9 de setembro de 2014

SILLY SEASON FORA DE MODA

Entre uma agradável semana de férias em terras algarvias com inesquecíveis amigos, irmanados no mesmo espírito de confraternização e recordação dos tempos que quase todos vivemos na nossa meninice, apresso-me a escrever esta crónica tendo em conta que, dentro de algumas horas, tenho a esperança de poder desfrutar de mais um prolongado fim-de-semana por terras de nuestros hermanos.
Os jornais diários foram a minha companhia na procura de notícias que, neste período que dantes era considerado de silly season, hoje, na verdade já não o é, quer dizer, excluindo a “pimbalhada” na nossa RTP e, e até de outros canais que levam ao mais do mesmo, já que eu sou pouco avezado a fazer zapping, principalmente quando sempre que se me depara uma acentuada brejeirice.
Tal como nos últimos quatro anos, também este ano quase que se fez dissipar a silly season. Esta já não é o que era, já que entre demissões de ministros e queda de bancos, de figuras como Vítor Gaspar e Ricardo Salgado tem proporcionado muito trabalho à imprensa.
No verão de 2010, o BPN que fora liderado por Oliveira e Costa, voltou a ser falado com a reprivatização do mesmo, por via dum negócio de escândalo.
Já no estio de 2013 é a vez do ministro das Finanças, Vítor Gaspar, com críticas e “confissões” apresentar a sua demissão. É então que Passos Coelho, aceitando a demissão do seu “homem forte” se precipita numa crise política, ao nomear como sucessora no cargo vago, Maria Luís Albuquerque.
É aqui que Paulo Portas, líder do CDS, a formar coligação com o PSD, discordante da escolha do primeiro-ministro, vem anunciar, com pompa e circunstância, que irá “irrevogavelmente” demitir-se, o que, contrariando esta sua categórica decisão, não vem a acontecer e é promovido a vice primeiro-ministro. Resultado: os dicionários e enciclopédias vêem-se agora com problemas de significado daquela palavra. Quanto ao restante que se seguiu é já sobejamente conhecido do público.
E para que este período de veraneio não fosse exceção, em junho passado o Grupo Espírito Santo é extensamente noticiado na imprensa por fortes irregularidades nas sociedades que o envolvem. Entre o BES estar fora de perigo, o afastamento do seu líder e sua detenção, e o acabar por cair na desgraça, o Banco de Portugal separa o BES em dois bancos: um banco mau e um Novo Banco. Torna-se assim, pela primeira vez, o custo da operação, na história europeia, com a aplicação da nova legislação comunitária, com notícia em Portugal e no mundo. Nalguma coisa teríamos de ser os primeiros.
E já neste último agosto, o Tribunal Constitucional pega na caçadeira e aplica novo chumbo, o nono, obrigando o governo, acusado de “governar contra a lei”, a fazer um novo Orçamento Retificativo.
E, de verão quente atrás de verão quente, os últimos anos têm vindo a provar que o termo silly season está fora de moda. Tenhamos ainda em conta outros acontecimentos, como foi a chegada da troika a Portugal, em 2011, e as manifestações históricas por este país fora, em 2012, entre outros, pelo mundo fora.
E enquanto o Governo de Passos Coelho bate recorde nas alterações aos orçamentos do Estado; o BES o dividiram ao meio – o Banco bom (Novo Banco) e o Banco mau – entre “espíritos” e “santos”; o Governo continua a ser tão forte com os fracos e tão fraco com os fortes.
É que as quedas do GES e do BES puseram a nu as redes de construção de proteção do poder. Os portugueses já estão habituados aos intermináveis enredos dos processos de criminalidade económica.
A culpa de todos estes pecados será do sistema?
No Jornal de Negócios, João Pereira Coutinho dizia que “os políticos são maus porque os portugueses não exigem melhor”.
Já Manuel Carvalho (“Público” 31.08.14) se referia ao caso BES: “o que há apenas meia dúzia de anos seria um acontecimento catastrófico viveu-se como um incidente da silly season. A desilusão leva à letargia e daqui à resignação e ao conformismo, como se em questão estivesse apenas mais uma etapa do inescapável trânsito pelo purgatório a que nos condenaram”.

Vamos agora assistindo à guerra entre irmãos partidários desavindos – António Costa e António José Seguro, do PS, os quais, nesta geringonça, em vez de robustecerem a oposição para uma alternativa a um Portugal melhor, mais não passam que ser propiciadores de uma certa perplexidade nas condutas que levam à indiferença.

(In "fórum Covilhã", de 09.09.2014)

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