Já lá vai o tempo em que me considerava um “cidadão de terceira”, naqueles longínquos anos dos princípios da década de sessenta, então iniciando uma carreira no funcionalismo público, o tal emprego de futuro, aquele que poderia ser vitalício, o que não era de perder. Exigiam-se habilitações mínimas do antigo quinto ano liceal, ou equivalente (a universidade era só para os ricos, e a mais perto era em Coimbra), e, para se ganharem mais uns 200 ou 300 paus (muito bom para a época) era necessário concorrer, sair a classificação no Diário do Governo (como então se designava), e competir com outros, muitas vezes com ultrapassagens pela direita...Paradoxalmente, as empresas da região respiravam de prosperidade, com a indústria laneira como rainha, onde muitos dos seus quadros administrativos, alguns de habilitações literárias reduzidas à antiga 4ª. Classe, absorviam pessoal nos seus escritórios ou armazéns, com salários que dobravam os dos funcionários públicos.
O contraste entre quem não tinha direito a qualquer pinga de assistência médica (ela não existia no funcionalismo público, e só mais tarde surgiu a ADSE), a reforma era só aos 70 anos, embora a 100%, traduzia-se numa abissal diferença “com os cidadãos de primeira” que residiam no sector privado, onde tinham direito a previdência, no Posto Médico; reforma aos 65 anos, sobre 80% da média de salários; existindo ainda, neste sector, os “cidadãos de segunda” – o operariado que vivia com sacrificados salários, mas tinha direito a assistência médica.
Os funcionários públicos, se quisessem ir a um médico, tinham que pagar uma consulta do seu bolso, muitas vezes ficando com as receitas nas suas algibeiras rotas, ou então endividando-se; outras vezes era a bondade de médicos que conheciam esses problemas e não levavam nada pelas consultas, como o Dr. Baltazar; outros só o faziam quando perguntavam qual era a sua profissão.
Nestes tempos, de brandos costumes, carregados de ditadura, era plenamente justificável a incidência da reforma a 100% para os funcionários públicos.
Com o decorrer dos anos e após a Revolução do 25 de Abril, as muitas reivindicações do funcionalismo público vieram provocar a troca de papéis, agora já todos beneficiando de assistência médica e medicamentosa, continuando com regalias de 100% de reforma sobre o último salário auferido, e outras mais, passado a “cidadãos de primeira”, retirando para segundo plano o sector privado, que passou a manter-se na cepa torta, agora atirados para “cidadãos de segunda”.
Esta guerra-fria jamais encontrara timoneiro do governo com coragem para enfrentar, de vez, a resolução dum problema, a todos os títulos moral.
Coube ao actual Primeiro-Ministro esta tarefa arrojada, difícil e melindrosa, na perspectiva de dividir os sacrifícios por todos os cidadãos, deixando assim de haver filhos de Deus e filhos do diabo.
Só empurrados por um negro défice se conseguem chegar a reformas na administração pública deste jaez, as quais, mesmo assim, deixam Portugal continuar a crescer pouco e a afastar-se da Europa, embora a União Europeia se encontre à beira da desorientação total. Portugal é o país mais pobre da Zona Euro.
No entanto, continua e continuará a haver anuências e discordâncias às decisões de Sócrates. E o mesmo será preso por ter cão e preso por o não ter. Se o Primeiro-Ministro não tomasse medidas deste tipo seria apelidado de irresponsável; mas ao tomá-las, é considerado não cumpridor de promessas.
Da maneira como se encontra o País é que este não pode continuar, dificultado com uma Europa sem europeus, ou, pelo menos parte decisiva deles.
Com a China a entrar, directa ou indirectamente, nas nossas casas, nos nossos locais de trabalho, para onde vai esta Europa e este Portugal? A China é, presentemente, a explicação de todos os nossos males e muito principalmente dos da indústria têxtil, mas muitos sabem perfeitamente que o mundo não muda a correr e, assim, a competitividade foi uma palavra mal vista.
Enquanto redijo este texto, levantei o rato do computador e, na base, verifico na etiqueta “made in China”.
Quando é que um dia podemos ver a mais pequenina peça com a etiqueta a identificar “made in Portugal”?
Choramos agora sobre o leite derramado, o mau aproveitamento, e a engorda de muitos, com a má aplicação dos fundos europeus, com grande culpa dos vários governos, do PSD e do PS, todos quantos nos governaram, onde imperou uma autêntica falta de fiscalização.
