Foi prometido pelas hostes
socialistas um “virar de página”. Do lado da cortina que os separa, pela banda
da direita, não há hipótese de qualquer aragem. A geringonça é, para a direita,
como os fogos a fustigarem as suas mentes. Parece que preferem manter a
afirmação do famigerado ministro das finanças de então, Victor Gaspar, com o
seu “enorme aumento de impostos”.
Que não quer dizer que tudo
esteja a correr bem pelos caminhos da esquerda, onde a Padeira de Aljubarrota e
o delfim de Cunhal vão dando algumas alfinetadas ao senhor Primeiro.
A rentrée está de volta.
Terminaram as férias. E eis que chegou setembro – o mês do diabo. Foi em julho
que o líder da direita, Passos Coelho, o dramatizou: “Gozem bem as férias que
em setembro vem aí o diabo”.
Vêm os discursos habituais, de um
lado e do outro das coordenadas que envolvem a Nação. Anuncia-se assim o
regresso à ribalta política. E as provas de vida serão efetuadas, cada qual a
seu jeito, ou, melhor, na defesa da “sua dama”. Passos Coelho defenderá a do
diabo. Assunção Cristas também se situará nesta sombra. Já Jerónimo de Sousa
certamente não deixará a oportunidade de fazer valer as reconquistas que não
poderão retroceder. Igualmente Catarina Martins já se antecipara e deixou a sentença:
“Nenhum passo atrás”.
Para afastar o demónio,
socialistas e governo prometem um paraíso, ainda que passando pelo purgatório.
Sempre é melhor.
O que é certo e verdade é que o
país não passa da cepa torta. Vive, mais ou menos como nas últimas duas décadas,
titubeando. Continua sem vida para lá do défice.
Mas a minha revolta, a nossa
indignação, é na certeza de que já não é na nossa geração que vamos encontrar o
termo destes conflitos. Vamos ter que os aturar até ao fim dos nossos dias.
Afinal, onde estão os homens sábios, e as mulheres, como a história de Portugal
sempre apregoou, para os destinos de glória deste Portugal de hoje? Não há
sapiência para sanar o vírus purulento que se apoderou deste espaço territorial
mais ocidental da Europa.
Desde há anos, mais
acentuadamente deste 2006, que tenho manifestado na comunicação social o meu
inconformismo por este estado de coisas. E, quando algo parecia mais bem
orientado, eis que surge o maldito diabo, esse sim, do chico espertismo,
principalmente de quem deveria dar o bom exemplo. O povo português, que já não
é ingénuo, e mesmo os poucos iletrados, já os conhecem.
Apesar de a economia não estar a
crescer, segundo os dados do 2.º trimestre deste ano, o desemprego está a
diminuir. No último semestre, o desemprego diminuiu mesmo consideravelmente, o
que não acontecia há sete anos.
Ainda que não ao ritmo desejável,
os portuguese têm agora maior rendimento disponível.
Não sabemos se a razão existe
para os lados de Passos Coelho em duvidar que vamos falhar a meta do défice.
Como também não temos razões para duvidar da garantia de António Costa de que o
défice vai ficar abaixo do 2,5%.
Entretanto, o Presidente Marcelo
vai apaziguando e mostrando o seu sorriso no acompanhamento das situações
governamentais. É exatamente o contrário do seu antecessor, de má memória,
diga-se.
Pois é, e não obstante a crise, a
maldita crise, continuamos a ver o país a arder. Num ano em que foi dos que
mais choveu. Nessa altura, das chuvas, nos sentíamos a respirar um pouco de
alívio, porquanto há já uns anos que não tínhamos a deflagração de tantos
incêndios. Veio o calor, e, num ápice, eis que tal sina transformou o país no
de maior zona ardida em relação a toda a União Europeia.
Ainda que continue o calor por
algum tempo, nesta rentrée, o verão irá terminar. E também irão acabar as
preocupações por mais incêndios. Os hectares de florestas, as casas ardidas, e
o esforço dos bombeiros e de muita gente anónima vão também ser olvidados, como
sempre.
Medidas atempadas a tomar? Para o
próximo ano, quando regressarem os incêndios, os discursos, as decisões que não
foram tomadas, as indignações, e as perdas, face a novos incêndios, serão mais
um facto. Por que será?
(In "fórum Covilhã", de 2016-09-13)
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