Enquanto vemos reduzir o nosso
tempo de vida, não obstante o aumento generalizado da nossa existência no
Planeta, depois do muito que já vimos passar, continuam a verificar-se mudanças,
na certeza que também prosseguirão as narrativas da vida de cada um, em
particular, e de todos, em geral.
Completamos 41 anos de
democracia constitucional, o que, paradoxalmente, se contrapõe a outros tantos
41 anos que tivemos de ditadura em Portugal.
De tão prolongada ditadura
deveríamos ter uma democracia verdadeiramente prudente e tranquila.
De facto, vive-se hoje muito
melhor do que há mais de quatro décadas, mas esse bem-estar em termos de bens
de consumo não quer dizer que se mantenham os valores, estes que constituem a
essência de um Estado e que transformam o povo.
É que o respeito pelas
instituições, sua credibilidade, e os ensinamentos que o poder público devia
dar, assim como a imparcialidade, justiça e retidão nos negócios duma sociedade
moderna estão a léguas da realidade.
Muito do que aqui poderíamos
dizer é como chover no molhado, quanto à nossa justiça, ao poder legislativo,
e, porque não, mesmo ao quarto poder, onde se dá ênfase ao insulto emanado dos
homens e mulheres dessas mesmas instituições, num exagero de repetições de casos
anómalos quão doentios para todos nós. Para já não dizer das vergonhosas
discussões políticas que impedem acordos de regime.
Vamos ter as eleições
autárquicas, definidoras de como pode ser visto o país, mas incisivas nos meios
onde vivemos.
Neste tempo quaresmal, ainda a
procissão vai no adro e já começaram algumas pré-campanhas eleitorais. Começam
a sair da casca: uns, fabulando entre “A Lebre e a Tartaruga”; outros entre “A
Raposa e a Cegonha”; outros ainda, esquecendo-se do seu passado egocentrista.
A profunda reflexão vai, pois,
para este estado de alma de cada um, dos que poderemos escolher, e dos quais
tantas vezes nos enganámos.
Vamos então ao nosso meio
citadino e concelhio – a nossa mui amada Covilhã –, sejam almas de raiz ou de
coração, onde a trombeta já deu sinal de três assumidos candidatos à “catedral”.
É bom que os sermões que agora
se vão ouvindo pelos vários “púlpitos” políticos dos que ainda vão a tempo de
participar na procissão, entrem na profundidade de quem tem ouvidos para ouvir,
e não só daqueles em que a voz entra por um ouvido e sai pelo outro, nas várias
tribunas que se vão distribuindo.
Os argumentos que nos fazem
querer esquecer os corredores das discórdias, fruto dum egocentrismo contemporizado
nas iniciativas, nem todas pessoais, mas assumidas como tal, duma visão de
transformar uma cidade a qualquer preço, é bom que tenhamos um pouco de
reflexão sobre o passado.
Entre sorrisos, beijos e
abraços, promessas (que não serão cumpridas), desejos de passar a governar a
cidade e o concelho para todos de igual modo, mesmo para com os adversários
políticos, como, mais uma vez, irá ser anunciado, não só para os apaniguados,
mas também para os indecisos, para os distraídos, ou para os maldizentes pelo
que vêm; será o inevitável dos candidatos para tentar a adesão às suas causas,
vibrando por esses palanques que irão surgir por todo o lado.
O ideal é que haja um
candidato que nos convença da sua sacra decisão de respeitar escrupulosamente,
sob pena de se demitir, todas as suas promessas, na assunção do estudo aprofundado
que soube obter dos meandros da política concelhia. E que sabe atuar sem
ofender, sem utilizar a pusilanimidade, mas antes a frontalidade perante o seu
opositor; a céu aberto, e não escondido em blogues e outras coisas mais, num
ridículo anonimato, que agora já terminou, deduzimos, porque foi gato escondido
com o rabo de fora; quando as frentes não correm de feição, isto é, aceitar a
democracia.
Nestes 41 anos de eleições
autárquicas, basta de vermos que o genuíno interesse das populações é muitas
vezes adulterado pelo polvilhar dos interesses pessoais, favores aos
apaniguados, subtilmente apregoando-se a necessidade de utilização de boys e girls desnecessários, que aumentam a despesa autárquica, em
desfavor da utilização dos funcionários existentes, ainda que tenham tido opção
política diferente da que acabara de surgir na liderança autárquica. Então para
que servem as leis disciplinadoras?
Não conhecemos em profundidade
as autarquias vizinhas, mas reconhecemos avanços em relação à covilhanense.
Porquê? Qual o motivo porque o ex-autarca albicastrense, Joaquim Morão, e antes
autarca idanhense, foi uma personalidade sempre querida pelas suas populações,
saindo pela porta larga da “catedral”? Na Covilhã, ganharia com maioria
absoluta! Fica a reflexão.
Na parte que toca à atual
autarquia covilhanense, socialista, temos muita pena de ter de dizer que os
objetivos não foram minimamente cumpridos, e, como já havíamos alertado em
tempos, há que refletir se esta força política insere no seu seio pessoas à
altura desta nobre missão, servindo as populações, em vez de se guerrearem
interna e extramuros. Para além da assinalável parte cultural, onde estão as empresas
anunciadas para substituir algumas que se transferiram? Mas a parte mais
negativa vai para os aspetos nebulosos em que tiveram atuação desastrada,
quando, afinal, se acusava o anterior executivo.
Os social democratas
conseguiram reunir algumas das suas tropas que haviam desertado por força dum
general sem rumo na fase final do seu anterior mandato, que passou a castigar,
sem rei nem roque, quem ao mesmo não venerasse. Afinal, se verificarmos o
séquito de muitos do seu anterior exército, vários foram os que foram “passados
à espada”. É que o general, então, não soube escolher os seus soldados.
Surge à ribalta uma
personalidade, sobejamente conhecida a nível nacional, que já disse não ir
dizer mal de ninguém, e, como covilhanense que é, ainda que não residente na
mesma, propõe-se manter a ordem não reinante. Será que vamos ter o homem certo
no lugar certo? Se assim for, suba ele ao palanque, imponha a espada de D.
Afonso Henriques, o engenho de Nuno Álvares Pereira, e as descobertas da égide
do Infante D. Henrique. Se todos têm amor à Covilhã, faça-se como D. Manuel II,
que, apesar do seu exílio nos arredores de Londres, ainda sem problemas de
Brexit, foi um grande patriota.
Sejamos nós, também, grandes
Covilhanenses, mas de verdade!
Voltaremos ao assunto quando
oportuno.
(In "Notícias da Covilhã", de 13/04/2017)
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