- Toninho, come um pastelinho de nata e toma um chazinho de tília. Acalma os teus nervos!
- Maria, já te esqueceste do teu Aníbal?
- Aníbal António não é, afinal, o meu amor querido?
E não é que o homem de Boliqueime lá foi conseguindo dormir o primeiro sono, mas, levado em sonhos fora do mundo dourado, levanta-se, estremunhado.
E Maria, sua companheira dos bons e maus momentos, resolve o problema com um sal de fruta.
- Foi o pastelinho de nata, Toninho, mais valia teres comido bolo-rei.
O bolo-rei estava entretanto na arca e, conquanto a situação estomacal regressasse ao normal, o grande homem das lides lusitanas prossegue a conversa num tom mais tranquilizante.
- Ora vamos lá, Toninho, o facto de teres dito que eu tenho uma reforma de cerca de oitocentos e tal euros à populaça, eu não levei a mal, amor. Mas quanto aos mil e trezentos euros da tua reforma, mil e trezentos euros como repetiste, podias ter aumentado mais um bocadinho, para calares aqueles malditos que se esqueceram das estradas que lhes destes, dos subsídios que lhes concedestes, das admissões nos serviços públicos, de confiares nos formadores sem reservas, dos catorze meses que destes aos pensionistas…
- Maria, meu encanto, só queria que ao menos um jornal, uma televisão ou uma rádio, deste meu querido Portugal, deitasse água na fervura e me ajudasse a resolver o problema…
- Ainda não recebemos o jornalzinho da Paróquia. E se formos falar com o prior?
Depois duma combinação de pensamentos, e tendo verificado na comunicação social que no barómetro relativo a um estudo sobre a qualidade da democracia se verificou que já só 56% verificaram que a mesma é preferível a qualquer outra forma de governo; que o maior defeito da democracia em Portugal é a falta de confiança nos políticos e no governo; que quem dá voz às preocupações dos portugueses, a maior percentagem cabe ao Presidente da República; que, da avaliação dos políticos e das decisões, 78% estão de acordo que “os políticos preocupam-se apenas com os seus próprios interesses”; o cidadão de Boliqueime quebra o silêncio quanto às declarações que fizera: “Não foi obviamente meu propósito eximir-me aos sacrifícios que os portugueses estão a fazer nos dias de hoje, tendo mesmo insistido que o meu caso pessoal não estava em questão”.
Ora, o excelentíssimo senhor Presidente da República Portuguesa, ex-Portugal d’Aquém e d’Além-Mar em África, mas agora ainda do Minho, Trás-os-Montes, Douro, Beiras, Estremadura, Alentejo e Algarve, e também, quando o deixam, dos Arquipélagos dos Açores e Madeira, tem dificuldades de expressão quer oral quer escrita, com evidentes limitações nesta área. Sempre foi difícil entender o que diz o atual Presidente da República Portuguesa. Quando Cavaco se afasta das constatações mais óbvias e evidentes, lança a confusão entre a população.
E de quem é a culpa, Zé Povo?! A pergunta pode parecer estranha mas é evidente: Como foi e tem sido possível que o cidadão Aníbal José Cavaco Silva venha a desempenhar os altos cargos no destino da nação que lhe têm sido confiados, através dos processos normais da democracia?
Agora que já não há mais nada para alargar territorialmente, como no tempo dos nossos monarcas do passado; nem descobertas a fazer, como nos tempos henriquinos; já não temos batalhas no campo como no tempo dos besteiros; nem as guerras das colónias, ditas ultramarinas, para a então defesa da integridade nacional; haveria que por à prova as reais capacidades de alargamento dos horizontes na também defesa dos portugueses, dos seus grandes valores em muitíssimos domínios, sem se ser dominado pela febre do ego, dos seus pertences, património, ou vencimentos conquistados num aglutinar de várias tarefas.
Aníbal José é um dos governantes com maior influência nos caminhos percorridos pelo nosso País, desde a integração europeia até à situação atual, nesta queda pantanosa, abismal.
E, com a sua inexistente eloquência, lá disse o que ninguém percebeu: “a sua intenção foi de ilustrar, com o seu próprio exemplo, que acompanha a situação dos portugueses que atravessam dificuldades”.
E, quando primeiro-ministro, era o homem que não lia jornais, nunca se enganava e raramente tinha dúvidas, pelo que conseguiu desgovernar o País, contribuindo para que, possivelmente, vamos passar a ser uma colónia dum dos países que já colonizámos.
(In “Kaminhos Magazine”, de 01-02-2012 e no “Notícias da Covilhã”, de 08-02-2012)