No dealbar de um novo ano, muitas coisas surgem para fazer. Outras,
demasiadamente insolúveis, ficaram ainda para trás. E temos as Presidenciais na
aproximação. As promessas diz-se por aí que são para serem cumpridas, com ou
sem jura, seja ou não ceguinho… O comboio com a mercadoria dos
compromissos vai tendo alguns fardos que se soltam descuradamente. Será que vai
haver mais carga a cair? Não queremos mais cegueiras, porque só é cego quem não
quer ver. Esta de na terra dos cegos quem tem um olho é rei, era na utopia do de
abalada.
Talvez ensaiar a ideia de que o futuro começa agora. Vamos
entregar a carta de compromissos ao divino ou ao destino, sendo certo que este
depende de nós. Entre os desejos e as resoluções vai uma acentuada diferença.
Já o antigo Presidente americano John F. Kennedy dizia que
“A mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou para o
presente irão com certeza perder o futuro”.
O último caixote que caiu da carruagem em andamento ficou
“BANIFicado” e vamos pagar mais sem saber porquê. Isto já vão parecendo os
tempos da Dona Branca ou, do lado de lá dos Oceanos, de Bernard Madoff. Mas os
de cá não são presos.
Na continuidade da convulsão que está a sacudir a Europa,
podemos ver o Podemos, como exemplo. Por cá, temos o feminino em evidência na
política, o que não se verificava nos tempos de antanho, que é algo de muito
positivo.
É preciso mudar de vida: eliminando os meandros colocados no
caminho do novo Governo, ter compreensão para com os refugiados oriundos das
terras do medo, encontrar formas mais condignas para os idosos que olham para paredes
da solidão, e para os miúdos de narizes ranhosos para disfarçar a fome que lhes
vai no estômago vazio a caminho da escola; evitar que haja mais desempregados a
surgirem às mãos cheias, e os milhares de jovens tirocinados em Portugal mas a
caminho da estranja. E mais, e mais, e mais!...
Depois da fartadela de acontecimentos do ano que entrou na
sua necrologia, este neófito 2016 começa, como previsto, com a campanha para
Presidente da República, insonsa e desinteressante, como está a ser. Com o
Governo a fingir-se de morto, neste âmbito, “Marcelo espalha confusão nos
eleitores: os de direita, porque acham que ele está a fazer um frete à
esquerda, e os de esquerda, porque acham que ele está a usar um disfarce”. E,
segundo a opinião de Vasco Pulido Valente, “Segue a fantochada”. É inconcebível
como num país tão pequeno, contrastando com outros de maior território, haja
tantos candidatos à presidência da República – uma dezena! – sendo que a
maioria é de fraca qualidade, alguns deles notoriamente tendo surgido por
protagonismo.
É também um ano de efemérides: locais, reginais, nacionais e
internacionais. A Escola Secundária Campos Melo completou, no dia 3 de janeiro,
132 anos da sua criação. Tive o prazer de ter colaborado afincadamente, com
outros antigos Colegas (alguns já falecidos) e a Presidente do então Conselho
Diretivo daquela que foi a Escola Industrial e Comercial Campos Melo da
Covilhã, nas comemorações do seu centenário, em 1984. E, também de ser um dos
fundadores da então primeira associação do país, do género, de antigos
professores, alunos e empregados da Escola Campos Melo – APAE, no dia 15 de
junho do mesmo ano, agora a caminho dos 32 anos. Se em Viseu, em 16 de março, o
Museu Grão Vasco vai comemorar o seu centenário, já em Gouveia, há 100 anos,
nascia no dia 28 de janeiro, o escritor Vergílio Ferreira.
No dia 1 de janeiro de 1986 Portugal passava a fazer parte do
grupo de 12 Estados membros da então CEE. Hoje a CEE é a União Europeia,
integrando 28 países. E atravessa uma série de crises preocupantes.
Comemoram-se assim, neste 2016, 30 anos.
Pela segunda vez, na história da República Portuguesa, e em
democracia, também 30 anos volvidos, há duas mulheres candidatas à presidência
da República, sendo que há três décadas fora Maria de Lurdes Pintassilgo.
Também este ano se comemoram 400 anos da morte do dramaturgo
e poeta inglês, William Shakespeare, tendo escrito inúmeras tragédias. Quem não
se recorda, por exemplo de “Romeu e Julieta”?
E é ainda neste ano que se comemoram os 500 anos da
publicação da obra canónica de Thomas More – Utopia, publicada em 1516. Quinhentos
anos depois, o sentido de utopia não se perdeu. E a sua mensagem continua a
fazer sentido hoje: “existem alternativas ao que está instituído.
Utopia é uma obra marcada pela realidade, mas também pela
ficção. A realidade tende a surpreender a ficção. Mas nunca se resiste ao
desafio”.
(In "Notícias da Covilhã", de 14-01-2016)