a da Covilhã; com ou sem fraldas às varandas e janelas; com ou sem manifestações pejadas de forte revolta; pelo que, se for necessário para dissipar um dos pecados “socráticos”, o nosso Hino Nacional ainda está vivo, para podermos dizer: “contra os canhões, marchar, marchar!!!”.
Este nosso Portugal, construído na sustentabilidade de um País independente e livre, há vários séculos, já teve muitas fases de agitação, de bons e maus momentos, de boas e más recordações, de tristes e ledas madrugadas, e, como tal, também a nossa Covilhã, na existência de longos anos, teve os homens que se encontravam ao leme da embarcação covilhanense, em datas de significativa importância.
Nestes 32 anos da Revolução de Abril, pretendo recordar quem foram essas figuras covilhanenses, tanto em 1974 como noutras Revoluções precedentes.
Assim, a última sessão da Câmara Municipal da Covilhã, antes da Revolução do 25 de Abril de 1974, havia sido realizada no dia 23 de Abril, sob a presidência de Jorge Craveiro de Sousa. A seguinte só se realizou em 30 de Abril, ainda presidida por Jorge Craveiro de Sousa, e os vereadores Dr. Albertino Fiens, Alfredo Sá Pessoa, António Rodrigues Pintassilgo, Dr. Fernando Panarra e Jaime Carvalhão de Sousa.
Após o 25 de Abril, a primeira reunião, com a nova Câmara, em Comissão Administrativa, só se realizou em 21 de Maio de 1974, sob a presidência de Luís Filipe Mesquita Nunes, António Carlos Andrade, Augusto Lopes Teixeira, Capitão Carlos Paiva Carvalho, Jerónimo dos Santos, Drª. Maria Manuela Barata e Dr. Orlando Batista.
Aquando da implantação da Republica, em 5 de Outubro de 1910, presidiu, na qualidade de Vereador mais velho, José da Fonseca Teixeira que fora dos primeiros comandantes dos Bombeiros Voluntários da Covilhã, e o primeiro director da Escola Industrial Campos Melo.
Já na aclamação de D. Manuel II, como novo Rei de Portugal (e último), em 6 de Maio de 1908, presidia à Câmara da Covilhã o Dr. Luís Neves Alves Batista.


(In “Notícias da Covilhã”, de 29/04/2006; e no diário digital Kaminhos)

16 de abril de 2006

A AMNÉSIA DOS BOMBEIROS DA COVILHÃ

Por duas vezes o meu telemóvel tocou sobre o mesmo assunto. Não liguei, da primeira vez, mas decidi-me pela segunda. Vai daí, meto as pernas a caminho do Serra Shopping. À entrada, cumprimento alguns bombeiros, dou um olhar pelas peças em exposição e pelos documentos “que fizeram a história dos bombeiros”.
Três jornais da região, e um magazine digital, que também fazem parte obrigatória das minhas leituras, se referiam ao assunto. Daí também o despertar de interesse.
Os bombeiros portugueses, e, obviamente, os bombeiros covilhanenses, merecem ter as condições necessárias para o desenvolvimento da sua acção humanitária, independentemente da maior dose de voluntariado ou mercenarismo.
Daí todos os donativos serem bem vindos.
Mas, francamente, sobre uma pequena retrospectiva dos BVC, um pequeno expositor acumulava jornais, revistas, certificados e outros documentos de menor importância.
A verdadeira história dos Bombeiros Voluntários da Covilhã, inserida em livro de mais de mil páginas, de que se deveriam orgulhar as gentes que lideram a Direcção e Comando dos nossos Bombeiros, essa ficou a um qualquer canto da Sede, provavelmente empilhada, já que o interesse na sua divulgação é um acto de proibição.
Lamentável conduta de quem deveria dar o exemplo!
E, a propósito de donativos, porque não se interessaram em promover a venda dos livros, para os quais os bombeiros já despenderam o custo exclusivo do trabalho tipográfico? Não seria esta uma oportunidade para o fazerem, como igualmente quando participam nas feiras de exposições promovidas pela Câmara Municipal?
Não me digam que foi esquecimento porque, com tanta gente, nesse caso, há amnésia total. Pela minha parte conheço, desde a génese, os porquês.


(In “Notícias da Covilhã” e “O Interior”, de 30/03/2006; e Jornal do Fundão, de 06/04/2006)