Pertenço
a um pequeno número de vivos que integrou as fileiras da Conferência de S.
Vicente de Paulo, pela mão de meu pai, conjuntamente com um irmão mais novo, na
paróquia de S. Pedro da Covilhã, nos finais da década de
cinquenta do século passado.
Sairia
com a chamada para o serviço militar, então nos finais da década seguinte. Mas
as atividades profissionais, o casamento e os filhos, para além de ter ido
residir para outro concelho, e as dificuldades próprias duma vida stressante,
levaram-me a um longo interregno fora desta vida de grande solidariedade; quiçá
de alguma passividade com o mundo de dificuldades do meu próximo. Voltei há uns
anos a esta instituição de grandiosíssimo mérito, por influência de confrades
amigos, agora na paróquia da Conceição, da cidade da Covilhã; desta vez com
minha mulher e por onde também já passou o meu filho e a nora.
O preâmbulo deste meu texto
serve tão só para memorizar quão longos têm sido os caminhos das necessidades
básicas de muita gente, cada vez mais com o sofrimento a trazer novidades,
entre as quais a pobreza envergonhada, e não só, vertentes desta mesma pobreza
que outrora não se verificavam.
Não
é estranho para ninguém o que escrevo, pois de casos mais inverosímeis está o
País cheio, onde, não fossem as ações das instituições privadas de
solidariedade, como são as Conferências Vicentinas e o Banco Alimentar, esta
Terra de Cristo já pertenceria a um terceiro mundo.
Num
verdadeiro humanismo – aquilo que tantas vezes falta aos nossos governantes
- alguns dos Homens e Mulheres da
solidariedade lançam-se num verdadeiro “Grito do Ipiranga”, na tentativa de
encontrar soluções mínimas para resolver casos graves de saúde e emprego para
uma figura que se chama “Ser Humano”,
e, para quem escrevo, não é estranho o que, de formas heróicas, muitos se
envolvem, pondo em risco a sua própria saúde e a dos seus que o rodeiam.
Dois
casos verídicos se passaram, na exemplaridade de muitos outros, de forte
vontade em ajudar o seu semelhante, numa das Conferências de S. Vicente de
Paulo desta Cidade da Covilhã.
Para que um trabalhador
precário se conseguisse deslocar para fora da cidade, na apanha de fruta, um
destes homens de boa vontade, durante vários dias se deslocava ao Pelourinho,
às cinco horas da manhã, para levar o trabalhador, graciosamente, para o local
onde pudesse minimizar as suas frágeis economias familiares.
Outro dos homens de boa
vontade, e sua esposa, conhecedores de um reformado, ainda não idoso, que vivia
sozinho, abandonado, entregue à sua sorte, conseguiram ir a sua casa dar-lhe as
refeições, de conta dos mesmos, o qual, muito fragilizado, já quase não
engolia. Levaram-no a consultas hospitalares, no carro do casal, e a uma última
na qual foi detetado encontrar-se gravemente doente, doença de morte, que viria
a surgir. O homem de boa vontade, triste pelo acontecido a um ser humano mas
paradoxalmente ledo pela sua caridade, intrinsecamente sentida, quando se
dirige para o seu automóvel, à porta do hospital, toca o telemóvel, com o aviso
do interior do hospital para que se dirigisse ao Centro Médico no sentido de ir
fazer uma despistagem, pois o doente, que entretanto falecera, estava
tuberculoso.
Anda agora este amigo do
próximo envolto em preocupações, e seus familiares, até que todos os sintomas
sejam debelados.
Destes atos de coragem, de
verdadeiro amor e dedicação extrema a quem sofre, no corpo e no espírito,
passam ao lado das preocupações dos nossos governantes.
Estes, são muitos dos heróis
desconhecidos dos nossos tempos.
(In Notícias da Covilhã de
17.10.2012 e no Jornal Olhanense de 15.10.2012)
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