18 de maio de 2006

TENHO "DOIS AMORES"

A caminho do meu escritório, pasta na mão, acabo de passar as últimas escadas dos silos auto, quando sou interpelado por um amigo que há muito não via. Brevíssimos momentos de reminiscências, são tema de conversa. Entretanto, o António “Pinga” vem interromper a mesma – “uma moedinha para o tabaco...”
O meu interlocutor dizia que tinha estado a ler uma das minhas crónicas, um dia destes, e perguntava onde é que eu ia procurar a inspiração.
- A descarga fisiológica de um passarinho, ao cair-nos em cima, por exemplo, quando menos se espera, pode servir de inspiração – respondi.
Depois do insucesso a que assisti, no último jogo do nosso Sporting da Covilhã; e ter mesmo ficado agastado, como centenas de covilhanenses, com o escândalo da equipa do apito; e já depois de pouco mais arrefecida a animosidade, fui visitante atento, no fim-de-semana, na III Exposição de Trabalhos das Escolas do Concelho, realizada no Pelourinho, integrada no quarto certame de Feiras da Covilhã.
Dos mais pequeninos, aos jovens estudantes do secundário, verificou-se o entusiasmo com que alunos e professores mostravam o mundo do conhecimento para o saber, pelas bandas dos estabelecimentos diversificados do ensino na Covilhã – das escolinhas ao ensino da música; do que existe na Escola nº. 3, das Palmeiras, à da Frei Heitor Pinto e à da Secundária Campos Melo. Memórias antigas registadas neste último stand, transportaram outras memórias para a origem duma instituição que pretendeu preservar a história da Escola Campos Melo, onde, daqui, muitos vieram encontrar o mundo do trabalho, no florescimento e nas crises da indústria laneira. A APAE mantém laços de amizade com todos quantos passaram por este estabelecimento de ensino, e num contributo para a cultura covilhanense, naquilo que intitulámos, na altura, de primavera cultural.
A APAE Campos Melo é, indubitavelmente, a menina dos meus olhos, no orgulho de ter contribuído para a sua fundação, como primeira associação no País, do género, aglutinando, no seu seio, todos quantos na mesma Escola Industrial trabalharam; e da qual, associação, fui o seu segundo presidente da Direcção. Na mesma surgiu a criação da revista que se mantém viva – “Ecos da APAE”.
A propriedade do edifício sede, em pleno coração da cidade, reconstruída há pouco tempo, a expensas da edilidade (méritos para o Presidente Carlos Pinto), deve merecer a atenção da cidade nas várias exposições ali apresentadas, fruto das obrigações de uma Direcção cuja liderança tem proporcionado trabalho de excelência, na teimosia de manter em águas tranquilas os méritos duma associação de prestígio apesar da envolvente de crises que a todos nos rodeiam.
Mas, desde menino, uma colectividade que sempre prestigiou a nossa cidade e a nossa região – o Sporting Clube da Covilhã – me acompanhou numa latente atenção, independentemente de ser espectador in loco, ou ouvinte de sofá; extravasando no sentimento de passar de meras palavras a acções, para que do acervo documental então chegado às mãos, fruto de muitos amigos, covilhanenses e não só, pudesse fazer luz perene das estórias para a história da colectividade. Muitos dos testemunhos, recolhidos de pessoas já fora do mundo dos vivos, se não tivessem sido obtidos, originariam que a história ficasse mais pobre.
Só quem andou pelo aliciante mundo da investigação soube sentir o valor da amizade.
A recreação, o deleite, são importantes na vida humana e, como tal, os Leões da Serra foram forte contributo para proporcionarem momentos de distracção, aos domingos. Enobreceram a cidade; muitos dos covilhanenses se aperceberam quão carinhosamente o nome do Sporting da Covilhã era acolhido por esse País fora; um dos históricos do futebol português, tendo levado bem alto o nome da Covilhã.
A indignação pela espoliação de que o clube foi alvo, por um indigno trio sem escrúpulos, empurrando-o para fora dos seus horizontes, não pode deixar de ser uma nódoa na história do futebol português.
Os leões serranos devem ser a colectividade portuguesa, com excepção dos três grandes, que têm maior número de obras sobre a sua história escrita (três livros), além de várias compilações. No próximo ano vai comemorar 50 anos da sua participação na final da Taça de Portugal – 2 de Junho de 1957. Os poucos elementos, ainda vivos, que participaram ao longo daquela época desportiva, até chegarem à final, pouco adiantam ao já referido nas publicações precedentes; contudo, uma quarta obra – “O Sporting da Covilhã na Final da Taça de Portugal – Cinquentenário” já está em preparação, numa interessante história em números: todos os resultados, todos os marcadores de todos os jogos da Taça de Portugal, de todos os tempos; e uma actualização da última obra até aos dias de hoje, numa previsão de 150 páginas. Esta é uma forma de dar corpo a uma homenagem à colectividade que sempre prestigiou a Covilhã.
E também, mais uma vez, de substitui as palavras por actos, no silêncio de quem gosta muito do clube mais representativo da sua Terra e da sua Região, lutando muitas vezes contra ventos e marés.
Quem quiser apresentar as suas sugestões, as suas críticas, pode agora fazê-lo através do blog de quem escreve estas linhas:
http://entre-as-brumas-da-memoria.blogspot.com

(In “Notícias da Covilhã”, de 18/5/2006)