Longe vão os tempos em que os
da minha geração, aí por meados dos anos cinquenta do século passado, em plena
rua, de piso térreo ou então já com calcetamento em paralelepípedo, que se
iniciara na Rua Vasco da Gama, Avenida Salazar (hoje Avenida 25 de Abril),
junto à Escola Industrial e Comercial Campos Melo, e quintas onde viviam as
famílias Carrola e, mais abaixo, os irmãos Lobo, onde hoje existe o antigo
Liceu (Escola Frei Heitor Pinto) e também junto à Cadeia, se jogava com uma
bola de farrapos ou de borracha. Fazia-se uma paragem sempre que surgisse a
polícia, ou, outras vezes, quando tivesse de passar uma viatura, uma
motorizada, ou mesmo uma carroça. As balizas eram então feitas com duas pedras
e árbitro não havia, o que gerava muitas vezes discussão sobre a dúvida de a
bola ter entrado ou não na idealizada baliza.
Havia então que escolher os
jogadores (cinco ou mais para cada equipa), seguindo-se, quando não houvesse
entendimento, ou assim se julgasse oportuno, o método do jogo de mãos,
recreativo e simples entre dois ou mais dos que pretendiam jogar à bola, que
não requeria qualquer equipamento ou mesmo habilidade. Era esta uma forma de
seleção, que se baseava exclusivamente em sorte, e assim “pedra-papel-tesoura”
poderia ser jogado com um pouco de habilidade se este se estendesse por vários
turnos com o mesmo jogador, podendo o mesmo reconhecer e explorar a lógica do
comportamento do adversário, percebendo e antecedendo as suas jogadas. Os
jogadores tinham que simultaneamente esticar a mão, que era colocada atrás das
costas e puxada para a frente em simultâneo, através da qual cada um formava um
símbolo que significa pedra (mão fechada), papel (mão aberta) e tesoura (os
dois dedos da mão, indicador e médio). Os jogadores comparam então os símbolos
para decidir quem ganhou, da seguinte forma: a pedra ganha da tesoura
(amassando-a ou quebrando-a), a tesoura ganha do papel (cortando-o), e o papel
ganha da pedra (embrulhando-a). Este método para escolher os companheiros para um
jogo, podia também ser utilizado para saber quem iniciaria outra brincadeira
qualquer.
Durante os intervalos das
aulas do Ciclo Preparatório, um dos colegas começa a dizer muito rapidamente a
palavra otorrinolaringologista e desafiava os outros colegas para que
conseguissem pronunciá-la rapidamente. Na mesma altura, no filme português A
Canção de Lisboa, com o ator Vasco Santana, no seu exame da faculdade,
estabelece um diálogo bastante icónico com os examinadores, ao responder à
pergunta, “Qual é o principal músculo latro-flexor do pescoço?”, com a
resposta: “É o esternocleidomastóideo”. Estes filmes só se viam nos
vários Centros Recreativos da FNAT (hoje INATEL) que existiam na Covilhã, já
que a televisão só viria a surgir em Portugal em 1957.
Vem assim a propósito trazer algumas
das maiores palavras da língua portuguesa, a saber:
- Inconstitucionalissimamente
(27 letras) – Sinónimo de anticonstitucionalissimamente.
- Oftalmotorrinolaringologista
(28 letras) – Profissional especializado nas doenças dos olhos, ouvidos,
nariz e garganta.
- Anticonstitucionalissimamente
(29 letras) – Maior advérbio da língua portuguesa, significa o mais alto
grau de inconstitucionalidade.
Entre outras, a maior palavra da
língua portuguesa, registada no dicionário Houaiss em 2001, com 46 letras, é a Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico,
que descreve o indivíduo que possui doença pulmonar causada pela inspiração de
cinzas vulcânicas.
Apesar do tamanho, está longe de
ser uma das maiores palavras do mundo.
João de Jesus Nunes
(In “O Olhanense”, de 15-11-2022)