Só se houve falar do défice e mais défice, continuando a surgir surpresas desagradáveis com as reformas de luxo de quem deveria dar o exemplo, e outras condutas deploráveis, pelo que é bem verdade o ditado de que “Bem prega Frei Tomás, olhai para que o ele diz mas não para o que ele faz”!
(In “Notícias da Covilhã”, de 10/06/2005; e gazeta digital Kaminhos)
10 de junho de 2005
1 de junho de 2005
OS 82 ANOS DO SPORTING DA COVILHÃ
Tudo se encaminha para que o clube do coração da maioria dos covilhanenses comemore o seu aniversário com a subida à II Liga, lugar onde minimamente se deve situar.
É o clube mais representativo da região desde que, há mais de oito décadas, algumas figuras da colectividade de maior poder económico, ligadas ao meio industrial – o Estrela Futebol Clube – aceitou o convite de dirigentes do SCP, que vivia uma euforia de criação de filiais, para se fundir com a denominação de Sporting Clube da Covilhã.
Havia outras colectividades, mais de cariz operário, como o Montes Hermínios e o Clube de Futebol “Os Covilhanenses” que optaram pelas cores do Belenenses.
A partir de 1935, as Direcções de então resolveram deixar as formas rudimentares como se jogava a bola, abrir os cordões à bolsa e contratar o primeiro treinador (Pedro Costa), que acumulava como jogador.
O clube serrano, sempre campeão da Província da Beira Baixa, entra na II Divisão Nacional, e, na época de 1937/38, dá o primeiro sinal de que queria outros voos – a então I Divisão Nacional – o que só não conseguiu, por um triz, na final com o Carcavelinhos Futebol Clube, em Santarém.
Viria a concretizar-se a sua entrada na divisão maior do futebol português, na época de 1947/48, com o delírio das gentes covilhanenses e de toda a região beirã.
De seguida, a conquista da Taça “O Século”, e a final da Taça de Portugal, em 2 de Junho de 1957, em data de aniversário; época em que descia de divisão, quando, na época anterior, havia atingido a maior classificação de sempre – 5.º lugar.
Depois, nova subida de divisão, por quatro épocas, para, de seguida, um longo interregno entre as II e III divisões; e só na década de 80 do século passado teve duas efémeras passagens pela I Divisão.
Com estes eventos, e na longevidade de um clube histórico do futebol português, é pena que não esteja tão presente a vertente cultural, pois há muitas formas de a inserir; para que os sócios e as gentes covilhanenses usufruam também de um pouco mais que os jogos, compreendendo-se perfeitamente que as preocupações prementes vão, quase sempre, para a resolução das dívidas e dos problemas do dia a dia.
Os sócios são a pedra basilar da catedral leonina, e parece que vão receber diplomas de 25 e 50 anos, o que se apraz registar.
Mas também é preciso não esquecer figuras dirigentes de outros tempos, longos anos no dirigismo leonino, longos anos a sacrificar a sua família em prol do clube, muitos já afastados do mundo do futebol, face às contingências da vida.
Há que esquecer conflitos e algumas divergências; dar as mãos em prol do clube de todos nós.
No futebol, os que hoje são ovacionados e levados em ombros, amanhã podem ser vexados e acusados de isto ou daquilo; mas é necessário ter presente que, muito ou pouco, todos tiveram quota-parte no engrandecimento do maior clube da região.
Muitos clubes, felizmente, têm as suas bandeiras e os seus símbolos – aquelas figuras marcantes na vida desportiva da colectividade.
Temos visto no nosso Clube de sempre, o reconhecimento em duas figuras símbolo dos Leões da Serra – João Lanzinha e Francisco Manteigueiro.
No entanto, penso, que outros símbolos que vivem na Covilhã, há muitos anos, foram votados ao ostracismo, e eles foram marcantes nas épocas florescentes do SCC, como na melhor classificação de sempre, em 1955/56, e na final da Taça de Portugal, em 1957, entre outras. Refiro-me ao Jorge Nicolau e Fernando Pires; e mesmo Fernando Cabrita.
Dos participantes na final da Taça de Portugal, já faleceram: Rita, Martin e Carlos Ferreira.
Nas festividades, interessante seria, e justo, o reconhecimento, em forma de alternância (por haver muitas figuras a merecerem o destaque), de antigos atletas e dirigentes.
No entanto, muitos dos que deram o seu melhor, muitos anos, ao seu único clube de sempre, e que, se tivessem seguido para outros clubes, certamente teriam sucesso, como se evidenciaram na Covilhã; não me recordo de terem sido objecto de homenagem.
Menciono apenas um nome, entre outros – António José Fernandes FAZENDA.
