Vamos caminhando pelas estações
da nossa vida, repartida em quatro estados de alma, conforme podemos, ou nos
deixam andar, nesta simbiose de temperamento.
E neste movimento de translação
das nossas vidas, entre Equinócios e Solstícios, vai o tempo velozmente
passando para o cumprimento das responsabilidades, mas vagarosamente certo,
como as longas noites invernosas, na resolução de problemas prementes.
A esperança de um dia permanecer
um sorriso de felicidade, proveniente daquela aura de um tempo de juventude das
Primaveras da vida, está sendo envolvida por um estado de alma de grande
invernia.
E, como nós, viventes do “antes”
e do “depois”; de tempos do opressor, trocados pela cavalaria de salvação do
nosso País, que temos a dizer, com o nosso estado de alma, por essas memórias
passadas da revolução?
Se dantes tínhamos tiranos, hoje
existem déspotas mesmo desencapotados, por todo o lado, numa nítida
encruzilhada de regresso ao “antes”. Homens sem vergonha, duma desonestidade mental,
alguns dos quais deveriam permutar o emblema de Portugal, que possuem na lapela
do casaco, por outro concebido em exclusivo com a palavra “mentiroso”.
Mesmo assim, enquanto
ex-estadistas, apregoadores da moral e dos bons costumes, continuam a não prescindir
de pessoal, gracioso, ao seu serviço privado, mas com a despesa salarial a
cargo do País, num verdadeiro mau exemplo; outros, homens e mulheres do
trabalho, curvados sob o peso das incertezas dum imaginável futuro, avançam sob
o sol escaldante dos verões das suas vidas e, vão labutando, labutando, para
que os portões das empresas dos seus ofícios se mantenham abertos.
Do estado de alma de uma
esperança, ainda que ténue, da primavera da vida, ressalta um estado de alma
penalizado por aquela expressão na sua intimidade – “O que é que eu fiz para
não poder ter os méritos de um emprego?” - para, noutro estado de alma, a
perseverança ser a grande arma apontada às contrariedades surgidas por um País
ocupado.
Outro estado de alma é já o
conformismo doloroso de muitos dos pensionistas, abalados pela sagaz ameaça
duma tirania financeira, na redução das magras pensões, depois de durante
muitas Estações, dos muitos anos, terem descontado percentagens salariais,
produto das suas algibeiras, para a garantia duma pensão futura.
E que dizer do verdadeiro estado
de alma daquele formigueiro de gente, alguns de cara tapada, ou voltados de
costas, ou de lado para a parede, a caminho do Banco Alimentar, Misericórdias,
Conferências de S. Vicente de Paulo, Cáritas, Lares e outras instituições de
solidariedade social?
E porque já nos encontramos no
outono da vida, deu-nos vontade; neste caminhar pelas ruas da cidade
universitária, ex-líbris de laneira, que foi; de apreciar as belezas outonais
da mesma, no colorido das folhas caídas, mistura de uma apreciação das obras
que deram outro rosto à Cidade, e outras formas de estar, mas também (aquilo
que dantes não nos era possível observar), todo um conjunto de muitas ruínas
que entristecem a Cidade.
Mas, entre tristes e ledas manhãs,
tristes e ledas tardes ou madrugadas, vamos assistindo a burburinhos pela
Cidade; por vias do que vem no papel-notícia, nos falantes em tertúlias ou no
largo do Pelourinho, para já não falar nos cafés da urbe; sobre politiqueiros e
politiquices de ocasião, entre arrazoados de uns; e candidatos em espera, de
outros.
No meio disto tudo, respiramos
dum certo ar de enfado, neste Equinócio do outono, na compreensão de que,
efetivamente, o “tacho” é bom, é barato e dá milhões…
E, mais não dizemos, já a caminho
do Solstício de dezembro, para evitar confusões…
In “Notícias da Covilhã” de
12.12.2012; e no “Combatente da Estrela” do mês de dezembro