Por
mais que não desejemos, não nos livramos do tédio de temas, quase rituais, dos
dias de hoje, onde a dona austeridade assentou trono real.
A vassalagem à mesma é de tal
forma imposta pelos cavaleiros da triste figura que este povo, que foi e é de
homens livres, quase que se sente de escravos, no purgatório dum
rectangulozinho do Planeta, à beira-mar plantado. Povo que mais não terá que
rebentar as correias férreas que a todos prende.
Mas
não são precisas mais revoluções porque o povo, afinal, ele é já a própria
revolução!
Então
como se compreende que, após aquele “enorme” acontecimento que floriu, de
cravos vermelhos, nas vestes dos nossos contentamentos; há quase quatro
décadas, libertados de uma outra escravidão, de quase meio século; venha a
surgir, entre sonhos e a realidade, um outro “enorme” evento, com o anúncio de
sacrifícios e impostos, num cadeado duma configurada escravatura?
Os conhecimentos e as
informações que nos chegam, nos dias de hoje, através das várias formas e meios
de comunicação, não deixa de nos trazer perplexidades na forma de agir, para
muitos; de trabalhar, para vários; na forma de como retaliar, para tantos; e,
para outros, como fazer parar.
Agir
contra as “enormes” pensões, salários, benesses e outros “direitos adquiridos”
duma caterva de figurões: governantes, ex-governantes, banqueiros e
ex-banqueiros, e muitos dos bem-falantes das televisões, incluindo jornalistas,
que se deviam envergonhar de falar no povo e pelo povo, esse mesmo que ajudaram
a amordaçar. Porque não impor um teto salarial, como na Suíça, e converter em
impostos o remanescente?
Trabalhar
com dignidade e apego sabendo que, na repartição de sacrifícios há, de facto,
equidade.
Retaliar
contra todos os que usam e abusam de subterfúgios para provocar fugas à
justiça, morosidade nos julgamentos, mentiras com sucesso na vida política ou
profissional.
Fazer
parar esta onda de incompetentes, corrupt os
e novos-ricos. É assim tão difícil? Não se pára esta avalanche porque todos, ou
quase todos, têm telhados de vidro.
E,
quando já estão retirados da vida política ou das páginas dos jornais, lá
surgem, de quando em vez, nas memórias, de que um dia foram reconhecidos como
homens da corrupção encapotada, das fugas à justiça, do safarem-se, vivendo no
firmamento.
Nesta
pobre democracia, é altura de parar para pensar. No estado a que as coisas
chegaram, certamente não irá haver outra oportunidade, ainda que pateticamente
o Cardeal Patriarca de Lisboa diga que “não se resolve nada com grandes
manifestações nem vindo para a rua a protestar”. Lembre-se, D. José Policarpo,
que o Padre Américo, de quem se comemoram 125 anos do seu nascimento, dizia que
não é possível pregar o Evangelho a barrigas vazias.
Neste
país deprimido e com medo, numa autêntica guerra-fria de bancarrota, porque não
levar à justiça, mas duma forma célere, todos quantos não souberam governar e
nos trouxeram estas situações mórbidas, e dos inevitáveis sacrifícios, deste
jaez? Desde Cavaco Silva, um dos culpados, a Durão Barroso (o fugitivo), Santana
Lopes, Sócrates, Passos e Portas, entre outros! E não deixar escapar os
turistas da política que, mesmo assim, por aí vagueiam, como é o caso peculiar
de Dias Loureiro, para não falar de outros tantos, do domínio público.
Como é possível consentirmos
em tanto descaramento? Somos, de facto, um País de brandos costumes, até
quando? Sim, porque quando “o melhor povo do mundo” chama “gatuno” ao autor
daquelas palavras, talvez seja mesmo melhor pensar duas ou três vezes.
Se seguíssemos o exemplo do
General Ramalho Eanes que rejeitou vários privilégios a que tinha direito,
certamente este País hoje falaria de outra maneira, mais feliz. E também não é
o homem que muitos aplaudiram de “Soares é fixe” que tem méritos de
exemplaridade.
Começamos a ser pobres em
tudo, mesmo em opções na hora de eleger. Até fomos buscar uma equipa
governativa da segunda divisão, treinada por um “mister” dos regionais!... Com
um árbitro da troika a mostrar cartões amarelos e encarnados a torto e a
direito. Assim, não vamos lá! Depois do “monstro” surgiu o “pântano”, daí um
outro estigma – “a tanga”, e, agora “estamos tesos”, entre umas badaladas de
“cigarras” e “formigas”. Contra uma equipa europeia para onde foram
transferidos homens que ganhavam cá mais que os seus congéneres americanos; e,
como reguladores, estiveram como o ceguinho; foi o descalabro bancário,
sobejamente conhecido. Lá, numa porção desta Europa, de países do norte contra
os do sul, são uns dos maiores da competência financeira. Até onde vamos?!
Precisamos de um “governo de
salvação nacional de iniciativa presidencial”.
Mas, uma notícia poderá ser a
esperança dos portugueses. O índice de produção do tomate em Portugal, por
hectare, é o segundo melhor do Mundo, superado apenas pelo Estado
norte-americano da Califórnia. A indústria transformadora de tomate exporta
para 42 países e Portugal é, segundo a Associação de Industriais, o quinto
maior exportador mundial, num setor que será responsável por 6500 postos de
trabalho, diretos e indiretos. É caso para dizer: Senhores dos Governos de
Portugal e da União Europeia, nós ainda temos tomates!
(In
Notícias
da Covilhã, de 31 de Outubro de 2012)