De quando em vez lá faço uma limpeza aos blogues parados, diários digitais que dormem, e outros que foram extintos, alguns onde até havia colaborado.
No meu e-mail cai uma chusma de informação: destaques do “Vida Económica”, jornais do dia, últimas notícias, notícias ao minuto, diário digital, diário digital de Castelo Branco.
Depois, ainda uma saída ao quiosque habitual para adquirir o meu jornal diário, e também alguns semanários da região, sem que, por vezes, tenha antes que retirar da minha viatura, estacionada, o papelinho no para-brisas, do “grande astrólogo médium africano” que diz que trata e ajuda a resolver, com rapidez, qualquer problema que seja do meu caso, mesmo que seja grave, diz o chato malabarista...
E, se quisermos dar uma vista pelas capas dos diários de todo o mundo, verificamos que, em Portugal, só lá vemos o “Jornal de Notícias”, o “Diário de Aveiro”, o “Diário de Coimbra” e o “Público”. Por vezes, o tema genérico é quase uniforme nas capas dos jornais de quase todos os países do mundo.
Neste país que é uma tragédia, como o classificou o Jornal de Angola, com a economia a afundar-se e, principalmente os jovens, a fugirem de Portugal, aproveitando-se assim, outros países, da formação que este Portugal tomou de encargos com os mesmos ao longo de décadas, o medo do futuro e do desespero é um facto insofismável.
Diariamente ouço, nos noticiários matinais da Antena 1, uma breve entrevista com “Um português no mundo”, onde todos se manifestam satisfeitos por terem saído de Portugal, mas sempre com aquela dose de saudade por coisas que, daqui, lá não encontram. É o nosso sol, a nossa comida, o nosso café, o afeto dos familiares e amigos. É neste contentamento descontente que muitos dos nossos concidadãos foram constrangidos a esta vida, num êxodo cada vez maior, quase atingindo os níveis da década de sessenta do século passado. E até os imigrantes, esses estrangeiros a residir em Portugal, recuaram para níveis de 2005, abandonando este país, em 2012, perto de vinte mil.
Neste já medo de ter medo, qual fobia, verificamos que Portugal é o quarto país mais envelhecido da União Europeia. No primeiro semestre deste ano nasceram menos quatro mil crianças do que no mesmo período de 2012. Entre janeiro e abril as mortes suplantaram em quase doze mil total de nascimentos. Segundo o Eurostat, trinta e seis por cento da população terá mais de 65 anos em 2050.
E é assim que, no seio dos nossos governantes; cujo Governo atual “é uma caricatura, um excesso de mentiras e pouca-vergonha, uma organização de rapina que governa sem qualquer escrúpulo, o que temos é um Governo não de salvação mas de traição nacional”, segundo as palavras de José Vítor Malheiros; vemos a desvalorização da dignidade do trabalho, tratado como a culpa e um custo, em vez de ser uma condição, um direito e um valor.
É tal o desprezo que estes levitas de hoje têm pelo seu povo, que mais parece no tempo dos leprosos, atirando-nos cada vez para mais longe, mais distantes das possibilidades de acesso à subsistência, ao prosseguir duma vida condigna, e não na vergonha por que jamais pensariam muitos passar, neste longo processo de empobrecimento que nem os partido nem Cavaco conseguem parar.
Penso mesmo que daqui por poucos anos, veremos o espetáculo de um governo a sair e outro a entrar, e, com tanta tendência para a asneira, nesta grande ignorância, teremos o povo certamente a descer à rua, sem saber o que quer, nem perceber o que pede.
Lamentavelmente, perdemos a oportunidade democrática que o 25 de novembro e a adesão a Bruxelas nos trouxeram.
Nestes tempos que correm, com este maldito Governo, e dum chefe de Estado que espera que primeiro chova, tudo é permitido para conservar o poder, e, como um dia um presidente dum clube nortenho disse, “o que hoje é verdade, amanhã é mentira”. Perdeu-se a cultura da verdade, do sentido de responsabilidade e da confiança, bem expressa na decisão revogável da “irrevogável” indecisão dum mestre em beijocas pelas feiras e mercados deste país.
Por alturas do nosso contentamento estival, o crescimento regressou à Europa à boleia da Alemanha e da França, tendo assim o PIB da moeda única quebrado um ano e meio de ciclo negativo, apesar de haver divergências entre alguns países, puxando cada um para seu lado, continuando, no entanto, a Itália, Espanha e Holanda em recessão. É então que Pires de Lima, o nosso ministro das economias, vem a dizer que começam a surgir sinais de forma consistente que se vão acumulando no sentido de confirmar a ideia de que naturalmente estamos num momento de viragem económica. No entanto, o vice-presidente da bancada do PS afirma que é um contentamento descontente se o Governo insistir a fazer o corte de salários, pensões, reformas ou despedimentos na administração pública, o que passaremos de um terceiro para um quarto ano de recessão, o que, de facto, aconteceu.
É que os “nossos” governantes vivem noutro mundo e nenhum pode vir dizer que é Portugal que lhes interessa, sendo que a única coisa que é da sua importância é que os não lixem a eles próprios.
Tivemos as eleições autárquicas, e, na expressão das principais Câmaras do país, com incidência primordial na de Lisboa, António Costa, o presidente eleito incontestavelmente, viu-se também embrenhado naquele contentamento descontente de quem sabia ter perdido a última oportunidade para ser o protagonista das próximas eleições na liderança do seu partido.
Precisamos ardentemente de alguém, de um conjunto de pessoas idóneas, sinceras, de confiança para podermos levar de vencida este mal que caiu sobre nós, fazendo cair por terra todos estes nababos parlamentares, e da governação, que entravam o caminho do progresso de que o povo está á espera.
É por isso que amamos só quem nos ama nesta vida terrena, porque, segundo o nosso poeta Luís de Camões,
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
(In "fórum Covilhã", de 12.11.2013)
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