21 de novembro de 2022

PEDRA, PAPEL OU TESOURA

 

Longe vão os tempos em que os da minha geração, aí por meados dos anos cinquenta do século passado, em plena rua, de piso térreo ou então já com calcetamento em paralelepípedo, que se iniciara na Rua Vasco da Gama, Avenida Salazar (hoje Avenida 25 de Abril), junto à Escola Industrial e Comercial Campos Melo, e quintas onde viviam as famílias Carrola e, mais abaixo, os irmãos Lobo, onde hoje existe o antigo Liceu (Escola Frei Heitor Pinto) e também junto à Cadeia, se jogava com uma bola de farrapos ou de borracha. Fazia-se uma paragem sempre que surgisse a polícia, ou, outras vezes, quando tivesse de passar uma viatura, uma motorizada, ou mesmo uma carroça. As balizas eram então feitas com duas pedras e árbitro não havia, o que gerava muitas vezes discussão sobre a dúvida de a bola ter entrado ou não na idealizada baliza.

Havia então que escolher os jogadores (cinco ou mais para cada equipa), seguindo-se, quando não houvesse entendimento, ou assim se julgasse oportuno, o método do jogo de mãos, recreativo e simples entre dois ou mais dos que pretendiam jogar à bola, que não requeria qualquer equipamento ou mesmo habilidade. Era esta uma forma de seleção, que se baseava exclusivamente em sorte, e assim “pedra-papel-tesoura” poderia ser jogado com um pouco de habilidade se este se estendesse por vários turnos com o mesmo jogador, podendo o mesmo reconhecer e explorar a lógica do comportamento do adversário, percebendo e antecedendo as suas jogadas. Os jogadores tinham que simultaneamente esticar a mão, que era colocada atrás das costas e puxada para a frente em simultâneo, através da qual cada um formava um símbolo que significa pedra (mão fechada), papel (mão aberta) e tesoura (os dois dedos da mão, indicador e médio). Os jogadores comparam então os símbolos para decidir quem ganhou, da seguinte forma: a pedra ganha da tesoura (amassando-a ou quebrando-a), a tesoura ganha do papel (cortando-o), e o papel ganha da pedra (embrulhando-a). Este método para escolher os companheiros para um jogo, podia também ser utilizado para saber quem iniciaria outra brincadeira qualquer.

Durante os intervalos das aulas do Ciclo Preparatório, um dos colegas começa a dizer muito rapidamente a palavra otorrinolaringologista e desafiava os outros colegas para que conseguissem pronunciá-la rapidamente. Na mesma altura, no filme português A Canção de Lisboa, com o ator Vasco Santana, no seu exame da faculdade, estabelece um diálogo bastante icónico com os examinadores, ao responder à pergunta, “Qual é o principal músculo latro-flexor do pescoço?”, com a resposta: “É o esternocleidomastóideo”. Estes filmes só se viam nos vários Centros Recreativos da FNAT (hoje INATEL) que existiam na Covilhã, já que a televisão só viria a surgir em Portugal em 1957.

Vem assim a propósito trazer algumas das maiores palavras da língua portuguesa, a saber:

- Inconstitucionalissimamente (27 letras) – Sinónimo de anticonstitucionalissimamente.

- Oftalmotorrinolaringologista (28 letras) – Profissional especializado nas doenças dos olhos, ouvidos, nariz e garganta.

- Anticonstitucionalissimamente (29 letras) – Maior advérbio da língua portuguesa, significa o mais alto grau de inconstitucionalidade.

Entre outras, a maior palavra da língua portuguesa, registada no dicionário Houaiss em 2001, com 46 letras, é a Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico, que descreve o indivíduo que possui doença pulmonar causada pela inspiração de cinzas vulcânicas.

Apesar do tamanho, está longe de ser uma das maiores palavras do mundo.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 15-11-2022)

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