Mas há ainda um mar de gente, entre famintos, desesperados, e deprimidos pelas contínuas desgovernações deste país, que conduzem a situações mórbidas nas suas vidas.
Apesar dos índices focados, não há ainda o vislumbre de uma esperança, e, quando se tenta ver a luz ao fundo do túnel, mais não surge que um mero sonho que passou.
E até o relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) vem dizer, categoricamente, que urge um alívio da austeridade, pois tudo o que se está passando é uma situação há muito não vista na história portuguesa, tendo-se perdido desde 2008 um em cada sete empregos – “a mais significativa deterioração do mercado de trabalho entre países europeus, depois da Grécia e de Espanha”.
Mas, afinal, “no Portugal de hoje há excesso de talento disponível, muito do qual se vê forçado a emigrar. Estamos pois num mercado em que os empregadores não têm que se esforçar muito para contratar talento, muito menos para o reter”, segundo as palavras do CEO da Liberty Seguros, José António de Sousa, que já deu grande contributo à Covilhã. As pessoas querem trabalhar numa situação de respeitabilidade “em que seja claro que as oportunidades de carreira assentam no reconhecimento meritocrático puro e duro, e não para quem é amigo do chefe”, segundo as suas eloquentes palavras, “porque o ser humano é intrinsecamente bom e honesto”, sendo de primordial importância a existência ”duma cultura de empresa em que se celebra o êxito, com uma hierarquia o mais horizontal possível, numa cultura em que é a qualidade do indivíduo, e o seu contributo ao êxito coletivo, e não o pomposo do título que ostente” que vai direcionar-se para o sucesso, ainda acrescentou.
O pensamento retrai-se para os tempos que jamais pensávamos passar, na sua similaridade, das conversas de nossos pais e avós, para os anos 30 e 40 do século passado, durante e nos pós grande guerra mundial: racionamento, greves, guerras civis, bancarrota, atentados.
Não havendo no entanto qualquer perigo do retorno ao antes do 25 de Abril, nem o desejo convertido de “Oh Tempo Volta Pra Trás”, na memória do recentemente desaparecido António Mourão, o que é certo e verdade é que, para muitos e muitos portugueses e portuguesas de boa vontade, os versos “As horas pra mim são dias; os dias pra mim são anos; recordação é saudade; saudade são desenganos” ficam-lhes bem expressos nos vincos que fazem rugas nas suas faces com ar de sofrimento.
E não há Guião da Reforma do Estado, ainda que com ridículas 112 páginas em corpo 16 e espaçamento a duas linhas, que venha resolver a situação futura do país.
O economista Vtor Bento apontou a necessidade de um “pacto político-social” entre os partidos considerando que mais que o seu conteúdo os políticos se devem “habituar a conversar e a encontrar pontos de compromisso” porque “não adianta ter razão sozinho”.
Temos que voltar a viver sem as algemas da troika e sairmos deste terrível protetorado.
É indubitável que muitos maus exemplos vêm de quem nos governa, e daquela instituição que se chama Assembleia da República, onde se insere a loira, segunda representante máxima de todos nós; dos ministérios, e da Presidência da República, que, aos brados de quem sente os sofrimentos de vária índole, quantas vezes não cantarão, para dentro de si, o “Tiro Liro Liro”, da Amália Rodrigues.
(In "Notícias da Covilhã", de 28.11.2013)