Do hábito de guardar muitos apontamentos, recortes e páginas
de jornais e demais informação que não consigo abarcar nos momentos próprios, mas
que também são as minhas delícias de consulta e memórias, levou-me a um
amontoar excessivo de documentação de vários anos, para a já escassez de espaço
e facilidade de consulta.
E foi assim que lá foram quatro dias numa de selecionar
alguns dos milhares de documentos então reunidos, para continuar a guardar/consultar,
indo os remanescentes para o Banco Alimentar, fora as centenas de documentos
digitalizados.
É que o vento do aproximar da longevidade também já começa a
varrer da memória muita coisa que gostaríamos de transmitir.
No entanto, nuns breves dias por terras de nuestros hermanos, na falta de imprensa
portuguesa, lá vai um olhar para o “El
País”, de 56 páginas, que, por azar, naquele dia cinco, nem uma palavra
sobre o nosso pobre Portugal, apesar de se considerar “El periódico global”. Volto-me para o “La Vanguardia”, de 64 páginas, e dá-se a mesma coisa. Dos
desportivos espanhóis que consultei, “Mundo
desportivo” e “As”, ambos de 48
páginas, nada sobre Portugal, mas tão só sobre dois portugueses, emigrantes de
primeira, Mourinho e Cristiano.
Já em Andorra, um companheiro de viagem – Fernando Madeira –
me pergunta se vou escrever algo sobre a mesma. Fiquei satisfeito por saber que
é um dos meus leitores.
Chegados ao nosso retangulozinho à beira mar plantado,
confirmámos a continuidade, isto é, o nosso mundo em que só alguns portugueses
foram para férias. E isto num vasto leque de portugueses insatisfeitos,
pessimistas e sem esperança em que 96% acham que a situação económica do país é
má. Quer dizer que todos os portugueses descreem no “milagre” económico. É que
nenhum país da Europa, nem mesmo a Grécia, tem estes resultados.
Depois, também os portugueses acabam por não acreditar em
nada, nem em ninguém, nem na política nem nos políticos. Andam humilhados, desprezados
e maltratados, como que culpados por terem emprego, com salários e alguns
direitos, e, por o terem, estarem a impedir os desempregados de aceitarem
receber uma miséria e poderem ir para a rua a qualquer altura.
Para além de preocupados com o futuro, também o medo de
caírem na pobreza, com o desemprego e o custo de vida.
Aquilo que todos desejávamos ver a dar confiança aos
portugueses, continua num caos. Falamos da justiça e da educação.
Entretanto, os tribunais já começaram a sair do fundo do
túnel, e, vai daí, o Face Oculta vai
mandar para detrás das grades (vamos ver, vamos ver…) o transmontano Armando
Vara que, azar meu, faz anos nas vésperas do meu aniversário, esse “grande
político” que de bancário passou a banqueiro, que possui algumas ordens honoríficas,
sendo que sugeria ainda recebesse a medalha de Santa Ana, padroeira dos
sucateiros, e de Santa Bárbara, padroeira das tempestades, dos pescadores e dos
robalos. E, com ele, o sucateiro Manuel Godinho.
E lá temos o BES que, de BEStial passou a BESta, talvez
no “maior escândalo financeiro da história de Portugal”, conforme referiu o
economista César das Neves. O que foi “dono disto tudo”, Ricardo Salgado, com a
sua reforma anual superior a 900 mil euros, lá estava integrado no 1% da
população portuguesa que corresponde a um quarto da riqueza de Portugal. O peso
da fortuna dos mais ricos é maior do que se julgava, segundo um estudo
publicado em julho no site do Banco
Central Europeu. Quanto ao resto, já do conhecimento público, seguem-se as cenas dos próximos capítulos…
Com a saída de Durão Barroso, de Bruxelas, segue para a
nova equipa do seu sucessor, como comissário europeu, o português Carlos
Moedas, que vai receber o módico salário de 20 mil euros por mês. Entretanto,
por cá, o valor das reservas de ouro do Banco de Portugal caiu 31% no ano
passado.
Por cá, ainda, os compadres socialistas António Costa e
António José Seguro não se entendem, na sua guerra fratricida, na luta de galos
pelo poleiro, o que, par mim, é uma vergonha.
E, enquanto neste setembro, no regresso da chuva,
continua o mundo em tumultos, com as terríveis consequências que a comunicação
social nos faz chegar, desde as decapitações por elementos do Estado Islâmico,
às centenas de mortes diárias nas guerras israelo-árabe, Iraque, Rússia/Ucrânia,
e outros países, há ainda os empurrados para a morte de imigrantes no
Mediterrâneo, a meio caminho entre o Norte de África e a Europa, com, pelo
menos, 500 pessoas a perderem a vida, segundo testemunhos divulgados pela
Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Para alívio do Reino Unido, o mesmo continua unido, com o
“não” à independência da Escócia. No entanto, aproveitando a boleia, aí está a
Catalunha de olhos bem abertos, e daí, a ver vamos.
(In "Notícias da Covilhã", de 25.09.2014)