Domingo, segundo dia do início do verão deste ano do mundial
de futebol no Brasil, e também do segundo jogo de Portugal, neste mundial, com
os Estados Unidos, cujo resultado verificado, já em dia de segunda-feira, é o
prenúncio do regresso a casa; ano também da saída dos invasores “troikanos”, na
voluntariedade portuguesa; dos cortes e recortes salariais, dos milhões de
impropérios com que as gentes das nossas gentes já brindaram os nossos
governantes; mas, também o lado bom do que se passa na minha rua – uma rua
covilhanense.
Desço a Mateus Fernandes, e, quando regresso, já com o
“Público” na mão, vou lendo as mais gordas e a crónica do Vasco Pulido Valente.
A capa já nem aterroriza de tão atordoados que andamos – “Mais 311 escolas do
1.º ciclo vão fechar no próximo ano letivo”. Ainda que os meus netos tenham
sido uns ases, não posso deixar de meditar nos outros meninos e meninas, deste
País, que os querem descalçar.
No princípio da crise ouvia dizer que a mesma é uma forma de
gerar oportunidades. E, alguns, muitos, dezenas, centenas, talvez milhares,
podiam fazer das tripas coração, como sói dizer-se, e não entrar num desespero
à espera que o estado-providência viesse ao seu encontro, talvez num vício do
passado preferindo ver a banda passar.
Se na Covilhã há empresas, que aqui se geraram e são um
sucesso geracional, também na minha rua dá gosto ver a dinâmica de dois
comércios tradicionais, numa força indómita contra a crise, na alegria do
trabalho que é sustento dos que ali trabalham.
No inverso, vamos encontrar outras ruas da minha cidade
repletas de estabelecimentos encerrados, alguns ainda com artigos amarelecidos
no seu interior, pelo abandono, na tristeza do que outrora era a alegria de um
rodopiar de entradas e saídas, quando o metro, em madeira, e o peso em balanças
Avery eram o suficiente para dar aviamento à clientela, em vez das novas
tecnologias de hoje.
Mas a modernidade é sinónimo de progresso, o que não equivale
a mais mão-de-obra, e os novos tempos, numa globalização imparável, jamais
podem ser refutados no seu acompanhamento se quisermos andar no pelotão, já não
digo na sua frente, mas sem o perder. Até já há três portugueses que figuram
entre os 705 candidatos que passaram a segunda fase do processo de seleção do
Projeto Mars One para uma viagem sem regresso a Marte em 2025.
Quando entrámos na então CEE-Comunidade Económica Europeia,
no 1º de janeiro de 1986, já então se insistia nas vantagens e nas exigências
em irmos pertencer a um grupo de elite. Uns marimbaram-se para o assunto;
outros começaram a compreender que as exigências da formação já não eram
questões de patronato. Recordo-me de um dia, na Rotunda do Marquês de Pombal,
em Lisboa, dirigindo-me para a sede da empresa de que eu era um dos
funcionários externos, um vendedor ambulante, de fruta, tinha um papel colado
no seu carrinho, a letras garrafais, que dizia: “Cerejas da CEE” – talvez sem
saber porquê, mas já num sentido de viragem para a qualidade.
De acordo com o Relatório do Capital Humano do Fórum Económico
de 2013, “constata-se que, no indicador “Capacidade de reter talentos”,
Portugal ocupa a posição 111, entre 148 países, o que demonstra a relevância
deste tema e a necessidade de proceder a uma análise do porquê desta situação,
dado tratar-se de um indicador fundamental para o desenvolvimento do país”.
Existe já um grupo de empresas fundadoras da iniciativa
“Like Portugal”, “um movimento privado que pretende comunicar e promover
Portugal como um País para Crescer e Investir. Trata-se de um projeto
independente da sociedade civil, cujo motor são as empresas, e que tem como
objetivos trabalhar e promover a imagem de Portugal nos mercados externos e,
dessa forma, contribuir para o esforço nacional de captação de investimento
estrangeiro e de dinamização da economia nacional.
Felizmente que ainda há empresas em Portugal, com
ramificações também nesta região beirã e na minha cidade – a Covilhã – com
homens e mulheres que são duma extraordinária capacidade de liderança e de
sentido de alterar o rumo daquele que foi pessimismo, para um ambiente
altamente alegre no trabalho, apesar da crise, crise também de valores.
Dou, como exemplo, uma multinacional que alterou o nome do
seu departamento de Recursos Humanos, como geralmente existe na generalidade
das empresas, para Gestão de Talento. E refere o seu CEO: “Na nossa Casa,
decidimos alterar esse nome que consideramos nefasto, porque achamos que um
Humano não é um recurso, é, sim, um Ser Humano. Um Ser Humano gere recursos,
não gere Humanos como sendo um recurso!”