O Sporting da Covilhã estará em festa e todos os obreiros que contribuíram para a mesma merecem lhes sejam endereçados os parabéns.
(In “Notícias da Covilhã”, de 20/05/2005; e “Gazeta do Interior”, de 01/06/2005)
É o clube mais representativo da região desde que, há mais de oito décadas, algumas figuras da colectividade de maior poder económico, ligadas ao meio industrial – o Estrela Futebol Clube – aceitou o convite de dirigentes do SCP, que vivia uma euforia de criação de filiais, para se fundir com a denominação de Sporting Clube da Covilhã.
Havia outras colectividades, mais de cariz operário, como o Montes Hermínios e o Clube de Futebol “Os Covilhanenses” que optaram pelas cores do Belenenses.
A partir de 1935, as Direcções de então resolveram deixar as formas rudimentares como se jogava a bola, abrir os cordões à bolsa e contratar o primeiro treinador (Pedro Costa), que acumulava como jogador.
O clube serrano, sempre campeão da Província da Beira Baixa, entra na II Divisão Nacional, e, na época de 1937/38, dá o primeiro sinal de que queria outros voos – a então I Divisão Nacional – o que só não conseguiu, por um triz, na final com o Carcavelinhos Futebol Clube, em Santarém.
Viria a concretizar-se a sua entrada na divisão maior do futebol português, na época de 1947/48, com o delírio das gentes covilhanenses e de toda a região beirã.
De seguida, a conquista da Taça “O Século”, e a final da Taça de Portugal, em 2 de Junho de 1957, em data de aniversário; época em que descia de divisão, quando, na época anterior, havia atingido a maior classificação de sempre – 5.º lugar.
Depois, nova subida de divisão, por quatro épocas, para, de seguida, um longo interregno entre as II e III divisões; e só na década de 80 do século passado teve duas efémeras passagens pela I Divisão.
Com estes eventos, e na longevidade de um clube histórico do futebol português, é pena que não esteja tão presente a vertente cultural, pois há muitas formas de a inserir; para que os sócios e as gentes covilhanenses usufruam também de um pouco mais que os jogos, compreendendo-se perfeitamente que as preocupações prementes vão, quase sempre, para a resolução das dívidas e dos problemas do dia a dia.
Os sócios são a pedra basilar da catedral leonina, e parece que vão receber diplomas de 25 e 50 anos, o que se apraz registar.
Mas também é preciso não esquecer figuras dirigentes de outros tempos, longos anos no dirigismo leonino, longos anos a sacrificar a sua família em prol do clube, muitos já afastados do mundo do futebol, face às contingências da vida.
Há que esquecer conflitos e algumas divergências; dar as mãos em prol do clube de todos nós.
No futebol, os que hoje são ovacionados e levados em ombros, amanhã podem ser vexados e acusados de isto ou daquilo; mas é necessário ter presente que, muito ou pouco, todos tiveram quota-parte no engrandecimento do maior clube da região.
Muitos clubes, felizmente, têm as suas bandeiras e os seus símbolos – aquelas figuras marcantes na vida desportiva da colectividade.
Temos visto no nosso Clube de sempre, o reconhecimento em duas figuras símbolo dos Leões da Serra – João Lanzinha e Francisco Manteigueiro.
No entanto, penso, que outros símbolos que vivem na Covilhã, há muitos anos, foram votados ao ostracismo, e eles foram marcantes nas épocas florescentes do SCC, como na melhor classificação de sempre, em 1955/56, e na final da Taça de Portugal, em 1957, entre outras. Refiro-me ao Jorge Nicolau e Fernando Pires; e mesmo Fernando Cabrita.
Dos participantes na final da Taça de Portugal, já faleceram: Rita, Martin e Carlos Ferreira.
Nas festividades, interessante seria, e justo, o reconhecimento, em forma de alternância (por haver muitas figuras a merecerem o destaque), de antigos atletas e dirigentes.
No entanto, muitos dos que deram o seu melhor, muitos anos, ao seu único clube de sempre, e que, se tivessem seguido para outros clubes, certamente teriam sucesso, como se evidenciaram na Covilhã; não me recordo de terem sido objecto de homenagem.
Menciono apenas um nome, entre outros – António José Fernandes FAZENDA.
O Sporting da Covilhã estará em festa e todos os obreiros que contribuíram para a mesma merecem lhes sejam endereçados os parabéns.
(In “Notícias da Covilhã”, de 20/05/2005; e “Gazeta do Interior”, de 01/06/2005)