Ao
longo dos cento e trinta e oito ano s
que constitui a longevidade da gloriosa Associação dos Bombeiros Voluntários da
Covilhã, os seus Homens de boa vontade, dotados daquela dinâmica,
maioritariamente intrínseca, que lhes vai na alma de Soldados da Paz, como sói
dizer-se, vai preenchendo páginas de heroicidade, bordadas a ouro de grande
quilate.
É
que, independentemente de divergências que sempre surgem em todas as
instituições, próprias de quem faz girar a máquina do desempenho ao longo dos
tempos, quando o fumo se faz anunciar ou o socorro é solicitado para eliminar
as angústias, inesperadamente surgidas, não há nenhum Homem ou Mulher das
Corporações de Bombeiros que não se apronte para ajudar o seu semelhante.
E
fá-lo, de tal forma, sem vaidade nem espera de recompensa, mas com o sentido da
grande expressão de amor ao próximo.
E,
assim, muitos heróis integram já a longa história dos Bombeiros Voluntários da
Covilhã (BVC), por factos assumidos na valentia do salvamento de pessoas e bens,
para ficarmos só por esta vertente.
O
que é certo, é que, embora existam páginas gloriosas, mais valia que algumas
destas não tivessem sido escritas, por desnecessárias, sinal de que os
infelizes eventos não tinham acontecido.
E foram já muitos os Covilhanenses,
de raiz ou de coração, da cidade ou das zonas rurais, que foram salvos, ou os
seus bens patrimoniais. Outros, devido à força demolidora dos inesperados
incêndios, muitos dos quais pelas mãos de demónios, que se soltaram dos inferno s, não puderam sentir aquele desabafo, e as
alegrias na eliminação dos sustos, ou no
mino rar dos prejuízos.
Mas
o que dizer de quem entrega a sua vida na defesa dos seus irmãos, nesta
humanidade de contorno s difusos,
entre o bem e o mal, entre o que grita de raiva e o que chora de toda uma
tristeza, e se vê confrontado com o entregar a sua vida, “num ai que mal soa”,
na expressão poética de João de Deus, e deixa os seus queridos familiares na
situação inversa de quem agora necessitava dessa mão protetora que foi dar continuidade
da vida aos outros, em permuta com a perda da sua própria existência?
Com
a situação, infelizmente surgida, de mais uma vítima no
seio dos no ssos Bombeiros da
Covilhã, ocorrida no passado
feriado, 15 de agosto (quinta-feira), somam já sete mártires ao serviço desta
Associação, que tem as insígnias do Grau de Cavaleiro da Ordem Militar da Torre
e Espada, Valor, Lealdade e Mérito, atribuída pelo Governo ,
em 03.02.1928.
A
primeira vítima – ABÌLIO ADELINO SOUSA
– fundador dos BVC, ocorreu num fatídico domingo de 18 de fevereiro de 1883,
primórdios da existência dos BVC, desaparecendo do mundo dos vivos durante um
exercício realizado pelos BVC.
Já o segundo mártir – SEBASTIÃO SANTOS JÚLIO – ele altamente
condecorado por atos de bravura, viria a falecer, de acidente, na viatura onde
seguia, quando se deslocava, pelas 20 horas, com outros bombeiros, para um
incêndio, naquela quinta-feira do dia 10 de setembro de 1931. Seguia no pronto-socorro “Lancia” para o sítio designado
“Casas Novas”.
Devido
aos atos de verdadeira coragem, arrojada dedicação, e com riscos da própria
vida, salvando oito pessoas aquando do incêndio da Mineira, na no ite de 14.06.1907, foi-lhe, por decreto de Sua
Majestade, de 3.8.1907, concedida a Medalha de Prata de D. Maria II, para
distinção e prémio concedido ao Mérito, Filantropia e Generosidade.
Por
decreto de janeiro de 1932, foi-lhe conferido, a título póstumo, pelo Governo da República, o Grau de Cavaleiro da Ordem
Militar da Torre e Espada.
O
terceiro mártir – MÁRIO DIAS TAROUCA – faleceu na madrugada do domingo, 12 de abril de 1936, cerca das 2 horas da manhã, em consequência de um desastre ocorrido no incêndio da fábrica de Manuel Lino Roseta.
As quarta, quinta e sexta vítimas mortais – ANTÓNIO MIGUEL VAZ MARQUES, RICARDO BRUNO DE JESUS CARDONA e FERNANDO MANUEL SOUSA XISTRA, viriam a sucumbir naquela fatídica sexta-feira de 2 de agosto de 1996, proveniente do grave acidente aéreo, devido à queda do helicóptero, na Covilhã, que ia combater incêndios florestais.
Por último, surge, no feriado daquela quinta-feira de 15 de agosto de 2013, a perda do bombeiro covilhanense PEDRO MIGUEL DE JESUS RODRIGUES, que integrava esta atividade desde18.01.2000, e que, apanhado pelas chamas na zona sul do concelho da Covilhã, não conseguiu fugir e viria a falecer.
O seu funeral, com a presença de várias entidades militares, civis e religiosas, entre as quais o Ministro da Administração Interna; D. Manuel Felício, Bispo da Guarda; Presidente da Câmara, da Covilhã, Vereadores e Candidatos às Eleições Autárquicas, e muitas Corporações de Bombeiros do País, constituiu uma enorme manifestação de pesar.
Votos
para que páginas sobre a história dos BVC, neste capítulo, não se repitam.
(In "Notícias da Covilhã", de 21.08.2013)