1. Na altura em que redijo
esta crónica Portugal está de luto. Desapareceu do mundo dos vivos Maria
Barroso, a eterna primeira-dama portuguesa. Esta grande Senhora morreu no
hospital que fundou – Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa. Mulher “determinada
na defesa de causas e com o seu caráter humanista e força solidária”, que
“valeu a pena ter vivido”, segundo a própria disse ao jornal i, em maio deste
ano, aquando do seu 90º aniversário natalício.
2. E, enquanto neste
“contentamento descontente”, surgido entre o “oxi”(não) e o “nai” (sim), os gregos procuram ansiosamente por uma
resolução para a sua vivência, os Senhores da Europa certamente que também
sentirão as suas pressões, sistólica e diastólica, alteradas (“Pecámos contra a dignidade dos povos da
Grécia, Portugal e Irlanda” – Jean-Claude Juncker – presidente da Comissão Europeia que criticou modelo da
“troika” e anterior equipa liderada por Durão Barroso, que se limitou a confiar
em técnicos).
Vamos ver se a permuta de cabeças, no Ministério das
Finanças grego, com a entrada do aristocrata Tsakalotos em substituição do
académico Varoufakis, mantendo a mesma ideologia, dará o resultado desejado.
Jamais assistimos a uma posição de força de um país da moeda
única, como o surgido com a Grécia, berço da democracia. Efetivamente foi na
Grécia Antiga que nasceu a democracia, quando em 507 a. C., os atenienses,
liderados por Clístenes, foram autorizados a falar e votar para as leis da
cidade-Estado. Entretanto, surgiria o domínio turco durante um longo tempo de
350 anos, e, com a independência da Grécia em 1821, seria marcado o início da
Grécia moderna.
O que é certo e verdade é que os gregos deram a toda a
Europa e a todo o mundo uma lição de coragem e dignidade.
Em tempo de guerra, o maior perigo absorve o menor, faz-se
pouco caso dos perigos dos mares; e as estações mais inclementes se estimam as
mais favoráveis para escapar à vigilância do inimigo. Também aqui, os gregos
com o Syriza, e o seu líder Alexis Tsipras, souberam, e compreenderam, ainda
que duma forma pungente, que a constância seria a arma forte contra a
genuflexão, esta atitude muito do agrado de Merkel e Hollande, e, até mesmo por
estas bandas domiciliárias, da “simpática”
Maria Luís Albuquerque, que nos “brindou”
com a informação de que o País “tem
os cofres cheios”.
3. Depois da troika estrangeira ter deixado o nosso
País, ficou a troika nacional (Passos
Coelho, Paulo Portas e Cavaco Silva), e, com este arranjo assim vai a nossa troika (a portuguesa), iludindo os
portugueses, com elogios hipócritas aos credores e fazendo de conta que há um
apaziguamento no país, chegando-se ao ponto caricato do homem de Boliqueime
condecorar, no Dia de Portugal, com a Ordem do Infante D. Henrique, o
costureiro de Maria Cavaco Silva. Logo surgiu o humor nas redes sociais, de que
a esposa de Cavaco também lhe tinha falado para condecorar quem lhe arranjava
as unhas…
E é assim que temos o retrato da desconfiança portuguesa.
Como será então possível dar o salto qualitativo para o desenvolvimento e a
solidez democrática?
Segundo um trabalho de São José Almeida, na Revista 2 do
Público de 14 de junho, referindo-se à Confiança, dizia:
- “Quando o país
parece pronto a arrancar para uma nova etapa de desenvolvimento, a questão é
saber até que ponto será limitada pelos baixos níveis de confiança existentes
na sociedade portuguesa”. E eu refiro, por exemplo, as mentiras continuadas
dos governantes, mormente do seu líder; o não dizerem a verdade aos
portugueses; a irrevogabilidade de uma decisão que, afinal, voltou com a
palavra atrás, do antigo beijoqueiro das feiras; as inverdades do homem de
Boliqueime: “Podem confiar no BES!”.
- “Quando as pessoas
olham para o futuro e acham que o futuro não promete nada a não ser novas
ameaças, essa unidade quebra-se”. E eu recordo o empurrar os jovens
cérebros para fora do País; as constantes ameaças de já não haver dinheiro para
a constituição de futuras pensões de reforma; a falta de confiança nos
tribunais; nos governantes que continuam a não temer e a surgir novas surpresas
de corrupção; os que passeiam por esse País fora banhado por um enriquecimento
inexplicável, naquela de “Quem cabritos vende
e cabras não tem, de algum lado lhe vem”.
A confiança é, pois, fator fundamental para o desenvolvimento
económico. O País continua com medo de ir para a rua. Os portugueses têm pânico
de expor a sua opinião: Portugal é um país com muitos acobardados.
Segundo Guilherme de Oliveira Martins, verificamos que a
sustentabilidade económica só se verificou em cinco períodos: descobrimentos,
ouro do Brasil, emigrantes, volfrâmio e fundos comunitários. Tudo isto foi
exterior. 80% da população vive entre Setúbal e Braga, numa faixa de 80 Km do
mar para o interior. Era expetável que a partir de 1986, com a entrada na CEE,
Portugal abandonasse “o seu estatuto de semiperiférico e se juntasse ao clube
dos desenvolvidos, o que não aconteceu”.
Há um indicador em que Portugal está à frente de todos os
países desde 1990: a confiança na Igreja. O cardeal D. Manuel Clemente diz que
uma realidade “tem tudo a ver com a confiança”: “O que cria confiança é o
conhecimento, e o que cria desconfiança é o isolamento”.
A confiança na justiça e nas instituições tem sido abalada
pelos sucessivos casos de corrupção que envolvem figuras do Estado, da política
ou da sociedade – o que descredibiliza perante a sociedade os que deveriam ser
referência num país com “tradições que são difíceis e negativas”, como aponta
Jorge Sampaio.
O País assistiu à falência de três bancos com contornos criminais:
BPN, BPP e BES. A confiança abala-se no sentido de perguntarmos: “Em quem é que eu acredito?”
4. A Covilhã continua na
sua senda cultural, vincando perfeitamente a sua condição de detentora do maior
número de agentes culturais do Concelho, em relação a todo o distrito de
Castelo Branco. Em cima da minha secretária um desdobrável da Agenda Cultural
do Município da Covilhã, em formato original, dobrado em origami, cuja
configuração é para quem goste; mais parecendo que foi concebida na inspiração
de alguém enquanto passava a ferro…
E, depois de muitas polémicas, num acerbo de linguagem pouco
própria do anterior líder do executivo camarário, as gentes covilhanenses já se
começaram a aperceber que, afinal, valeu a pena a mudança. O trabalho está a
surgir e havia muita treta, o que não obsta que considere que também nesta há
boys, girls e interesses instalados.
5. Gala Tribuna
Desportiva: - À hora que redijo este texto ainda não teve lugar este grandioso
evento, que, pela 2.ª vez consecutiva, se realiza no Castelo de Belmonte,
durante a noite de sábado, dia 11 de julho. Promover a distinção, ao longo do
ano desportivo, de muitas figuras e coletividades da região, mormente do
distrito de Castelo Branco, não está ao alcance de qualquer pessoa, mas sim dos
melhores. Por isso, está de parabéns, mais uma vez, o impulsionador da Grande
Gala, e diretor da Tribuna Desportiva, Pedro Martins, e também o Dr.
António Pinto Dias Rocha, presidente do Município de
Belmonte.
(In "fórum Covilhã", de 14.07.2015)