Ouvi o Eusébio falar da Covilhã – para mim o melhor jogador de futebol português de todos os tempo – na RTP, durante a homenagem que lhe foi prestada – Gala Eusébio – transmitida do Coliseu, no passado dia 25 de Janeiro, com os apresentadores Tânia Ribas e José Carlos Malato.
Pois disse que foi o seu colega, padrinho e amigo Coluna, que lhe emprestou o sobretudo quando veio jogar à Covilhã, onde rapou frio.
Puxando da memória, e procurando alguma coisa mais, verifiquei que o único jogo em que Eusébio participou na Covilhã, no então Campeonato Nacional da I Divisão, vai fazer exactamente 49 anos, no dia 18 de Fevereiro.
Nessa altura, os árbitros equipavam-se sempre de preto, excepto nos casos em que não era possível, face à mesma cor das camisolas dos atletas; as pontuações nas vitórias só somavam dois pontos; ainda não havia cartões amarelos ou vermelhos, embora houvesse registo das faltas e expulsões, que se faziam com gestos; um jogador da mesma equipa podia passar a bola ao seu guarda-redes e este apanhá-la com a mão; e não se podiam fazer substituições de jogadores durante os 90 minutos, para além do guarda-redes e só se se lesionasse…)
Foi exactamente naquele domingo do ano de 1962 que também eu apanhei uma contrariedade, pois quase a completar 16 anos, não pude ir ver essa partida de futebol, entre o Sporting Clube da Covilhã (SCC) e o Benfica (SLB), que acabaria por perder o encontro com os covilhanenses por 2-1. Era então o baptizado de um primo meu e a família tinha que estar na antiga igreja de Aldeia do Carvalho, onde o pároco, padre José Nabais Pereira (foi meu professor de Canto Coral, na Escola Industrial), que gostava muito de futebol, havia pedido à família do baptizado para que fosse mais cedo a fim de ele poder ir ao jogo.
O remédio que tivemos foi ficar na festa e, como na Pousadinha tinham colocado a energia eléctrica há pouco tempo, só alguns moradores ainda a tinham em casa. Daí que tive que ouvir o relato do jogo pelo Artur Agostinho, através duma telefonia existente na única taberna do lugar.
À noite, das poucas televisões que existiam nas casas dos mais abastados (só os cafés, clubes de bairro e salões paroquiais as possuíam) – pois só tinha surgido em Portugal, a preto e branco, e de um só canal, há cinco anos – lá se ouviam os comentários aos jogos pelo jornalista Alves dos Santos.
Mas vamos ao jogo. O SLB havia sido campeão europeu, e era treinado por Bela Gutman. À Covilhã não se deslocou o guarda-redes Costa Pereira, tendo sido substituído pelo suplente Barroca. Mas veio o Eusébio, José Augusto, Águas, Simões, Germano, Ângelo, Domiciano Cavem, Coluna e Santana.
O SCC estava a atravessar uma época difícil mas era na I Divisão, em tempo de crise, e o único clube do interior beirão, já que competia também o alentejano Lusitano de Évora.
No SCC jogaram o Rita, Carlos Alberto, Manteigueiro, Chacho, Adventino, Amílcar Cavem, Patiño, Lourenço, Lanzinha, Amilcar e Palmeiro Antunes. O treinador foi Mariano Amaro e o Presidente da Direcção era o Dr. José Calheiros, que sucedera a Ernesto Cruz.
Brilhante e indiscutível o triunfo dos covilhanenses sobre os campeões europeus. Amílcar marcou o primeiro golo do SCC e Chacho o do triunfo sobre os lisboetas.
Nesse dia foi “Dia do Clube”, e a receita foi de 99.682$00, cabendo ao SCC 38.102$10, mais 33.000$00 respeitante ao produto do “Dia do Clube”.
É também para que outras vedetas do desporto, e não só, possam referir o nome da Covilhã, como o memorizou Eusébio, que o SCC tem que rasgar o véu das dificuldades que o emergem, e regressar ao encontro dos grandes, de cujo seio se afastou, duma forma efémera, há quase 23 anos, afastamento em número de anos igual ao que acontecera com a baixa de divisão em 1962 e regresso efémero em 1985.
(In Tribuna Desportiva, de 1-2-2011 e Notícias da Covilhã, de 3-2-2011)
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