30 de abril de 2009

AMIGOS DO SP. COVILHÃ REÚNEM VELHAS GLÓRIAS


“Velhas Glórias” do SCC, no intervalo do jogo Covilhã – Mealhada, no final do almoço e da homenagem que lhes foi prestada pela APAE Campos Melo, em 28/09/1991 (sábado).

A história repete-se. Independentemente do gráfico de altos e baixos, ou de uma certa estabilidade, por que passou e passa a colectividade serrana, as memórias perduram e ultrapassam as várias gerações, com uma ou outra pedra a salientar-se como que do rochedo da nostalgia.
E até o País se envolve, de quando em vez, trazendo à baila figuras e factos da colectividade.
Isto é normal no associativismo. E noutras colectividades. Ainda há pouco tempo o Sporting Olhanense lançou uma caderneta de cromos dos seus atletas, de várias gerações, com grande sucesso.
Na Internet há um blog – www.cromodoscromos.blogspot.com - onde se podem ver cromos saídos, em tempos, de antigos atletas, geralmente da I Divisão e I Liga, entre os quais vários do SCC, diariamente actualizado.
Nem sempre as colectividades – como o Sporting da Covilhã – podem abarcar com a responsabilidade e trabalho na celebração de todos os seus eventos.
Salientam-se assim indómitas vontades na envolvente de acontecimentos que se revestem de algum ineditismo, do agrado dos participantes, e que, se não fosse esse entusiasmo, não se criavam mais páginas da história.
Assim aconteceu há quase duas décadas, com a satisfação de ter tido empenho na sua concretização.
Foi o início de passar das ideias germinadas no horizonte mental, para o papel, a história escrita dos obreiros dos Leões da Serra, nas suas várias vertentes, com tudo aquilo que foi ledo como também de alguma tristeza; enfim, um mundo que desconhecia na sua globalidade.
Hoje é objecto das maiores alegrias e num ponto de encontro de boas vontades para o maior e continuado conhecimento do maior clube, e mais representativo da Região; portanto, não exclusivo da Covilhã.
No célebre sábado, chuvoso, de 28/09/1991, na CMC e num restaurante da cidade, apinhado, responderam ao convite da APAE Campos Melo, onde então era dirigente, e pela via dos jornais desportivos regionais e nacionais (estes últimos ainda não eram diários), mais de trinta “Velhas Glórias do SCC”, entre antigos atletas e dirigentes, em exclusivo da antiga I Divisão.
Nessa altura, não puderam comparecer e enviaram mensagens de saudade: Simony, Cabrita, Suarez, Ramalhoso, Diamantino, Coureles e Sarrazola.
Volvido este tempo, já só o Cabrita, Suarez e Coureles pertencem ao mundo dos vivos, e os dois primeiros doentes.
Dos presentes na homenagem de então, já faleceram o António José, Domiciano Cavém, Carlos Ferreira, Franklim, Hélder, Rita (que esteve representado pela irmã), Leite (o único que não havia jogado da I Divisão), Martin, Picareta, Roqui, Simões; e também os dirigentes José Santos Pinto, Luís Filipe Mesquita Nunes, Carlos Xistra e José de Sousa Gaspar, num grupo de cerca de 130 pessoas. E outro, o Tomé, acaba de ser acometida de doença súbita.
Pois bem, dando continuidade aos sentimentos de aderência à causa serrana, as suas figuras e os seus factos, na envolvente entusiástica pelo nosso Clube, de muito carinho, há que enaltecer os grandes obreiros por esse entusiasmo, coordenados por Carlos Miguel Saraiva, conseguindo, com o grupo de entusiastas, ligados à comunicação social e fotografia, dar continuidade à história do SCC, renovada, dia a dia, agora pela imagem, recordando muitas das suas equipas, e biografia dos seus atletas, não pela via do papel, mas pela grande revolução da Internet, onde podem consultar no blog www.historiascc.blogspot.com.
Por último, no próximo dia 1 de Maio (6.ª Feira), num restaurante da cidade, vão-se reunir, num jantar, cerca de centena e meia de entusiastas, em redor de cerca de setenta antigos atletas do Sporting Clube da Covilhã, já confirmados.
É um evento muito interessante para as memórias, na tranquilidade duns momentos de convívio, do maior Clube da Beira Interior.

(In Tribuna Desportiva, de 28/04/2009, Diário XXI, de 29/04/2009, Notícias da Covilhã, de 30/04/2009, Breve referência, no Semanário “O Interior”, de 30/04/2009)

