Este
foi o “3.º Encontro de Amigas da Travessa do Viriato”, realizado na Covilhã,
depois do primeiro ter surgido em 2 de outubro de 2010, no
Entroncamento, e, o segundo, já mais alargado, o ano
passado, em 16 de junho, nesta cidade.
Nos
tempos que correm é algo importante verificar este propagar de amizades, de ano para ano ,
oriundas da estima gerada entre as moças que residiram naquela ruazinha
estreita e curta que confina com a Rua Marquês d’Ávila e Bolama e a Rua Vasco da
Gama, que, depois, esta acabaria por ser cortada pela Avenida Salazar, hoje
Avenida 25 de Abril.
A
Garagem de S. João ainda estava bem ativa, e à Capela de S. João de Malta
acorria, todos os domingos, muita gente que vinha de vários pontos da freguesia
de S. Pedro , a que pertence, mesmo dos confins de
algumas quintas: Corge, Covelo, Grila, Pedregal, Campo de Aviação.
A
Rua Marquês d’Ávila e Bolama (antiga estrada real), era a rua mais concorrida
da Cidade, desses tempos, passagem obrigatória pela EN 18, em direção à Guarda.
E, ali, naquele cantinho –
Travessa do Viriato – vivia um grupo de famílias em que o predomínio dos seus
filhos era do sexo feminino , assim
quis o destino .
Havia a jovialidade, a alegria da juventude, o que fazia
criar muitas amizades, memorizando-se hoje os teatrinhos no
salão paroquial com o Padre Carreto; os passeios, em grupos, à Fonte das
Galinhas ou até ao Colégio das Freiras; passava-se pela padaria do
Francisquinho, com o seu forno a
lenha e, mais adiante, ficava a oficina do Julinho das bicicletas, seu filho, onde
hoje é o café e restaurante do”Repolho”.
À saída da missa das 11 horas, lá
vinham as bonitas raparigas, alegres, retirando o véu da cabeça, como era
obrigatório naqueles tempos, da missa em latim e o padre de costas voltadas para
os fiéis, ainda antes do Concílio Vaticano
II, e, à saída, alguns dos rapazinhos que então estudavam na Escola Industrial,
apareciam para os seus galanteios às moças, sorrisos entre conversas amenas.
Durante o tempo de catequese, às
15 horas dos domingos, juntavam-se naquele salão paroquial, cavado no rés do chão da capela, os vários grupos de
rapazes e raparigas, enquanto um ou outro rapazinho, mais afoito, passava na
estrada e seguia em frente, preferindo ir ao Santos Pinto ver o Sporting da Covilhã
jogar com os clubes da Primeira Divisão. Mas, quando havia os filmes Castello
Lopes, Charlot ou Bucha e Estica, não faltavam e levavam o responso do Padre
Carreto por terem faltado à catequese…
E a alegria contagiante
estendia-se aquando da representação dos rapazes e raparigas, no s teatros no
salão paroquial, que enchia, vindo gente de todos os lados. Os intervalos entre
as pequenas peças teatrais eram longos, mas lá iam vendendo os rebuçados de
açúcar, caseiros, e uma ou outra rifa, para ajudar a festa.
Daqui foram despontando amizades,
algumas convertidas em namoros. Pelas festas populares, as moças organizavam,
naquela rua, dos melhores arraiais da cidade.
E é esta Travessa do Viriato, da
cidade laneira de então (pois há muitas ruas com este mesmo no me, por esta zona serrana, de Seia a Viseu, e não
só), que vai ficar na memória de muitas raparigas e rapazes de outrora, pais e
avós de hoje.
E como ninguém sabe ao certo onde
nasceu Viriato, e quando, pelo meno s
trinta localidades de Portugal e Espanha reivindicam o local do nascimento do
herói lusitano , alguns de nós como
que idealizámos da sua coragem as no ssas
armas amorosas, e, todos quantos no s
unimos às moças da Travessa do Viriato, é como se tivesse sido o Viriato a
ter-se unido à romana Munnia, com que se enamorou, e casou.
Pois estes tempos que não eram os
de hoje, mas onde os valores da vida sobressaíam, é a razão porque, num
renascer do passado como se fosse o presente, as amigas da Travessa do Viriato
sentem, de ano para ano , o reviver de outros tempos, onde,
independentemente das mínguas que também existiam, e das guerras coloniais por
onde passavam os seus namorados, havia alguma tranquilidade no s espíritos, pois ainda se acreditava nalguma
coisa, que mais não fosse num futuro melhor, o que hoje é quase uma miragem.
Este 3.º Encontro das Amigas da
Travessa do Viriato, realizado no
feriado do 10 de Junho, foi, mais uma vez, transbordante de entusiasmo, com a
receção junto à Garagem de S. João; depois um agradecimento ao Senhor, naquela
Capela de S. João de Malta, de muitas recordações, com a participação amiga do
Padre Hermínio Vitorino ; culmino u com o almoço, prolongado, num restaurante da
região da Cova da Beira.
O próximo encontro será em 2014,
em Castelo Branco.
(In "Notícias da Covilhã", de 19.06.2013)