13 de setembro de 2016

O MÊS DO DIABO

Foi prometido pelas hostes socialistas um “virar de página”. Do lado da cortina que os separa, pela banda da direita, não há hipótese de qualquer aragem. A geringonça é, para a direita, como os fogos a fustigarem as suas mentes. Parece que preferem manter a afirmação do famigerado ministro das finanças de então, Victor Gaspar, com o seu “enorme aumento de impostos”.
Que não quer dizer que tudo esteja a correr bem pelos caminhos da esquerda, onde a Padeira de Aljubarrota e o delfim de Cunhal vão dando algumas alfinetadas ao senhor Primeiro.
A rentrée está de volta. Terminaram as férias. E eis que chegou setembro – o mês do diabo. Foi em julho que o líder da direita, Passos Coelho, o dramatizou: “Gozem bem as férias que em setembro vem aí o diabo”.
Vêm os discursos habituais, de um lado e do outro das coordenadas que envolvem a Nação. Anuncia-se assim o regresso à ribalta política. E as provas de vida serão efetuadas, cada qual a seu jeito, ou, melhor, na defesa da “sua dama”. Passos Coelho defenderá a do diabo. Assunção Cristas também se situará nesta sombra. Já Jerónimo de Sousa certamente não deixará a oportunidade de fazer valer as reconquistas que não poderão retroceder. Igualmente Catarina Martins já se antecipara e deixou a sentença: “Nenhum passo atrás”.
Para afastar o demónio, socialistas e governo prometem um paraíso, ainda que passando pelo purgatório. Sempre é melhor.
O que é certo e verdade é que o país não passa da cepa torta. Vive, mais ou menos como nas últimas duas décadas, titubeando. Continua sem vida para lá do défice.
Mas a minha revolta, a nossa indignação, é na certeza de que já não é na nossa geração que vamos encontrar o termo destes conflitos. Vamos ter que os aturar até ao fim dos nossos dias. Afinal, onde estão os homens sábios, e as mulheres, como a história de Portugal sempre apregoou, para os destinos de glória deste Portugal de hoje? Não há sapiência para sanar o vírus purulento que se apoderou deste espaço territorial mais ocidental da Europa.
Desde há anos, mais acentuadamente deste 2006, que tenho manifestado na comunicação social o meu inconformismo por este estado de coisas. E, quando algo parecia mais bem orientado, eis que surge o maldito diabo, esse sim, do chico espertismo, principalmente de quem deveria dar o bom exemplo. O povo português, que já não é ingénuo, e mesmo os poucos iletrados, já os conhecem.
Apesar de a economia não estar a crescer, segundo os dados do 2.º trimestre deste ano, o desemprego está a diminuir. No último semestre, o desemprego diminuiu mesmo consideravelmente, o que não acontecia há sete anos.
Ainda que não ao ritmo desejável, os portuguese têm agora maior rendimento disponível.
Não sabemos se a razão existe para os lados de Passos Coelho em duvidar que vamos falhar a meta do défice. Como também não temos razões para duvidar da garantia de António Costa de que o défice vai ficar abaixo do 2,5%.
Entretanto, o Presidente Marcelo vai apaziguando e mostrando o seu sorriso no acompanhamento das situações governamentais. É exatamente o contrário do seu antecessor, de má memória, diga-se.
Pois é, e não obstante a crise, a maldita crise, continuamos a ver o país a arder. Num ano em que foi dos que mais choveu. Nessa altura, das chuvas, nos sentíamos a respirar um pouco de alívio, porquanto há já uns anos que não tínhamos a deflagração de tantos incêndios. Veio o calor, e, num ápice, eis que tal sina transformou o país no de maior zona ardida em relação a toda a União Europeia.
Ainda que continue o calor por algum tempo, nesta rentrée, o verão irá terminar. E também irão acabar as preocupações por mais incêndios. Os hectares de florestas, as casas ardidas, e o esforço dos bombeiros e de muita gente anónima vão também ser olvidados, como sempre.

Medidas atempadas a tomar? Para o próximo ano, quando regressarem os incêndios, os discursos, as decisões que não foram tomadas, as indignações, e as perdas, face a novos incêndios, serão mais um facto. Por que será?

(In "fórum Covilhã", de 2016-09-13)

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