24 de abril de 2009

ENTRE A CRISE E A CANONIZAÇÃO – O 25 DE ABRIL




Muito antes da Revolução dos Cravos já se começava a vislumbrar uma comichão de inconformismo. Nem a Primavera marcelista conseguia disfarçar os choros e os abraços de despedida, nas estações de caminhos-de-ferro, daqueles que já eram detentores de bilhete para a “guerra subversiva nas Províncias Ultramarinas”.
O modesto salário dos obreiros na indústria, comércio e serviços públicos de então, não passava de chapa ganha, chapa gasta, para quem tinha que satisfazer as necessidades normais duma casa; dissolvia-se na assunção dos regulares compromissos do lar.
Actualmente o País vive numa situação de grandes dificuldades – e alguns desânimos – de muitas famílias, com outros contornos – falta o emprego. Há muito que isto não é novidade para ninguém.
Mesmo sem a censura salazarista ou o exame prévio marcelista, de quando em vez surgem subtilezas de as querer implantar na comunicação social.
E não obstante uma abertura cultural antes do 25 de Abril, pela mão do Prof. Veiga Simão, com a extensão do ensino superior no País, os principais homens do pensamento mantinham-se lá fora, longe da Terra-Mãe.
Existiam os jornais do poder; os do contra não se poderiam atrever a muito; o lápis azul ainda estava afiado.
E surgia o ardina revoltado quão astuto, a compor o seu pregão, verdadeiramente revolucionário, com os quatro títulos dos vespertinos, já desaparecidos – Diário de Lisboa, A Capital, República e Diário Popular – desta forma: “Lisboa, Capital, República, Popular!”
Algumas vozes já faziam dissipar alguns receios e transbordavam para a aventura que lhes ia na alma.
Já depois de Marcelo Caetano ter recebido os Oficiais-Generais na reunião da “Brigada do Reumático”, no dia seguinte – 15 de Março – li, no Diário de Notícias (encontrava-me em Lisboa), a notícia da demissão dos Generais Costa Gomes e António Spínola pelas suas recusas em participar naquela reunião. Era uma 6.ª Feira.
No dia seguinte, de manhã, vinha de Lisboa com o Andrade quando nos cruzámos, algures, com vários tanques do Exército, com militares armados e de pose séria. Só depois soube das notícias divulgadas na comunicação social, de que, afinal, era uma tentativa de golpe militar contra o regime – a Revolta das Caldas.
Regressava de Lisboa, noutra altura, viajando comigo o Cravino. Numa breve paragem em Ponte de Sor, o proprietário do café exibia galhardamente o livro “Portugal e o Futuro”, do General Spínola, que abalou o regime, então recentemente publicado, e manifestava a sua insatisfação pela situação política no País.
A madrugada da 5.ª feira de 25 de Abril de 1974 colheu a todos de surpresa com a Revolução dos Cravos.
Muitos floresceram, mas também outros murcharam, bem depressa.
Passou a deixar de se ouvir, secretamente, a “Rádio Portugal Livre” ou “Rádio Liberdade”, de Argel.
Entusiasmos pelas conquistas alcançadas; alguns se aproveitaram para fazer o retrocesso, outros fugiram ou se assustaram. Algumas tentativas de golpes de Estado falharam, como o 11 de Março e o 25 de Novembro de 1975.
Durante o “Processo Revolucionário em Curso” (PREC), houve muitos abusos e faltas de dignidade, e um abandalhamento de várias franjas das Forças Armadas e Militarizadas.
Um exemplo: Vindo duma viagem profissional e após o dia intenso de trabalho (ainda não havia telemóveis), no antigo entroncamento da Sr.ª do Carmo é-me feito stop, pelas 2 horas da madrugada, pela GNR, acompanhada de civis de fralda de fora e espingarda na mão, e de militares de cabelo comprido. Depois de me identificar e vistoriarem o carro segui viagem. No dia seguinte, os meus colegas deram-me a notícia: ontem o Lelo, do Banco, levou um tiro na Sr.ª do Carmo, de madrugada, e foi evacuado de helicóptero. Tive sorte: passei antes dele no abandalhado stop.
Houve também crises. Portugal aderiu e foi integrado na UE. Foram concedidos fundos. Houve chico-espertos; muito do dinheiro não foi para os destinos devidos do País, mas para algibeiras de muitos engravatados.
Mais crises, algumas debeladas, outras mais intensas. Muitos governantes, de gabarito, de “excelência”, não conseguem fazer sair o País de lanterna vermelha em relação à Europa. Os países vindouros na integração, começam, como tartarugas, a ganhar a corrida à lebre. E continuamos a marcar passo.
A casa portuguesa começa a ficar cheia de ratos, que vão saindo de todos os lados. Arma-se a ratoeira, mas os ratos conseguem fugir; ainda não foram apanhados.
E, espanto dos espantos! Muitas dezenas de grandes ratos comeram o grande queijo de todos nós.
Um novo queijo é colocado sobre a mesa; ele vai sendo comido por outros ratos – e o dono a ver – e a não se incomodar, porque os que o deveriam consumir vão contentar-se com os restos do pão que o diabo amassou. Pior ainda, alguns já nem os restos do pão vão comer mas tão só as migalhas.
E, como a canção “E depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, surgiu para a arrancada do 25 de Abril, agora a “Sem eira nem beira”, dos Xutos & Pontapés, a ser apresentada no dia 24 de Abril, será a esperança?
De permeio, entre crises financeiras e de valores, vai surgir o dia seguinte – 26 de Abril; a canonização dum novo santo português – D. Nuno Álvares Pereira, o Condestável, que há muito é já Beato Nuno de Santa Maria.
Muito há a extrair deste Grande Homem: exemplo para os actuais governantes, e os que os antecederam, e mais não souberam; para ensinar, mesmo após a sua morte, como se ganharam crises no século XIV: as vitórias, com inteligência e oração, nas batalhas de Aljubarrota e Valverde; e, depois, não encheu as algibeiras, como poderia ter feito, antes pelo contrário, distribuiu pelos pobres. Compreenderam, Senhores Governantes, Homens de Estado, Banqueiros, Governadores do Banco de Portugal, Presidentes de Câmara, e quejandos?

(In Notícias da Covilhã de 23/04/2009, Diário XXI de 24/04/2009 e Kaminhos)
(A publicar no Jornal “O Olhanense”, de 15/05/2009)