12 de abril de 2017

REFLEXÃO ÀS AUTÁRQUICAS

Enquanto vemos reduzir o nosso tempo de vida, não obstante o aumento generalizado da nossa existência no Planeta, depois do muito que já vimos passar, continuam a verificar-se mudanças, na certeza que também prosseguirão as narrativas da vida de cada um, em particular, e de todos, em geral.
Completamos 41 anos de democracia constitucional, o que, paradoxalmente, se contrapõe a outros tantos 41 anos que tivemos de ditadura em Portugal.
De tão prolongada ditadura deveríamos ter uma democracia verdadeiramente prudente e tranquila.
De facto, vive-se hoje muito melhor do que há mais de quatro décadas, mas esse bem-estar em termos de bens de consumo não quer dizer que se mantenham os valores, estes que constituem a essência de um Estado e que transformam o povo.
É que o respeito pelas instituições, sua credibilidade, e os ensinamentos que o poder público devia dar, assim como a imparcialidade, justiça e retidão nos negócios duma sociedade moderna estão a léguas da realidade.
Muito do que aqui poderíamos dizer é como chover no molhado, quanto à nossa justiça, ao poder legislativo, e, porque não, mesmo ao quarto poder, onde se dá ênfase ao insulto emanado dos homens e mulheres dessas mesmas instituições, num exagero de repetições de casos anómalos quão doentios para todos nós. Para já não dizer das vergonhosas discussões políticas que impedem acordos de regime.
Vamos ter as eleições autárquicas, definidoras de como pode ser visto o país, mas incisivas nos meios onde vivemos.
Neste tempo quaresmal, ainda a procissão vai no adro e já começaram algumas pré-campanhas eleitorais. Começam a sair da casca: uns, fabulando entre “A Lebre e a Tartaruga”; outros entre “A Raposa e a Cegonha”; outros ainda, esquecendo-se do seu passado egocentrista.
A profunda reflexão vai, pois, para este estado de alma de cada um, dos que poderemos escolher, e dos quais tantas vezes nos enganámos.
Vamos então ao nosso meio citadino e concelhio – a nossa mui amada Covilhã –, sejam almas de raiz ou de coração, onde a trombeta já deu sinal de três assumidos candidatos à “catedral”.
É bom que os sermões que agora se vão ouvindo pelos vários “púlpitos” políticos dos que ainda vão a tempo de participar na procissão, entrem na profundidade de quem tem ouvidos para ouvir, e não só daqueles em que a voz entra por um ouvido e sai pelo outro, nas várias tribunas que se vão distribuindo.
Os argumentos que nos fazem querer esquecer os corredores das discórdias, fruto dum egocentrismo contemporizado nas iniciativas, nem todas pessoais, mas assumidas como tal, duma visão de transformar uma cidade a qualquer preço, é bom que tenhamos um pouco de reflexão sobre o passado.
Entre sorrisos, beijos e abraços, promessas (que não serão cumpridas), desejos de passar a governar a cidade e o concelho para todos de igual modo, mesmo para com os adversários políticos, como, mais uma vez, irá ser anunciado, não só para os apaniguados, mas também para os indecisos, para os distraídos, ou para os maldizentes pelo que vêm; será o inevitável dos candidatos para tentar a adesão às suas causas, vibrando por esses palanques que irão surgir por todo o lado.
O ideal é que haja um candidato que nos convença da sua sacra decisão de respeitar escrupulosamente, sob pena de se demitir, todas as suas promessas, na assunção do estudo aprofundado que soube obter dos meandros da política concelhia. E que sabe atuar sem ofender, sem utilizar a pusilanimidade, mas antes a frontalidade perante o seu opositor; a céu aberto, e não escondido em blogues e outras coisas mais, num ridículo anonimato, que agora já terminou, deduzimos, porque foi gato escondido com o rabo de fora; quando as frentes não correm de feição, isto é, aceitar a democracia.
Nestes 41 anos de eleições autárquicas, basta de vermos que o genuíno interesse das populações é muitas vezes adulterado pelo polvilhar dos interesses pessoais, favores aos apaniguados, subtilmente apregoando-se a necessidade de utilização de boys e girls desnecessários, que aumentam a despesa autárquica, em desfavor da utilização dos funcionários existentes, ainda que tenham tido opção política diferente da que acabara de surgir na liderança autárquica. Então para que servem as leis disciplinadoras?
Não conhecemos em profundidade as autarquias vizinhas, mas reconhecemos avanços em relação à covilhanense. Porquê? Qual o motivo porque o ex-autarca albicastrense, Joaquim Morão, e antes autarca idanhense, foi uma personalidade sempre querida pelas suas populações, saindo pela porta larga da “catedral”? Na Covilhã, ganharia com maioria absoluta! Fica a reflexão.
Na parte que toca à atual autarquia covilhanense, socialista, temos muita pena de ter de dizer que os objetivos não foram minimamente cumpridos, e, como já havíamos alertado em tempos, há que refletir se esta força política insere no seu seio pessoas à altura desta nobre missão, servindo as populações, em vez de se guerrearem interna e extramuros. Para além da assinalável parte cultural, onde estão as empresas anunciadas para substituir algumas que se transferiram? Mas a parte mais negativa vai para os aspetos nebulosos em que tiveram atuação desastrada, quando, afinal, se acusava o anterior executivo.
Os social democratas conseguiram reunir algumas das suas tropas que haviam desertado por força dum general sem rumo na fase final do seu anterior mandato, que passou a castigar, sem rei nem roque, quem ao mesmo não venerasse. Afinal, se verificarmos o séquito de muitos do seu anterior exército, vários foram os que foram “passados à espada”. É que o general, então, não soube escolher os seus soldados.
Surge à ribalta uma personalidade, sobejamente conhecida a nível nacional, que já disse não ir dizer mal de ninguém, e, como covilhanense que é, ainda que não residente na mesma, propõe-se manter a ordem não reinante. Será que vamos ter o homem certo no lugar certo? Se assim for, suba ele ao palanque, imponha a espada de D. Afonso Henriques, o engenho de Nuno Álvares Pereira, e as descobertas da égide do Infante D. Henrique. Se todos têm amor à Covilhã, faça-se como D. Manuel II, que, apesar do seu exílio nos arredores de Londres, ainda sem problemas de Brexit, foi um grande patriota.
Sejamos nós, também, grandes Covilhanenses, mas de verdade!

Voltaremos ao assunto quando oportuno.

(In "Notícias da Covilhã", de 13/04/2017)

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