12 de junho de 2013

EXAMES

Este substantivo teve sempre incidência na vida dos humanos, nas várias vertentes desta palavra.
Vou reportar-me só ao que está em voga, ou seja, a prova que teve por objetivo testar conhecimentos ou aptidões e, neste contexto, ao frenesi com que os putos de hoje se viram envolvidos nos exames do 4º. Ano, a antiga 4.ª classe.
Não defendendo aqui a posição, quer dos pais quer dos professores, que veio a lume na comunicação social, tão-só me parece estranha a não preparação da disposição das crianças para um ato na vida de cada uma, não existindo motivos aparentes para as mesmas se enervarem, chorarem ou ficarem com indisposições estomacais, conforme foi contado.
Tratou-se duma prova de aferição, com a designação de exame, valendo apenas uma percentagem da nota final, em Português e em Matemática.
Na década de cinquenta do século passado, da minha era, os exames, esses começavam logo na 3.ª classe, hoje 3.º ano, e, ou se ficava aprovado, ou reprovado. E, que me recorde, não havia os burburinhos que se ouviram este ano, no retomar dos exames de outrora, então numa altura de mais dificuldades genéricas que nos dias de hoje. Os apoios estatais contavam-se pelos dedos. No ano seguinte era o exame da 4.ª classe, hoje 4.º ano, e, no óbvio, a existência de algum nervosismo passageiro, como também a ansiedade, estados que se iam dissipando com o decorrer dos exames.
Eram feitos na principal escola da sede do Concelho, que, ao tempo, na Covilhã, era a já desaparecida “Escola Central”, onde se encontrava a Direção Escolar.
Era um mundo de pequenada, quase todos de fato novo, ou muito bem arranjados, como se fossem para uma festa. E, para a escrita, uma caneta de tinta permanente e não uma qualquer esferográfica.
Sorrisos entre os colegas, na maioria acompanhados pelos pais e professores, vindo muitos das freguesias rurais, algumas bastante distantes da sede concelho, como Cebola (hoje São Jorge da Beira) e Sobral de Casegas (hoje Sobral de S. Miguel), para, mais perto se situarem Unhais da Serra, Paul e Tortosendo, pela zona sul; ou Verdelhos, Sarzedo ou Vale Formoso, e, mais perto, Orjais, Teixoso, pela zona norte.
Duravam vários dias, já que eram centenas de alunos de todo o concelho. Havia a prova escrita, baseada em toda a matéria dada ao longo do ano e não só de português e de matemática (aritmética e geometria como se designava), incluindo desenho à vista (geralmente era o de uma bilha de barro), ciências, redação, e um ditado, cujos erros podiam fazer reprovar; e, depois, num outro dia a designar, a prova oral, sobre português, história, geografia e ciências, como também aritmética e geometria.
Os exames de admissão para acesso ao ensino liceal ou técnico (para quem desejasse prosseguir), eram efetuados no Liceu ou na Escola Técnica, pelos professores do secundário onde, por vezes, porque mais evoluídos que do ensino primário, hoje designado básico, viriam a surgir perguntas e provas que dificultavam enormemente os alunos. Aqui, sim, era o fervilhar de emoções, entre o passar no exame ou “apanhar uma raposa”. Eram, ao tempo, tema obrigatório de conversa por todo o lado, e índice revelador de mobilização da opinião pública com os jornais diários a dedicarem-lhe a publicação dos textos dos pontos escritos e das respetivas soluções.
Depois, no final do Ciclo Preparatório, novamente outro exame e, se seguida, até conclusão dos cursos, conforme os mesmos, eram os exames (de prova escrita e oral), a cada uma das muitas disciplinas, com grande importância o Português, Francês e Inglês. Terminava com o Exame de Aptidão Profissional para os Cursos Comerciais.
Nessa altura ainda não tinham nascido as calculadoras pelo que a tabuada tinha que estar muito bem sabida.
Também ainda não tinha surgido o choque tecnológico da televisão, que iniciou para quase todo o País, a preto e branco, em março de 1957. Os aparelhos eram caros e nem todos tinham possibilidades de os adquirir. E a Internet estava a léguas de distância no tempo, nem sequer se sabia o que era. Não havia a agitação extra na altura dos exames com greves anunciadas. E os tempos não eram de fartura mas de míngua. Não havia Tratados de Bolonha, mas “tratados” os estudos como devia ser.
Com tanta falta de meios tecnológicos, meios esses que hoje existem e são do acesso a todos os jovens, aprendia-se, e o saber não era uma miragem. Hoje, que havemos de dizer com o que se deteta no nosso País, com provas, exames e licenciaturas a concluírem-se aos domingos, e num só ano, para uns quantos, bafejo de amigos, escumalha de chico-espertos? A resposta é tão simples como aquele ato indecoroso que se chama vergonha.

  (In "Notícias da Covilhã", de 12.06.2013)

1 comentário:

Jorge Correia disse...

Mais uma vez,os meus parabens pelo artigo inserido no seu blog e,que traduz a nossa vivência escolar,de então e,sem resmunguices,como agora se presencia.Som um apêndice:os cursos industriais como o meu "Curso de Formação Tecnico de Tecelagem",tambem tinham exame de aptidão profissional,feito um ano depois do término das aulas e,depois de um estagio pratico numa qualquer Empresa Textil.Abraço.Jorge.