1 – Verão horrível. As
sirenes já não tocam nos quartéis. Os bombeiros não conseguem lá parar. Estão
na faina mais que habitual dos incêndios. Exaustos por essas serras, por essas
florestas de pinheiros e eucaliptos e de muito mato; muitas zonas íngremes e de
difícil acesso. Ouvem-se as sirenes a uivar, sim, das viaturas dos bombeiros a
caminho de mais um fogo, outro, e mais outro. Não há descanso para os soldados
da paz, mas também para o diabo que não veio em setembro passado, conforme o
líder das hostes contrárias anunciou, mas chegou agora. É o satanás destes
momentos de sobressalto em muitas gentes deste Portugal sofredor. E o inferno
não pensado, deste tamanho, foi avassalando por este País fora. Aviões e
helicópteros a despejar água sobre os fogos enquanto é possível. O socorro
contínuo emana das viaturas de combate a incêndios. Populações aflitas com os
seus haveres. Algumas gentes numa teimosia de preferir que se avizinhe o perigo
demoníaco das chamas, a abandonar a casa e os animais. Presidentes das autarquias
na linha da frente para dar o brado alarmante do inferno no seu concelho, na
sua freguesia; aquela enorme extensão de área ardida, que se reacende, não se
sabe por que diabo tal aconteceu! É insólito em Portugal esta avalanche de
fogos seguidos, como que combinados!
Chegaram a emergir, num só
dia, mais de duas centenas de incêndios neste pobre País. Milhares de hectares
consumidos pelas chamas. Batemos o record de fogos surgidos, em relação a toda
a Europa. O que é isto?!
Ambientalistas criticam falta
de medidas para combater a seca, com enorme percentagem da severa e extrema.
Peritos propõem câmaras de vigilância e máquinas de limpeza das florestas. Outros,
fazem recomendações sobre a reforma florestal. Fazem-se declarações preventivas
de calamidade pública em muitos concelhos do País. Os jornalistas vão dando
conta in loco, do que vai
acontecendo, várias vezes nos canais de televisão, que preenchem a maior parte
do tempo dos seus telejornais, e não só, sobre estes eventos trazidos por
Lúcifer.
E lá apanharam alguns partidários do Maligno,
perto duma centena – pirómanos, não, porque segundo Cristina Soeiro, Chefe do
Gabinete de Psicologia da Escola da PJ, em Portugal nós não temos pirómanos –,
mas sim incendiários (aquele que pratica o ato de colocar fogo com intenção),
que divide em três grupos: os detidos com problemas psiquiátricos; os que agem
em busca do benefício próprio; e os que buscam vantagens pessoais ou
profissionais.
2 – Mas, bolas, isto vai acontecendo
todos os anos, na época de incêndios por que se passou a designar o Verão. Há
27 anos, por esta altura, deu-se o grande incêndio da Serra da Estrela, em que
houve uma vítima mortal no Parque de Campismo do Pião. Falou-se em prevenção.
Não me lembro se se terá falado na reorganização da floresta. Mas recordo-me
que, há 14 anos, nos primeiros dias de agosto de 2003, quando arderam 300 mil
hectares no nosso País, a VISÃO fez uma entrevista a Gonçalo Ribeiro Teles, que
não perdeu um pingo de atualidade. Continuam, ano após ano na permissividade da
celebração do eucaliplal, nada se aprendendo com o que se vai passando todos os
anos, e, passado este período crítico, altamente severo, voltam-se aos temas,
sem solução, da floresta de eucaliptos e pinheiros, as falhas da proteção
civil, a falta de condições de trabalho dos nossos bombeiros. E o resultado
desta operação é que o País está completamente desordenado. Viu-se agora com os
milhares de incêndios que assolaram o País.
Pedrógão: evacuações foram feitas
às cegas e sem coordenação. Um quarto dos municípios não tem plano contra
incêndios, alerta a Quercus.
José Massano Monteiro,
professor da Escola Superior Agrária do IPCB, e membro sénior da Ordem dos
Engenheiros e Colégio de Engenharia Florestal, em entrevista recente a um
semanário desta região, disse que “é urgente que se recorra cada vez mais à
engenharia florestal e cada vez menos à indústria do fogo (ao mero combate)”.
E, mais uma vez, a pergunta: como foi isto
possível? Talvez a resposta: Administração Interna e Proteção Civil não se
entendem, serão como que umas organizações desorganizadas. Em vez de procurarem
encontrar a solução para o problema, puseram-se a lamentar o problema
endossando a culpabilidade de uns para os outros. E, nesta vertente de
incêndios, bonda, como dizia a minha avó!
3 – Outros incêndios
começaram. Noutra vertente. Política. As Autárquicas estão quase à porta.
Muitas janelas já se escancararam para soltar os mais diversos gritos, os
lampejos de lançar atoardas impensáveis, aos seus mais diretos adversários,
que, para muitos, são mais propriamente inimigos. Que isto de política, neste
caso vertente das autárquicas, há muitos amigos mas da onça.
Também Paulo Duarte, em artigo
de opinião num semanário regional, inerente a um estudo que efetuou, constatou
que “nos anos em que houve eleições o número de incêndios é sempre superior aos
anos imediatamente anterior e seguinte, com exceção para 2013”.
Por todo o País, os partidos
combinam-se em 26 tipos de alianças nas eleições locais.
Na Cova da Beira, é a Covilhã
que apresenta maior número de candidaturas, num total de seis (BE, CDS/PP, CDU,
DE NOVO COVILHÃ, PSD/PPM e PS). Viva a democracia!
Há uma panóplia de opções. Mas
também a responsabilidade nas decisões, agora que já são sobejamente conhecidos
os candidatos.
Nestas andanças, suponhamos
que um candidato, durante muito tempo vagueou em perfis falsos e blogs anónimos,
insurgindo-se com atitudes pusilânimes contra o líder da catedral. Como votar
nele? Suponhamos que outro candidato, na sua ferocidade de não olhar a meios
para atingir os fins, teve como baluarte a mentira, para onde penderá o meu
voto? Temos presente a Barragem do Viriato, que alimenta a Cidade, e que um
candidato alega que vai deixar de ter água dentro de um mês. Mas a edilidade
afirma o contrário, que é só alarme eleitoral do adversário, tanto mais que a
água nem sequer vai ser racionada. Quem for o autor da peta, como vai ser a
minha confiança no voto do candidato desta patranha? Será que é o diabo que, no
seu disfarce, aí vem, anunciado por Passos Coelho? E, como votar num candidato,
em analogia com o que refere o ex-líder do PSD, Marques Mendes, desafiando os
partidos políticos a proibirem as pessoas condenadas por “crimes especialmente
graves” de serem candidatas a eleições?
É consciente refletir por que
se fizeram obras a qualquer preço, se alhearam do endividamento, se marimbaram
para a destruição de património histórico que jamais conseguirá ser reerguido.
Como votar numa candidatura aqui inserida nesta responsabilidade?
Se a ida às urnas (ainda) está
com alguma ligeira distância, o mesmo não se pode dizer das polémicas. E, por
cá, também abundam: voltando à construção da nova barragem, já em 1992 se dizia
na comunicação social que “nova barragem deve estar concluída em 1994”. Afinal,
já lá vão 23 anos.
E, neste folclore político, em
que os partidos preveem gastar quase 35 milhões nas autárquicas, melhor será fechar
a caixa de Pandora. No dia 1 de outubro, vamos ver o que as populações exprimem
de sua justiça.
(In "Notícias da Covilhã", de 31/08/2017)