7 de janeiro de 2011

MELHOR É COMEÇAR O ANO A RIR

Chega de lamúrias! 2010 já fica para a história. Tristezas, muitas; alegrias, foram menos.

Vêm aí as presidenciais. Talvez só para nos cantarem as janeiras atrasadas.

O nosso País também tem coisas boas, e o “Teen Económico” do Diário Económico de 11 de Dezembro (Portugal Faz Bem)” é elucidativo. Temos uma juventude aguerrida e criativa.

Através do Facebook, o covilhanense Paulo Pimentel, radicado no Brasil, veio à Covilhã apresentar o seu primeiro livro – “Histórias (In)Confessáveis da Nossa Terra e da Nossa Gente”.

Muito entusiasmo na apresentação do livro, num dos hotéis da cidade, com muitos amigos. Foi a oportunidade, logo a 2 de Janeiro, para que se leve, a rir, o ano 2011.

Quando cheguei a casa, fui saboreando a leitura do livro, de fio a pavio. Ficou devorado.

Não só as muitas facetas das estórias de vida do Mestre Abílio me fizeram rir (recordadas, algumas, quantas vezes…) como também o grupo da rapaziada, que acompanhou o autor na sua juventude, são de enorme alegria, com as traquinices da altura.

Foram acontecimentos que também existiram na minha infância; e a linguagem característica da nossa região ainda existe, alguma, por essas aldeias do concelho.

As malandrices que faziam ao Porfírio no apanhar das bolas que saltavam do Campo Santos Pinto, às sopeiras no bailarico ao som da música dos intervalos dum relato do jogo de futebol; as diabruras no Café Primor, quando o proprietário, Sr. Cunha, se apresentava de mau humor, e lhe trocavam os pacotes de açúcar por sais de fruto, são memórias interessantes.

Mas também o Montalto e o Sp. Covilhã, onde recordou o antigo atleta emprestado pelo SCP –Celestino Cabrita – que lhe fez a surpresa de estar presente no acto e o recebi no meu escritório.

O Francisquinho da Padaria e o Padre Morgadinho…E essa de quando se iam confessar, enquanto adolescentes, à Igreja de S. Francisco, só quando lá estivesse o Padre Fernando porque as penitências do Padre Andrade eram piores…

Não foi esquecido o Dr. José Ranito Baltazar, médico e também Presidente da Câmara, geralmente mal-humorado, mas que se dizia que era muito simpático e educado quando estava “à Baltazar”; e insuportável e rude no dia em que se encontrava “à Ranito”. De qualquer forma tinha um coração do tamanho do mundo.

Aproveito para contar duas histórias que se passaram comigo e com o Dr. Baltazar, na sua qualidade de Presidente da Câmara – uma “à Ranito” e outra “à Baltazar” – enquanto eu fui funcionário daquela autarquia, antes do serviço militar. Novato, com os meus 17 anos, Teresa Carvalho mandou-me levar a correspondência para despacho e assinatura, ao consultório do Dr. Ranito Baltazar. Era só descer as escadas da Câmara, saindo pelo lado dos antigos correios, ou pela Repartição Técnica (onde trabalhavam o Eng.º Cruz Gomes, Arqº Alves Nogueira, dois agentes técnicos, o João Lanzinha, Manuel José Torrão, Cidália, Álvaro dos Carapaus, António Arroz, Manuel Antunes e Carlos Aleixo, e, como contínuo, o homem que não conhecia as letras, Sr. Joaquim, entre outros), depois atravessava a rua e o consultório era num 1.º andar onde se situava a Gazcidla. Nessa altura trabalhava-se aos sábados de manhã: Câmara, CGD e Bancos. Estava quase nas 13 horas e eu, vai daí, entro no consultório, onde não vi ninguém, bati à porta mais interior e, como mais ninguém atendeu, abro com cautela a mesma e deparo com o Dr. Baltazar a consultar uma senhora. Foi um daqueles raspanetes em gritos histéricos, como lhe era peculiar, e eu recuei, pedindo desculpa, aguardando e a ver o tempo a passar, até que lá veio a empregada a dar-me a correspondência assinada, e, depois, ele, já “à Baltazar”, mais manso, a dizer que deveria bater à porta ou esperar.

Noutra ocasião, eu fazia horas extraordinárias quando tocou a campainha do seu gabinete. Como estava ali sozinho, paciência, dirigi-me ao presidente. Numa atitude meiga, “à Baltazar”, pediu-me para levar o seu neto a fazer xixi. Chegado com ele à casa de banho, o miúdo começa a chorar. Digo cá para comigo: Ora, porra! O que é que este gajo quer? Resultado: tive que lhe ajudar a tirar o mini-instrumento e desapertar os botões dos calções porque ele não sabia…

E, por agora chega, porque nos esperam mais figuras populares na cidade que nos recordam tempos de outrora, algumas bastante interessantes.

(In Notícias de Gouveia, de 07.01.2011 e a sair no Notícias da Covilhã, de 13.01.2011)

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