Falta de tempo, ou é preciso dar tempo ao tempo? É preciso é
pedalar!...
Escrevo esta crónica na véspera da etapa da Volta a Portugal
em bicicleta, rumo à Torre. E, mais um ano, num amável convite da Liberty
Seguros, lá estarei naquela etapa-rainha da Serra da Estrela, e, no dia
seguinte, em Castelo Branco, na excelência de um convívio entre muitos amigos. E
o tema é quem mais pedala, num reforçar da pedalada para o resto do ano.
Agosto é o mês preferencial para muita gente entrar de férias.
Como já me encontro nas vitalícias, para mim o Verão não é a silly season. Contrariamente, é uma
altura de boas recordações da minha juventude, associadas ao prazer do
reencontro com velhos amigos.
Terminei a “Breve
Resenha do Centro de Recreio Popular Estrela Desportiva de São Pedro – 1944 –
1972” que os participantes no próximo almoço-convívio, a realizar em 24 de
outubro, terão oportunidade de apreciar, no folhear de algumas páginas de
indeléveis recordações. Eu próprio, nos meus dezoito anos, de fato e gravata,
em pleno Verão, como era usual naqueles tempos dos anos 60 do século passado,
lá estou… Reminiscências do passado.
Era eu funcionário público até ao regresso do serviço
militar, e, nessa altura, eram os que tinham menos regalias sociais – nenhumas!...
– E ganhavam mal, o que me levou a um gesto de indignação reportados, naquele
tempo de censura à imprensa, num artigo publicado no “Notícias da Covilhã” em 1972 – “Uma
sóbria profissão – o funcionalismo público”, tendo o primeiro, “A Covilhã precisa de um museu”, sido
publicado no mesmo semanário em 1964, com que iniciei escrever nos jornais.
É que, voltando ao pedalar, vem atualmente referido para a
função pública, a sugestão que o Governo fez para que passassem a usar aquele
velocípede de duas rodas. Se já havia mobilidade na função pública, agora
faz-se de bicicleta… Esta sugestão integra-se num conjunto de medidas para
reduzir em 20% as emissões de CO2 dos automóveis do Estado e também os gastos
com combustível. É o programa para a mobilidade sustentável.
Pois é, na viragem que foi do mês de julho para o mês de
agosto, boa parte do país está em descanso e em mobilidade. Com menos
tranquilidade se encontram os nossos políticos, na preparação das listas para
as eleições legislativas, que, lá de lançar a bênção para a calmaria, está o
venerável santo de Boliqueime. Nunca se engana exceto as vezes que já não se
lembra. No meu tempo de juventude, analogamente a este homem de estado, existia
o “cabeça de abóbora”.
Entre as ondas do mar e a folhagem que se agita nos campos,
vão surgindo labaredas em matos e florestas. Coisas que não havia nos anos 50 e
60 do século passado, excetuando casos esporádicos.
E outras chamas, que não as do fogo, vão incendiando,
paulatinamente e com ardil, este Povo que, noutros tempos, nem sequer conheciam
o significado da palavra corrupção.
Já nem vamos falar em mais nomes, sobejamente conhecidos dos
portugueses, porquanto já cheiram a bafio. De vez em quando lá emergem mais uns
quantos que se vão juntar ao rol das “estrelas do ardil”, ou daqueles que por
obras demoníacas se “enganaram”. Mas, vamos lá, numa de benevolência, são todos
bons rapazes. Nós é que não estávamos habituados, n’é?!
Sou ainda do tempo do pirolito, aquela bebida que até finais
dos anos 50 fez a delícia de adultos e principalmente da pequenada que viam
nela um “dois em um” pois além de beberem o refrigerante, tinham a
oportunidade, partindo a garrafa, de ficar com a bolinha de vidro que servia de
tampa. A sentença de morte do pirolito surgiu quando o governo, por razões
sanitárias, mandou substituir a garrafa por outra com carica.
E então chega a vez de,
naquela década dos princípios dos anos 60, poder trazer de “dentro para fora”, uma
memória que ficou dos nossos tempos de meninos e moços, solteiros e bons
rapazes, em que as algibeiras andavam sempre leves, por falta de semanada, ou
mesada, inexistentes, e algum dinheirito lá se conseguia dos paupérrimos
salários das nossas primeiras atividades, que a grande fatia era para entregar
em casa, aos pais. Essa memória ainda hoje é objeto de riso, naquela do “copo de leite e um bolo”.
É que, no jogo dos matraquilhos, na Pensão de São Francisco,
onde ficavam hospedados alguns dos jogadores que vinham para o Sporting da
Covilhã, o vício minguava as poucas moedas que continham os nossos bolsos. Daí
que já não dava para saciar um pouco o estômago, de noite, na Pastelaria
Lisbonense, com um habitual copo de leite e um bolo.
Certo dia azarento, o José Alberto Neves, que, tal como nós,
ali havíamos deixado as nossas míseras economias, lamentou-se numa daquelas,
refletindo sobre tamanho azar: “Valia
mais termos ido beber um copo de leite e um bolo!...”. Esta perdurou no
tempo e, de vez em quando soltam-se-nos as palavras sobre esta recordação, para
quem viveu esses tempos, como o José Augusto Ferreira da Silva.
Outros tempos!...
(In "fórum Covilhã", de 11.08.2015)
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